Embora em um relato de dez casos de crianças com doença pelo novo coronavírus (Covid-19), os sintomas tenham sido leves e nenhuma criança tenha precisado de suporte ventilatório ou cuidados intensivos, oito desses pacientes tiveram swabs retais positivos para Covid-19, mesmo após o swab nasofaríngeo ser negativo, aumentando a possibilidade de transmissão fecal-oral.
Essa é a conclusão do estudo Characteristics of pediatric SARS-CoV-2 infection and potential evidence for persistent fecal viral shedding, publicado em 13 de março de 2020 na Nature Medicine.
Resumo do artigo
Nesse artigo, Xu e colaboradores relataram as características epidemiológicas e clínicas de dez crianças infectadas pelo Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) e testadas quanto a evidências de excreção pelos tratos gastrointestinal e respiratório.
Até o último dia 20, um grupo de 745 crianças e 3.174 adultos (em que a maioria teve contato próximo com pacientes diagnosticados ou possuía membros da família relatando surtos nas 2 semanas anteriores) foram rastreados por reação em cadeia da polimerase — transcriptase reversa (reverse transcription polymerase chain reaction – RT-PCR) em tempo real em swab nasofaríngeo para infecção por SARS-CoV-2.
Resultados
Nesse grupo, dez crianças (1,3%) e 111 adultos (3,5%) apresentaram resultado positivo. A diferença de 2,7 vezes entre crianças e adultos foi estatisticamente significativa (p = 0,002). Todos os dez pacientes pediátricos foram admitidos no Guangzhou Women and Children’s Medical Center, um centro de tratamento para infecção por SARS-CoV-2 designado pelo governo municipal local, em Guangzhou, Província de Guangdong, na China. Nenhuma dessas dez crianças apresentou sintomas graves. O paciente 4 foi assintomático. Os pesquisadores relataram que nenhuma dessas crianças procurou atendimento médico; elas foram todas identificadas e diagnosticadas devido ao seu histórico de exposição.
Xu e colaboradores acompanharam o padrão de excreção viral das vias respiratórias e trato gastrointestinal em todos os dez pacientes por uma série cronológica de amostras de swab nasofaríngeo e retal, usando RT–PCR em tempo real. O paciente 4 era assintomático, mas apresentou exames positivos em múltiplas ocasiões. O paciente 6 estava assintomático no dia em que o seu swab nasofaríngeo foi positivo e desenvolveu congestão nasal e rinorreia no dia seguinte.
Os oito pacientes restantes tiveram testes positivos logo após o início dos sintomas. Além disso, oito dos dez pacientes também tiveram swabs retais positivos para RT-PCR em tempo real, sugerindo potencial excreção viral fecal. Ademais, oito dos dez pacientes (pacientes 1-6, 8 e 10) demonstraram testes RT-PCR em tempo real persistentemente positivos de swabs retais, após o teste nasofaríngeo ter se tornado negativo.
Conclusão
O estudo de Xu e colaboradores sugere que o trato gastrointestinal pode liberar vírus e que a transmissão fecal-oral pode ser possível. De fato, a transmissão fecal-oral existe com outros vírus respiratórios. Esses achados também sugerem que o swab retal pode ser mais útil que swab nasofaríngeo para julgar a eficácia do tratamento e determinar o momento do término da quarentena.
Todavia, os pesquisadores destacam que não há evidências de replicação de vírus competentes, o que é necessário para confirmar o potencial de transmissão fecal-oral.
Referência Bibliogáfica:
- Xu, Y., Li, X., Zhu, B. et al. Characteristics of pediatric SARS-CoV-2 infection and potential evidence for persistent fecal viral shedding. Nat Med (2020). https://doi.org/10.1038/s41591-020-0817-4
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