No mundo todo, o mês de setembro foi eleito para fortalecer a conscientização sobre a relevância do diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil, através da figura de um laço dourado. Com o intuito de informar sobre o tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou, em 1° de setembro de 2021, o documento “Setembro é dourado – A Sociedade Brasileira de Pediatria é parceira nesta causa”, preparado pelo Departamento Científico de Oncologia da SBP.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa é de 8.460 casos novos de câncer infantojuvenil para o triênio 2020-2022 no Brasil, sendo 4.310 para o sexo masculino e 4.150 para o sexo feminino. Esses números equivalem a um risco estimado de 137,87 casos novos por milhão no sexo masculino e de 139,04 por milhão para o sexo feminino.
Vale lembrar que, nas últimas décadas, mudanças nas causas de morbidade e mortalidade associadas a transformações demográficas, sociais e econômicas vêm ocorrendo no país. As mortes por câncer entre crianças, adolescentes e adultos jovens representam a segunda causa de óbito. No entanto, esse parâmetro pode ser diferente conforme a região. Lamentavelmente, muitos pacientes ainda não são encaminhados aos centros de tratamento em vigência de doença avançada. Daí a importância da campanha “Setembro Dourado”.
Tipos de câncer mais frequentes em pediatria
Em crianças e adolescentes, as neoplasias malignas mais comuns são diferentes das que ocorrem tipicamente no paciente adulto quanto à evolução, topografia e histologia e tendem, em geral, a:
- Exibir períodos menores de latência;
- Crescer, quase sempre, de forma rápida;
- Ser invasivas;
- Ter melhor resposta à quimioterapia.
Os tipos histológicos mais frequentes de câncer infantojuvenil são as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas.
Prevenção do câncer infantojuvenil
Com relação a prevenção, o documento enfatiza que não existem, até o presente momento, evidências científicas que demonstrem que fatores de risco ambientais relacionados ao estilo de vida estejam associados ao câncer infantojuvenil. Além disso, alterações genéticas que possam favorecer o desenvolvimento de um determinado tipo de câncer em pacientes pediátricos são raras (na maioria das vezes, não há relato de história familiar e/ou de associações com alterações genéticas ou congênitas). Todavia, o retinoblastoma apresenta origem genética em 40% dos casos (nessa situação, é essencial realizar aconselhamento genético).
Dessa forma, é crucial informar sobre a importância da identificação precoce do câncer, com o objetivo de melhorar as chance de cura, de sobrevida e de qualidade de vida desses pacientes. Apesar de ser raramente possível prevenir a ocorrência do câncer em pediatria, o pediatra deve sempre aconselhar a família com relação aos fatores de risco para o desenvolvimento de câncer na vida adulta. As orientações incluem:
- Incentivar a família a evitar o fumo;
- Estimular o aleitamento materno e adotar uma dieta balanceada, por meio de alimentos pobres em gordura, ricos em fibras, isentos de aflatoxinas, nitritos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos;
- Manter o peso adequado;
- Reduzir as infecções com agentes carcinogênicos, como bactéria Helicobacter, vírus da hepatite B, vírus Epstein Barr, HPV tipo 16 e 18, HIV e HTLV1, entre outros;
- Evitar exposição excessiva ao sol e a radiações;
- Evitar o sedentarismo e a ingestão de bebidas alcoólicas;
- Fornecer noções de higiene;
- Orientar sobre exposições ocupacionais, como benzeno, amianto, agrotóxicos e outras.
Manifestações clínicas que servem de alerta para o câncer infantojuvenil
Comumente, o quadro clínico do câncer infantojuvenil é muito inespecífico, sendo frequente o paciente pediátrico não se apresentar com estado geral comprometido no início da doença. O pediatra deve estar atento aos seguintes sinais e sintomas:
- Leucocoria;
- Estrabismo, nistagmos de início repentino;
- Exoftalmia, equimose palpebral, heterocromia, anisocromia;
- Aumento de volume em qualquer região do corpo, principalmente indolor e sem febre, podendo estar associado ou não a sinais inflamatórios;
- Equimoses pelo corpo em regiões pouco frequentes, sobretudo quando não associadas a algum tipo de trauma;
- Dores persistentes nos ossos, nas articulações e nas costas, especialmente se desperta a criança à noite, associadas ou não a edema, massa ou limitação funcional;
- Fraturas, sem trauma;
- Sinais precoces de puberdade: acne, voz grave, ganho excessivo de peso, pelos pubianos ou aumento do volume mamário nas meninas menores de 8 anos de idade e nos meninos menores de 9 anos de idade;
- Cefaleia persistente e progressiva, associada ou não a vômitos, diabetes insipidus, neurofibromatose, alterações na marcha, no equilíbrio e na fala, além de perda de habilidades desenvolvidas e alterações comportamentais;
- Febre prolongada, perda de peso, palidez ou fadiga persistentes e inexplicadas;
- Prurido/sudorese noturna;
- Aumento inexplicado de volume testicular;
- Dor abdominal/massa abdominal;
- Hematúria, hipertensão arterial inexplicadas por outras causas;
- Hepatoesplenomegalia;
- Dor nas costas, que piora na posição supina, com ou sem sinais de compressão medular;
- Nevos com modificação de características prévias em áreas de exposição solar ou de atrito;
- Obstrução nasal, sangramentos inexplicados;
- Otalgia crônica e/ou otorreia crônica, especialmente se associada a dermatite seborreica;
- Sangramento vaginal;
- Tosse seca e persistente, edema de face e turgência de jugular inexplicadas;
- Linfonodomegalia cervical baixa em adolescente;
- “Dor de dente” rebelde ao tratamento.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico definitivo é feito através de exame cito ou histopatológico de uma amostra da lesão ou do tumor.
O tratamento é iniciado conforme o diagnóstico e engloba diversas modalidades, como quimioterapia, radioterapia, cirurgia, imunoterapia, transplante de medula óssea ou de órgãos.
Idealmente, diagnóstico e tratamento devem ser conduzidos em centro especializado em oncologia pediátrica, por equipe interprofissional e individualizado para cada tipo histológico específico e segundo o estadiamento da doença.
Saiba mais: Medicamento para tratamento de câncer infantil é incorporado ao SUS
Sobrevida
No Brasil, segundo estudo divulgado pelo INCA e Ministério da Saúde, supõe-se que a sobrevida do câncer em pacientes com idades entre 0 e 19 anos é de 64%. No entanto, esses números diferem conforme as regiões do país, retratando prováveis desigualdades no alcance ao diagnóstico e ao tratamento. No momento atual, aproximadamente 80% de crianças e adolescentes com câncer podem ser curados, se diagnóstico e tratamento forem feitos em centros especializados pediátricos com protocolos cooperativos.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.