Skincare infantil e TikTok: influenciadores mirins são benéficos para crianças?

Nos últimos dez anos, crianças e adolescentes ganharam amplo acesso a tecnologias digitais e plataformas de mídia social orientadas por algoritmos, como, por exemplo, o TikTok, levantando preocupações sobre os impactos do conteúdo online na saúde infantil. Infelizmente, uma tendência crescente envolve meninas de até sete anos exibindo rotinas de cuidados com a pele em diversas etapas, muitas vezes apresentando produtos antienvelhecimento. Esses vídeos podem parecer inofensivos, entretanto, produtos de cuidados pessoais destinados a adultos apresentam riscos de irritação e alergias de contato em crianças. O aumento da visibilidade desse conteúdo correlaciona-se com o aumento dos gastos com cuidados com a pele em famílias com crianças. A literatura médica ainda não havia avaliado a segurança desses vídeos. Um estudo publicado na Pediatrics analisou sistematicamente vídeos do TikTok sobre cuidados com a pele por criadores com 18 anos ou menos, com foco em menores de 13 anos, para avaliar o uso do produto, custos, mensagens e potenciais implicações para a saúde da pele pediátrica e efeitos sociais mais amplos. 

Metodologia 

Declarando ter 13 anos, dois pesquisadores criaram, cada um, uma nova conta no TikTok. A aba “For You” foi usada para visualizar conteúdo relevante até que 100 vídeos exclusivos sobre regimes de skincare fossem compilados. Os vídeos foram coletados durante os meses de abril e maio de 2024, com datas de publicação variando de 4 de janeiro de 2023 a 30 de abril de 2024. Posteriormente, foram coletados dados demográficos dos criadores de conteúdo, número e tipos de produtos utilizados e o custo total dos regimes de skincare. A partir daí, foi criada uma lista de produtos utilizados e seus ingredientes ativos e inativos pelo método de busca externa Pediatric Baseline Series para identificar potenciais alérgenos de contato em todos os produtos. O Pediatric Baseline Series consiste em um painel de 38 ingredientes comumente usados em testes de contato e foi projetado para conter os alérgenos de maior rendimento para crianças de 6 a 18 anos. Foram excluídos vídeos envolvendo apenas o uso de cosméticos. 

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Resultados 

Foram identificados 100 vídeos de 82 criadores, cujas idades variou de 7 a 18 anos, sendo que aproximadamente um terço (31%) dos vídeos foram criados por crianças com 13 anos ou menos, enquanto 69% eram de criadores com 14 anos ou mais. Com exceção de somente um criador, todas as outras eram meninas. 

Os vídeos mostravam uma média de seis produtos com um custo médio de US$ 168/regime. Somente um quarto (26,2%) dos vídeos que mostravam rotinas diurnas de cuidados com a pele incluíam o uso de protetor solar. O número de visualizações dos vídeos variou de 663 a 17,1 milhões, com uma média de 1,1 milhão de visualizações por vídeo.  

Os 25 vídeos mais assistidos continham uma média de 11 e um máximo de 21 ingredientes ativos potencialmente irritantes. Os ingredientes ativos incluem qualquer um dos seguintes: AHAs (ácido cítrico, ácido glicólico, ácido láctico, ácido mandélico, ácido tartárico), ácido ascórbico (vitamina C), ácido azelaico, ácido ferúlico, ácido hialurônico, BHAs (ácido salicílico, salicilato de betaína), cafeína, gluconolactona, niacinamida, pantenol (vitamina B5), PHAs (gluconolactona, ácido lactobiônico), retinol, tocoferol (vitamina E) e ácido tranexâmico. 

Conclusão 

Os pesquisadores mostraram que vídeos sobre cuidados com a pele pediátrica no TikTok oferecem poucos benefícios para as crianças e podem expô-las a danos. Neles, há diversos produtos que exigem muito tempo para aplicar e têm um custo médio total elevado de US$ 168, refletindo e podendo amplificar padrões de beleza inatingíveis e preconceitos de idade, enquanto expõem as crianças a alergias e danos causados pelo sol. 

Comentários 

Apesar de cultural, a promoção de produtos para a pele infantil pode até parecer inofensiva, mas não oferece benefícios reais para o público-alvo, e pode, de fato, representar riscos à saúde física e mental de crianças e adolescentes. Incentivar tais práticas desde cedo é preocupante, pois incentiva o consumismo desnecessário e pode culminar em potenciais danos em curto e em longo prazo.