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Pediatria26 março 2025

O caso da “tiktok-olite”: o perigo do uso de redes sociais por adolescentes

Estudo abordou os perigos da influência do TikTok no manejo domiciliar de condições clínicas que requerem avaliação médica
Por Jôbert Neves

Nos últimos anos, o uso das redes sociais tem se tornado cada vez mais presente na vida das crianças escolares e dos adolescentes. Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube oferecem acesso irrestrito a informações de todo tipo, incluindo conteúdos relacionados à saúde. No entanto, sem supervisão adequada, esses jovens podem ser expostos a sugestões de terapias para manejo “caseiro” de condições que requerem uma avaliação médica, sem embasamento científico, colocando sua saúde em risco. 

O caso da “TikTok-olite” 

Um exemplo alarmante desse fenômeno foi documentado no artigo “Proctocolite ou TikTok-olite: os perigos da influência das redes sociais no manejo domiciliar da constipação”, publicado no Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition (JPGN). O estudo relata o caso de uma adolescente de 17 anos que, ao seguir uma recomendação vista no TikTok, utilizou uma solução caseira de peróxido de hidrogênio, a clássica água oxigenada, como enema para tratar sua constipação. O resultado foi uma grave inflamação do reto e do cólon, levando à hospitalização e à necessidade de tratamento médico intensivo. 

O peróxido de hidrogênio causa danos celulares por meio da liberação de espécies reativas de oxigênio, levando a lesões da mucosa intestinal. Além disso, a pressão transintestinal pode comprometer a perfusão da mucosa, agravando a inflamação e aumentando o risco de complicações graves, podendo em alguns casos gerar perfuração intestinal. 

Veja também: EAPS 2024: TikTok e saúde mental de crianças e adolescentes

Os riscos das “trends” virais 

O caso acima exemplifica o grande perigo das chamadas “trends virais” em redes sociais, onde desafios e recomendações médicas não comprovadas podem se espalhar rapidamente entre adolescentes. Diferentemente de um ambiente regulado, como consultas médicas e materiais educativos validados por sociedades médicas ou instituições de saúde, as redes sociais não possuem filtros para informações incorretas, tornando os jovens vulneráveis a práticas prejudiciais à saúde. 

Entre os principais riscos associados ao consumo de informações médicas nas redes sociais sem supervisão, podemos destacar: 

  • Falta de embasamento científico: Muitas informações são propagadas sem qualquer validação por especialistas. 
  • Autodiagnóstico e automedicação: Adolescentes podem seguir recomendações inadequadas para tratar doenças sem consultar um profissional de saúde. 
  • Influência de figuras não qualificadas: Influenciadores digitais muitas vezes disseminam conteúdos sobre saúde sem conhecimento técnico suficiente. 
  • Exposição a práticas potencialmente perigosas: Como demonstrado no caso da TikTok-olite, alguns desafios podem levar a internações e complicações médicas graves. 

A importância da supervisão e da educação digital 

Diante desse cenário, é fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos ao consumo de redes sociais pelos adolescentes. Algumas estratégias importantes incluem: 

  1. Diálogo aberto: Incentivar conversas sobre o que os adolescentes assistem e acreditam ser verdadeiro nas redes sociais. 
  2. Verificação de fontes: Ensinar os jovens a buscar informações em sites confiáveis e validados por profissionais de saúde. 
  3. Monitoramento do uso: Estabelecer limites saudáveis para o tempo e o tipo de conteúdo consumido nas redes sociais. 
  4. Educação digital: Incluir nas escolas programas que abordem pensamento crítico e segurança digital, ajudando os adolescentes a discernir informações falsas de verdadeiras. 

Conclusão 

O caso da TikTok-olite é um alerta para os perigos do consumo indiscriminado de informações de saúde nas redes sociais. Sem supervisão, os adolescentes estão sujeitos a práticas médicas perigosas e podem sofrer consequências graves. É papel de todos – pais, médicos, educadores e da sociedade – garantir que esses jovens tenham acesso a informações confiáveis e seguras, prevenindo danos à saúde e promovendo o uso responsável das mídias digitais. 

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Referências bibliográficas

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