Nos últimos anos, o uso das redes sociais tem se tornado cada vez mais presente na vida das crianças escolares e dos adolescentes. Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube oferecem acesso irrestrito a informações de todo tipo, incluindo conteúdos relacionados à saúde. No entanto, sem supervisão adequada, esses jovens podem ser expostos a sugestões de terapias para manejo “caseiro” de condições que requerem uma avaliação médica, sem embasamento científico, colocando sua saúde em risco.
O caso da “TikTok-olite”
Um exemplo alarmante desse fenômeno foi documentado no artigo “Proctocolite ou TikTok-olite: os perigos da influência das redes sociais no manejo domiciliar da constipação”, publicado no Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition (JPGN). O estudo relata o caso de uma adolescente de 17 anos que, ao seguir uma recomendação vista no TikTok, utilizou uma solução caseira de peróxido de hidrogênio, a clássica água oxigenada, como enema para tratar sua constipação. O resultado foi uma grave inflamação do reto e do cólon, levando à hospitalização e à necessidade de tratamento médico intensivo.
O peróxido de hidrogênio causa danos celulares por meio da liberação de espécies reativas de oxigênio, levando a lesões da mucosa intestinal. Além disso, a pressão transintestinal pode comprometer a perfusão da mucosa, agravando a inflamação e aumentando o risco de complicações graves, podendo em alguns casos gerar perfuração intestinal.
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Os riscos das “trends” virais
O caso acima exemplifica o grande perigo das chamadas “trends virais” em redes sociais, onde desafios e recomendações médicas não comprovadas podem se espalhar rapidamente entre adolescentes. Diferentemente de um ambiente regulado, como consultas médicas e materiais educativos validados por sociedades médicas ou instituições de saúde, as redes sociais não possuem filtros para informações incorretas, tornando os jovens vulneráveis a práticas prejudiciais à saúde.
Entre os principais riscos associados ao consumo de informações médicas nas redes sociais sem supervisão, podemos destacar:
- Falta de embasamento científico: Muitas informações são propagadas sem qualquer validação por especialistas.
- Autodiagnóstico e automedicação: Adolescentes podem seguir recomendações inadequadas para tratar doenças sem consultar um profissional de saúde.
- Influência de figuras não qualificadas: Influenciadores digitais muitas vezes disseminam conteúdos sobre saúde sem conhecimento técnico suficiente.
- Exposição a práticas potencialmente perigosas: Como demonstrado no caso da TikTok-olite, alguns desafios podem levar a internações e complicações médicas graves.
A importância da supervisão e da educação digital
Diante desse cenário, é fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos ao consumo de redes sociais pelos adolescentes. Algumas estratégias importantes incluem:
- Diálogo aberto: Incentivar conversas sobre o que os adolescentes assistem e acreditam ser verdadeiro nas redes sociais.
- Verificação de fontes: Ensinar os jovens a buscar informações em sites confiáveis e validados por profissionais de saúde.
- Monitoramento do uso: Estabelecer limites saudáveis para o tempo e o tipo de conteúdo consumido nas redes sociais.
- Educação digital: Incluir nas escolas programas que abordem pensamento crítico e segurança digital, ajudando os adolescentes a discernir informações falsas de verdadeiras.
Conclusão
O caso da TikTok-olite é um alerta para os perigos do consumo indiscriminado de informações de saúde nas redes sociais. Sem supervisão, os adolescentes estão sujeitos a práticas médicas perigosas e podem sofrer consequências graves. É papel de todos – pais, médicos, educadores e da sociedade – garantir que esses jovens tenham acesso a informações confiáveis e seguras, prevenindo danos à saúde e promovendo o uso responsável das mídias digitais.
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