Essa semana no Portal da PEBMED falamos sobre o alerta de sarampo no Brasil, com novos casos da doença pelo país. Por isso, em nossa publicação semanal de conteúdos compartilhados do Whitebook Clinical Decision, separamos as orientações para o manejo do paciente com sarampo.
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Definição: Doença exantemática viral causada pelo vírus do sarampo, que é um vírus de RNA de única hélice da família Paramyxoviridae, do gênero Morbillivirus.
Fisiopatologia: É transmitido através do contato com gotas grandes ou pequenos aerossois de gotículas nos quais o vírus fica suspenso por até 1 hora, tendo como porta de entrada o trato respiratório ou conjuntiva. A transmissão ocorre a partir de 3 dias antes do surgimento da erupção até 4-6 dias após seu início. A viremia decorrente da infecção provoca uma vasculite generalizada. É mais comum no verão e na primavera.
Apresentação clínica
Há 4 períodos bem definidos: período de incubação, período prodrômico ou catarral, período exantemático e período de convalescença ou de descamação furfurácea.
Incubação: Vírus migra para os linfonodos regionais. A viremia primária dissemina o vírus para o sistema reticuloendotelial. A viremia secundária dissemina o vírus para as superfícies do corpo.
Período prodrômico ou catarral: ocorre após a viremia secundária e está associada à necrose epitelial e formação de células gigantes nos tecidos corporais. Tem duração de 6 dias: no início da doença, surge febre alta, tosse produtiva, secreção nasal seromucosa, conjuntivite e fotofobia. Nas últimas 24 horas deste período, surge, na altura dos pré-molares, as manchas de Koplik (pequenas manchas brancas com halo eritematoso, consideradas sinal patognomônico do sarampo).
Período exantemático: A produção de anticorpos começa enquanto a replicação viral diminui. Os sintomas da fase anterior ficam acentuados, com prostração importante do paciente e surgimento do exantema característico: maculopapular, de cor avermelhada, com distribuição em sentido céfalo-caudal, que surge na região retro-articular e face. De 2 a 3 dias depois, estende-se ao tronco e as extremidades, persistindo por 5-6 dias.
Período de convalescença ou de descamação furfurácea: último período, quando as manchas tornam-se escurecidas e surge descamação fina, lembrando farinha.
Pode complicar com pneumonia, crupe, traqueíte, bronquiolite, OMA, diarreia, convulsão febril, encefalite, panencefalite esclerosante subaguda e, de forma mais rara, miocardite.
Abordagem diagnóstica
O diagnóstico se baseia em achados clínicos e epidemiológicos com confirmação através da dosagem de IgM que surge 1-2 dias após o início da erupção e continua detectável por cerca de 1 mês.
Os achados laboratoriais na fase aguda incluem leucopenia total com redução dos linfócitos maior do que a dos neutrófilos (linfocitose relativa).
Cultura do vírus: Realizada a partir de amostras de urina, pode ser útil para confirmação diagnóstica em pacientes imunodeprimidos que não apresentam conversão sorológica.
Outros exames: Podem ser necessários para avaliação de complicações do sarampo. Incluem: radiografia de tórax (avaliação de pneumonia bacteriana) e punção lombar (avaliação de encefalite viral, com os achados: aumento de proteína, glicorraquia normal, pleocitose leve com predomínio de linfócitos).
Marcadores inflamatórios: No sarampo não complicado por infecção bacteriana, os valores de VHS e PCR são normais.
Diagnóstico diferencial
- Rubéola;
- Escarlatina;
- Dengue;
- Sífilis secundária;
- Infecção por adenovírus;
- Infecção por parvovírus B19 (eritema infeccioso);
- Exantema súbito;
- Mononucleose infecciosa;
- Doença de Kawasaki;
- Infecção por enterovírus;
- Infecção por Mycoplasma pneumoniae;
- Farmacodermia;
- Eventos adversos à vacina.
Acompanhamento
Indicações de internação hospitalar: Pacientes com complicações graves, incluindo superinfecção bacteriana, pneumonia, desidratação, laringite, encefalomielite.
Nas crianças de 6 meses a 2 anos de idade hospitalizadas com sarampo e suas complicações, é importante fazer doses de vitamina A, pois estudos mostram que tal uso gera taxas reduzidas de morbidade e mortalidade decorrentes de sarampo.
- A suplementação de vitamina A é indicada na seguinte dosagem:
- Crianças menores de 6 meses: 50.000 UI/dia, VO, por 2 doses;
- Crianças de 6 a 12 meses: 100.000UI, VO, em aerossol, por 2 doses;
- Crianças de 1 ano ou mais: 200.000UI, VO, em cápsula ou aerossol, por 2 doses.
Nos pacientes internados, é importante manter precaução padrão e de disseminação aérea durante o período de transmissão.
Abordagem terapêutica
O tratamento é de suporte. A terapia antiviral não é eficaz em pacientes normais.
Para pacientes com envolvimento do trato respiratório, a umidificação da via respiratória e oxigênio suplementar podem ser benéficos.
A insuficiência respiratória causada por crupe ou pneumonia pode exigir suporte ventilatório.
A reidratação oral é eficaz na maioria dos casos, mas se houver desidratação grave pode ser necessária hidratação venosa.
Não está indicada profilaxia com antimicrobianos para evitar infecção bacteriana.
Profilaxia
A vacinação é extremamente importante e é feita em dose única aos 12 meses de idade na forma de tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). Com 4-6 anos há necessidade de reforço da vacina.
É possível fazer vacinação de bloqueio a partir da notificação de casos suspeitos ou de surtos, envolvendo o grupo de 6 meses a 39 anos de idade, seletivamente.
Imunoglobulina humana:
- Realizar no período de até 6 dias da exposição nos seguintes grupos (pacientes não vacinados/imunizados):
- Pacientes imunocomprometidos;
- Lactentes entre 6 meses e 1 ano;
- Lactentes menores de 6 meses nascidos de mães não imunes ao sarampo;
- Mulheres grávidas.
- Doses da imunoglobulina:
- Pacientes com contraindicação temporária para vacinação (exemplo: mulheres grávidas): 0,25 mL/kg (máximo de 15 mL) IM. Vacinar 6 meses depois;
- Pacientes com contraindicação mais permanente para vacinação (exemplo: pacientes com imunossupressão crônica): 0,5 mL/kg (máximo de 15 mL) IM.
Fazer precaução respiratória para crianças no período de transmissibilidade (3-5 dias antes do aparecimento do exantema até 4 dias depois do aparecimento do exantema). Em paciente imunocomprometidos, realizar a precaução respiratória durante todo o período de doença, uma vez que esses pacientes podem transmitir o vírus por um período de tempo mais prolongado.
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