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Pediatria6 novembro 2024

Proteína C-reativa no tratamento para infecções ITRI infantil

A PCR seria suficiente para orientar a terapia antimicrobiana nas infecções do trato respiratório inferior entre crianças?

As infecções do trato respiratório inferior (ITRI) continuam sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade em crianças de 2 a 59 meses. No entanto, ainda não dispomos de marcadores confiáveis para distinguir as ITRI de etiologia viral das bacterianas, especialmente nos casos de apresentação não grave, que recebem tratamento ambulatorial. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o diagnóstico e o tratamento de ITRI não graves em países de baixa e média renda sejam baseados na presença de tosse e taquipneia, conforme as referências específicas para cada faixa etária, sem a necessidade de confirmação radiológica. Ainda assim, é importante compreender que, mesmo os achados radiográficos, não conseguem diferenciar com precisão as infecções de etiologia viral das bacterianas. 

Essa diferenciação é essencial não só para o cuidado individual, mas também para a saúde pública, uma vez que as altas taxas de resistência bacteriana representam um problema global crescente. 

Investigando esse tema, pesquisadores americanos e africanos conduziram um estudo randomizado para avaliar se os níveis de proteína C reativa (PCR) poderiam auxiliar em um diagnóstico mais preciso das ITRI de origem bacteriana 

Leia mais: Proteína C reativa (PCR): o que saber para a prática clínica

PCR

Metodologia 

O estudo incluiu crianças de 15 vilarejos em Uganda, África. Os critérios de inclusão foram: idade entre 2 e 59 meses, febre aferida ou referida nos últimos sete dias e presença de taquipneia ou tosse. 

Os vilarejos foram utilizados como clusters para a randomização, de modo que, mensalmente, alternavam entre grupos controle e intervenção. Assim, todos os vilarejos participaram, em algum momento, de cada grupo do estudo. 

Os trabalhadores de saúde receberam treinamento para utilizar um corte predefinido de PCR (método semiquantitativo), orientando que crianças com valores de PCR ≥ 40 mg/L recebessem prescrição de amoxicilina por cinco dias, enquanto aquelas com valores < 40 mg/L recebessem orientações sobre hidratação e uso de antipiréticos. Todos os pacientes foram reavaliados após sete dias da consulta inicial. 

Diversos desfechos primários e secundários foram avaliados, incluindo o uso de antibióticos — se o tratamento foi iniciado na consulta inicial ou em uma visita subsequente —, além de desfechos como febre persistente no sétimo dia de doença, surgimento de sinais de alarme, necessidade de consultas adicionais antes do período estipulado, hospitalização e morte. 

Resultados 

Os participantes foram recrutados entre novembro de 2021 e maio de 2022, totalizando 1.220 crianças. 

Os investigadores observaram uma redução de 25% na prescrição de antimicrobianos para o tratamento de ITRI no grupo que utilizou a PCR. Importante destacar que essa redução não foi acompanhada por uma maior frequência de desfechos negativos. 

Embora o benefício de reduzir o uso de antibióticos e, possivelmente, as taxas de resistência bacteriana seja significativo, avaliar o custo-efetividade dessa estratégia ainda é um desafio, dada a dificuldade de mensurar esses impactos. 

Outro aspecto importante é que essa abordagem exige a coleta de sangue de todas as crianças com critérios clínicos para ITRI, o que pode causar desconforto e sobrecarregar as equipes de atendimento. 

Veja também: Proteção contra infecção do trato respiratório inferior causada pelo VSR em bebês

Conclusões 

Os autores concluíram que a avaliação do PCR foi eficaz em reduzir o uso de antibióticos sem impactar negativamente os desfechos clínicos. No entanto, são necessários mais estudos para confirmar esses achados e assegurar que não há aumento no risco de complicações. 

Comentários 

A utilização de diferentes métodos para avaliar a proteína C reativa gera variações nos valores de referência, o que naturalmente dificulta a aplicação prática desses resultados na clínica. 

Esse tema deve ser foco de futuras pesquisas, incluindo a avaliação de outros biomarcadores, dado que se trata de uma situação clínica comum em emergências. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos representa um importante desafio de saúde pública. 

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Referências bibliográficas

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