Com a queda das taxas de vacinação e o crescimento da incidência de doenças imunopreveníveis,1,2 ocorridas nos últimos anos, o pediatra passou a ser fundamental na disseminação de conhecimentos a respeito do tema. É papel desse profissional manter-se atualizado sobre as principais vacinas disponíveis, suas indicações e contraindicações e seus mecanismos de ação, contribuindo, assim, com a vacinação de seus pacientes.3 Ter acesso a essas informações faz toda a diferença na hora de indicar as vacinas, além de colaborar no poder de convencimento do pediatra frente a dúvidas e recusas por parte dos familiares.3
Entre as doenças que podem acometer as crianças, a doença meningocócica e a covid-19 destacam-se, em razão da gravidade potencial do quadro e de suas complicações. Além disso, são doenças que apresentam imunizações disponíveis que permitem a redução dos quadros graves e fatais.4,5
Dessa forma, esse texto traz uma revisão a respeito da vacina meningocócica quadrivalente (Meningo ACWY) e da vacina de mRNA para a prevenção de covid-19.
Doença meningocócica e prevenção com a vacina quadrivalente
A Neisseria meningitidis é uma bactéria diplococo gram-negativo, sendo um patógeno obrigatoriamente humano.4,6,7 Pode colonizar o trato respiratório, levando a um quadro completamente assintomático,6 mas eventualmente pode invadir a mucosa local, resultando em quadros extremamente graves, especialmente bacteremia e meningite, classificadas como doenças meningocócicas invasivas.6,7 A doença meningocócica invasiva é um quadro com altas taxas de mortalidade e morbidade, podendo levar a sequelas graves de longo prazo nos sobreviventes.6 Crianças pequenas, sobretudo lactentes menores de um ano de idade, apresentam risco aumentado para a doença meningocócica invasiva, principalmente devido à imaturidade do seu sistema imunológico.4,7
Doze sorotipos do meningococo são descritos.4 Os mais importantes clinicamente são os sorotipos A, B, C, W, X e Y, pois são associados à doença invasiva.4 No Brasil, em especial, o sorotipo C é o mais comum, seguido de doenças causadas pelos sorotipos B, W e Y.4
A proteção contra o meningococo por meio da vacinação é um dos principais pilares de saúde pública para controle da doença, sobretudo para prevenção dos quadros graves e das complicações em pacientes menores de 1 ano.4 A vacinação rotineira da população gera benefícios diretos para a criança vacinada e indiretos para a população não vacinada, uma vez que ajuda na formação de uma imunidade de rebanho, com potencial proteção até mesmo dos recém-nascidos através da passagem de anticorpos protetores pela via transplacentária, além de reduzir o risco de ser portador assintomático da bactéria.6
Apesar de existirem vários tipos de vacinas disponíveis, as mais indicadas, principalmente nas crianças pequenas, são as vacinas conjugadas, que comprovadamente conseguem induzir uma resposta imunológica mais satisfatória.4 Através da conjugação do oligossacarídeo meningocócico a uma proteína carreadora (como o toxoide tetânico, por exemplo), ocorre a indução de uma resposta imunológica dependente das células T.4,6 Essas vacinas conseguem gerar uma resposta imunológica satisfatória e duradoura, além da redução do estado de portador e, consequentemente, indução de uma imunidade de rebanho na população.4,6
As vacinas quadrivalentes apresentam um benefício adicional de realizar a proteção contra 4 sorotipos do meningococo: os sorotipos A, C, W e Y. A vacina quadrivalente associada ao toxoide tetânico (vacina meningocócica ACWY – conjugada) possui um perfil de segurança completamente aceitável,7 e está indicada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) como esquema vacinal aos 3 e 5 meses de idade, com doses posteriores de reforço aos 12 meses, 4-6 anos, 11-12 anos e 16 anos.8 Indivíduos que receberam esquema primário com vacinas conjugadas monovalentes ou com vacinas polissacarídeas também se beneficiam de receber uma dose de reforço com a meningocócica conjugada quadrivalente após 12 meses de vida.7
Os eventos adversos mais comuns da vacina quadrivalente associada ao toxoide tetânico incluem reações gerais e locais, como febre, cefaleia, dor no local da injeção, náuseas, vômitos e fadiga.7 Alguns eventos mais graves, como hiperpirexia e síncope, também são descritos, mas acontecem com raridade.7 Contraindicações para a realização da vacina incluem pessoas com doença febril aguda grave, pessoas com síncope e aquelas com trombocitopenia ou distúrbios de coagulação.7 Em indivíduos com imunossupressão como asplenia anatômica ou funcional, a vacina apresenta uma resposta imune semelhante a controles saudáveis.7
Uma preocupação com o uso das vacinas quadrivalentes é o potencial de mudança epidemiológica da doença meningocócica, com aumento de doenças causadas pelos outros sorotipos não incluídos na vacina, assim como ocorreu com a vacina pneumocócica, mas estudos apontam que essa situação não ocorreu até o momento.7 Assim, até o momento, não existem indícios da necessidade de produção de novas vacinas que incluam outros sorotipos, com exceção da vacina contra o meningococo B, que já está disponível e que cobre um sorotipo que também é envolvido em casos consideráveis da doença meningocócica.
Benefícios da vacinação no desafio da covid-19 pediátrica
A pandemia de covid-19 trouxe vários desafios para a saúde pública, causando pressão nos sistemas de saúde e milhões de óbitos. Em crianças e adolescentes, o quadro pode variar desde infecção assintomática até quadros graves, que incluem a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), insuficiência respiratória, choque hemodinâmico, encefalomielite disseminada aguda, insuficiência renal aguda e disfunção múltipla de órgãos, podendo evoluir com óbito.9
Crianças com menos de um ano e também aquelas com comorbidades (como pneumopatias crônicas, obesidade, diabetes, doença falciforme e neoplasias) apresentam maior risco de complicações e evolução para covid-19 grave.9
O vírus Sars-Cov-2, causador da doença, apresenta cinco diferentes proteínas estruturais, das quais uma delas, a proteína Spike (ou proteína S), possui importância significativa na infecção, sendo utilizada no mecanismo de algumas vacinas utilizadas para prevenção do quadro. A proteína S é a principal proteína envolvida na interação com o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2) do hospedeiro; a partir dessa interação, há entrada do vírus na célula do hospedeiro.10
A imunização é uma das principais formas de lidar com a doença. Várias vacinas foram desenvolvidas rapidamente durante o primeiro ano da pandemia, com potencial de prevenir a doença e limitar sua disseminação na comunidade.10 São hoje disponibilizadas amplamente no mundo, com impactos no controle da pandemia, suspensão das medidas de isolamento com retorno à normalidade do cotidiano e redução de casos graves e fatais.
Uma das vacinas disponíveis para a faixa pediátrica é a vacina contendo RNA mensageiro (mRNA) de cadeia simples, embebido em nanopartículas lipídicas, que codificam a proteína S do Sars-CoV-2.11 O mRNA não replicante entra nas células hospedeiras, permitindo a expressão transitória do antígeno S e gerando uma imunidade celular e humoral contra esse antígeno, possibilitando proteção contra a infecção do coronavírus.11,12 Estudos sugerem que a proteção oferecida pela vacina de mRNA contra a doença apresenta respostas da imunidade inata e de células T CD4+e CD8+ de longa duração, com imunidade cruzada significativa entre as diferentes variantes do vírus, principalmente quando realizado o esquema em 3 doses.10,12,13
Apesar de dúvidas relacionadas à duração da proteção vacinal contra a infecção pelo coronavírus, existem evidências de que há redução de hospitalizações relacionadas à doença com a vacinação, além de redução da incidência de SIM-P, quando são realizadas duas doses da vacina,5 com benefícios ainda maiores quando realizadas doses de reforço. Esquemas de três doses em crianças de 6 meses a 4 anos induzem boa produção de anticorpos neutralizantes, semelhante à de pessoas adultas, inclusive contra a variante Ômicron, com alta efetividade contra quadros sintomáticos e graves.13
Eventos adversos das vacinas de mRNA são temidos pela população e pelos próprios profissionais de saúde. O que se observa, porém, até o momento é que o perfil de segurança dessas vacinas é bastante semelhante a outras vacinas que existem no mercado, inclusive quando comparadas às vacinas para outras doenças. Os eventos mais comuns são considerados leves e relacionados a reações gerais e locais, como dor e edema local, cefaleia, mialgia, fadiga e calafrios.5,11,14 Os eventos de miocardite e pericardite relacionados à vacina são extremamente raros, tendo sido descritos em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, com taxas de relato menores em crianças de 5-11 anos do que em adolescentes de 12-17 anos.5,11,15 Os casos descritos geralmente são leves, com recuperação espontânea após um curto período de repouso e tratamento de suporte.11,15 Cabe ressaltar que casos de miocardite causadas pela covid-19 são mais comuns e geralmente mais graves do que as causadas pela vacinação.15
Conclusão
As vacinas para a doença meningocócica e para a covid-19 são seguras e eficazes para crianças e adolescentes e podem ser indicadas de rotina nessa população.
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CONTRAINDICAÇÃO: PREVENAR 13 ESTÁ CONTRAINDICADO PARA PACIENTES HIPERSENSÍVEIS A QUALQUER DOS COMPONENTES DA VACINA, INCLUINDO O TOXOIDE DIFTÉRICO. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: LACTENTES E CRIANÇAS COM 6 SEMANAS A 5 ANOS DE IDADE: PREVENAR 13 PODE SER ADMINISTRADO COM QUALQUER UMA DAS SEGUINTES VACINAS: VACINAS CONTRA DIFTERIA, TÉTANO E PERTUSSIS (DTP) OU DIFTERIA, TÉTANO E PERTUSSIS ACELULAR (DTPA); HAEMOPHILUS INFLUENZAE TIPO B (HIB); VACINA CONTRA POLIOMIELITE INATIVADA; HEPATITE B, HEPATITE A, VACINA MENINGOCÓCICA C (CONJUGADA); SARAMPO, CAXUMBA E RUBÉOLA (MMR), ROTAVÍRUS E VARICELA. PREVENAR 13 TAMBÉM PODE SER ADMINISTRADO CONCOMITANTEMENTE EM CRIANÇAS ENTRE 12-23 MESES DE IDADE COM A VACINA MENINGOCÓCICA SOROGRUPOS A, C, W E Y POLISSACARÍDEO CONJUGADA COM TOXOIDE TETÂNICO. ADULTOS COM 50 ANOS DE IDADE OU MAIS, PREVENAR 13 PODE SER ADMINISTRADO COM A VACINA INATIVADA TRIVALENTE E VACINA INATIVADA QUADRIVALENTE CONTRA INFLUENZA. |
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PP-UNP-BRA-4758 – Dezembro 2024
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