A enterocolite necrosante (NEC) é uma das doenças gastrointestinais mais graves na neonatologia, acometendo principalmente recém-nascidos prematuros com peso inferior a 1500 g. A fisiopatologia é complexa e multifatorial, envolvendo inflamação intestinal exacerbada, disbiose, hipóxia, fatores genéticos e ambientais. De forma objetiva, compartilhamos resultados de um artigo que revisa o entendimento atual da NEC, seus fatores de risco, estratégias preventivas, métodos diagnósticos e desafios futuros, com ênfase na necessidade de consenso global para definição e manejo.
O artigo de revisão que embasou essas evidências é uma revisão narrativa baseada em literatura recente sobre NEC. Para isso, foram analisados dados relacionados aos principais fatores de risco, mecanismos fisiopatológicos, estratégias preventivas, modalidades diagnósticas e abordagens terapêuticas. A perspectiva crítica busca identificar lacunas no conhecimento e propor caminhos para prevenção e diagnóstico precoce, além de discutir novas terapias e implicações para a prática clínica. Dentre os resultados apresentados, destacam-se os seguintes:
- Incidência e mortalidade: 5–10% em prematuros <1500 g; mortalidade 20–30%.
- Fatores de risco: Prematuridade, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), uso prolongado de antibióticos, ausência de leite materno, anemia, transfusões.
- Mecanismos:
- Disbiose intestinal por antibióticos prolongados.
- Ativação exacerbada de TLR4 e resposta inflamatória.
- Hipóxia intestinal por RCIU e anemia.
- Estresse oxidativo elevado em prematuros.
- Prevenção:
- Leite humano (materno ou doador) → fator mais consistente.
- Probióticos (L. rhamnosus GG, Bifidobacterium infantis, B. lactis, S. thermophilus).
- Suspensão precoce de antibióticos sem cultura positiva.
- Protocolos seguros para transfusão e monitoramento de SpO₂.
- Diagnóstico: Critérios de Bell predominam; ultrassom é promissor como complemento à radiografia.
- Tratamento: Jejum (NPO), antibióticos clássicos, novas terapias (EGF, lactoferrina, inibidores de TLR4), cirurgia em casos graves.
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Discussão
A NEC continua sendo um desafio clínico devido à sua etiologia complexa e imprevisibilidade. A prematuridade é o principal fator predisponente, pois o intestino imaturo apresenta barreira mucosa incompleta, microbiota instável e vulnerabilidade à hipóxia. Estratégias preventivas devem priorizar nutrição com leite humano, modulação da microbiota com probióticos e redução do uso indiscriminado de antibióticos. Protocolos transfusionais seguros e monitoramento da oxigenação também são fundamentais.
Há necessidade urgente de consenso global sobre definição e diagnóstico, além de estudos prospectivos para validar novas terapias e biomarcadores. A integração de ultrassom e marcadores moleculares pode permitir diagnóstico precoce e intervenção antes da progressão para necrose, reduzindo morbimortalidade.
Prematuridade, intestino e NEC: Entenda essa conexão!
Como discutido previamente, a NEC é fortemente associada à prematuridade, pois o intestino imaturo apresenta características que aumentam a suscetibilidade à doença: barreira mucosa incompleta, favorecendo translocação bacteriana; resposta imune desregulada, com hiperativação de TLR4 frente a lipopolissacarídeos; microbiota instável, agravada por uso prolongado de antibióticos; perfusão intestinal vulnerável, especialmente em casos de RCIU e anemia, predispondo a lesões hipóxico-isquêmicas; e estresse oxidativo elevado, pela alta demanda metabólica e baixa capacidade antioxidante.
Devemos lembrar e sempre reforçar, especialmente no mês da prematuridade, que estratégias preventivas devem focar na promoção da maturidade intestinal e microbiota saudável, com leite humano e probióticos como pilares. Além disso, redução do uso indiscriminado de antibióticos e protocolos seguros de transfusão são cruciais. O trabalho em conjunto entre pediatras gerais, neonatologistas e gastroenterologistas pediátricos, quando necessário, pode deixar o manejo desses pacientes mais assertivos e resultar em desfechos mais positivos. A integração de biomarcadores e imagem, como ultrassom intestinal, pode permitir diagnóstico precoce e intervenção antes da progressão para necrose, melhorando desfechos clínicos.
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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