Preditores de internações por VSR em bebês

O vírus sincicial respiratório (VSR) é uma das principais causas de infecções agudas do trato respiratório inferior em crianças pequenas, sendo os lactentes menores de um ano os que mais sofrem com internações e óbitos. Em 2019, mais de 60% das hospitalizações relacionadas ao VSR e 65% das mortes em crianças com menos de cinco anos ocorreram nessa faixa etária. Para lidar com isso, o SAGE (World Health Organization’s Strategic Advisory Expert Group) da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a adoção universal de estratégias de imunização passiva, incluindo o anticorpo monoclonal nirsevimabe e a vacina materna RSVpreF, ambos proporcionando proteção até os seis meses de vida. Evidências de vários países mostram que as internações por VSR atingem o pico no segundo mês de vida, sugerindo que a implementação específica para cada idade poderia otimizar o impacto, embora dados globais com esse nível de detalhe ainda sejam escassos. Uma revisão sistemática publicada na Nature Communications avaliou a distribuição das hospitalizações de lactentes por VSR conforme a idade e o mês de nascimento. 

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Metodologia 

Foi realizada uma revisão sistemática com meta-análise para estabelecer a carga específica por idade das hospitalizações por VSR em lactentes. Foram pesquisados quatro bancos de dados (EMBASE [Ovid], MEDLINE [Ovid], Global Health [Ovid] e Web of Science) para estudos publicados de 1995 a 2023.  

Foram incluídos estudos que descreveram a incidência de hospitalizações por VSR confirmadas em laboratório durante todo o primeiro ano de vida. Uma exigência para inclusão é que as estimativas relatadas deveriam ter granularidade suficiente em termos de meses de vida para auxiliar no entendimento da distribuição mensal da doença por VSR, definida como pelo menos uma faixa etária com intervalo de idade igual ou inferior a três meses. Além disso, cada estudo deveria ter relatado 100 ou mais casos de VSR no primeiro ano de vida para garantir a robustez das estimativas. Pesquisas recomendadas por especialistas também foram consideradas. 

Foram excluídos artigos que se concentraram exclusivamente em lactentes de alto risco (por exemplo, prematuros, com comorbidades, HIV positivo, etc.) ou em infecções nosocomiais, ou estudos que se concentraram somente no período subsequente ao início da pandemia de covid-19, devido ao possível impacto na distribuição etária dos casos de VSR.  

Duas equipes de revisão extraíram e avaliaram os dados quanto à qualidade de forma independente. Dados adicionais não publicados foram obtidos da RSV Global Epidemiology Network. Um modelo bayesiano hierárquico foi aplicado para estimar as internações por VSR por mês de vida, estratificado por latitude e renda do país. Uma ferramenta de previsão também foi criada para estimar o risco de hospitalização por mês de nascimento, validada usando dados de vários países e disponibilizada por meio de uma interface web. A robustez dos resultados foi confirmada por análises de sensibilidade, apoiando o uso de estratégias específicas por estação e por idade para otimizar os esforços de imunização contra VSR globalmente. 

Resultados 

Cento e trinta e quatro conjuntos de dados de alta qualidade cobrindo mais de um milhão de hospitalizações por VSR de 49 países foram incluídos. A análise mostrou que a carga de hospitalização por VSR atinge o pico entre 1 e <2 meses de vida em países de renda alta e média-alta, e entre 2 e <3 meses em países de renda média-baixa, com mais de 60 a 75% dos casos ocorrendo até os seis meses de vida. Esses achados foram consistentes ao longo dos anos e confirmados por meio de múltiplas análises de sensibilidade.  

Uma ferramenta de predição combinando susceptibilidade relacionada à idade e sazonalidade local do VSR foi desenvolvida e validada, mostrando forte correlação com os dados observados (r = 0,84 a 0,90). A aplicação do modelo em 33 países mostrou que o risco de hospitalização por VSR varia de forma significativa conforme o mês de nascimento e a região, sendo que os países temperados apresentaram a maior variação no risco. Lactentes nascidos no início da temporada de VSR tendem a apresentar picos de hospitalização no segundo mês de vida. Já os lactentes nascidos no final da temporada de VSR, podem apresentar taxas de hospitalização mais altas na faixa etária de 3 a <6 meses. Entretanto, mesmo com variações relacionadas ao mês de nascimento, a tendência geral mostra um pico nas hospitalizações por VSR durante os primeiros meses de vida, com um declínio à medida que os lactentes crescem. Portanto, essa ferramenta auxilia na identificação do momento ideal para estratégias de imunização passiva com base no mês de nascimento e na sazonalidade local.  

Conclusão 

Esse estudo mostrou que a idade específica em que o pico de hospitalização por VSR ocorre pode ser influenciada por fatores, como mês de nascimento e época da sazonalidade, embora essas internações sejam, de fato, comuns na primeira infância.