Pneumonia comunitária em crianças: existem marcadores de gravidade importantes?
A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma das doenças infecciosas mais comuns e graves em crianças, resultando em um número substancial de idas ao pronto-socorro. A avaliação precisa da gravidade da doença é essencial para a tomada de decisão clínica, mas não existem ferramentas prognósticas validadas para auxiliar nessa determinação. Sendo assim, Florin e colaboradores realizaram o estudo Biomarkers and Disease Severity in Children With Community-Acquired Pneumonia, publicado no jornal Pediatrics.
Nesse estudo, os pesquisadores avaliaram a associação da contagem de leucócitos (CL), contagem absoluta de neutrófilos (CAN), proteína C reativa e procalcitonina com o desenvolvimento de resultados graves em crianças com PAC.
Pneumonia adquirida na comunidade em crianças
Foi realizado um estudo de coorte prospectivo incluindo pacientes pediátricos com idades entre três meses e 18 anos com PAC no pronto-socorro do Cincinnati Children’s Hospital Medical Center, nos Estados Unidos. O desfecho primário foi a gravidade da doença: leve (alta hospitalar), leve a moderada (hospitalizado, mas doença não moderada a grave ou grave), moderada a grave (hospitalizada com recebimento de fluidos intravenosos, oxigênio suplementar ou pneumonia complicada, por exemplo) e grave (com necessidade de terapia intensiva, infusões vasoativas, drenagem torácica, ou evolução para sepse grave, por exemplo). Os resultados foram avaliados na coorte com suspeita de PAC e em um subconjunto com PAC radiográfico.
Os pesquisadores descreveram que, entre as 477 crianças incluídas no estudo, não houve diferenças estatísticas na CL, CAN, proteína C reativa ou procalcitonina nas categorias de gravidade. Nenhum biomarcador apresentou capacidade discriminatória adequada entre doença grave e não grave (área sob a curva [AUC]: 0,53-0,6 para suspeita de PAC e 0,59-0,64 para PAC radiográfica).
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Nas análises ajustadas para idade, uso de antibióticos, duração da febre e detecção de patógenos virais, a proteína C reativa foi associada a doença moderada-grave (odds ratio 1,12; intervalo de confiança de 95%, 1,0–1,25). A proteína C reativa e a procalcitonina revelaram boa discriminação de crianças com empiema que necessitam de drenagem torácica (AUC: 0,83) e sepse com infusões vasoativas (AUC da proteína C reativa: 0,74; AUC da procalcitonina: 0,78), embora a prevalência desses resultados tenha sido baixa.
Algumas limitações do estudo incluem:
- Resultados compostos podem ser difíceis de interpretar devido a heterogeneidade potencial e o impacto de resultados individuais em geral;
- Os pesquisadores realizaram várias análises de sensibilidade, incluindo regressão logística de probabilidades proporcionais e diferentes agrupamentos dos resultados de gravidade e encontraram resultados semelhantes;
- Cada resultado também foi analisado individualmente, embora o tamanho da amostra fosse pequeno para alguns;
- O estudo realizado inclui apenas um centro e os resultados podem não ser generalizáveis; 5) Os pesquisadores não avaliaram medições seriadas de biomarcadores.
Conclusão
O resultados de Florin e equipe sugerem que biomarcadores medidos convencionalmente, incluindo proteína C reativa e procalcitonina, geralmente não são úteis para prever a gravidade da doença em crianças avaliadas quanto à PAC no pronto-socorro. Dado seu alto valor preditivo negativo, esses marcadores podem ser úteis para descartar os resultados mais graves.
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Os pesquisadores enfatizam que mais pesquisas são necessárias para entender se existem situações clínicas específicas nas quais esses biomarcadores melhoram a capacidade preditiva atual, permitindo intervenções direcionadas em crianças de alto risco.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, “testes inespecíficos, como as dosagens de proteína C reativa, procalcitonina, velocidade de hemossedimentação e CL, têm valor limitado na presunção da etiologia da PAC, podendo sugerir infecção bacteriana quando os valores forem muito elevados, aparentemente, acima do percentil 90 ou mais”.
Referência bibliográfica:
- FLORIN, Todd et al. Biomarkers and Disease Severity in Children With Community-Acquired Pneumonia. Pediatrics. v.145, n.6, e20193728, 2020
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. “Pneumonia adquirida na Comunidade na Infância”. 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Pneumologia_-_20981d-DC_-_Pneumonia_adquirida_na_comunidade-ok.pdf Acesso em 28/06/2020
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