A persistência do canal arterial (PCA) é comum em bebês prematuros e seu manejo é objeto de bastante discussão e está associada ao aumento da mortalidade e da morbidade, incluindo displasia broncopulmonar (DBP), enterocolite necrosante (ECN), e hemorragia intraventricular (HIV). Os inibidores da ciclooxigenase (COX) são comumente usados em lactentes com esta condição. No entanto, o benefício desses medicamentos é incerto.
Um novo estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, avaliou se o manejo expectante seria não inferior ao tratamento precoce com ibuprofeno em relação à ECN, DBP moderada a grave ou óbito em uma idade pós-menstrual de 36 semanas.
Manejo de PCA em prematuros
Um estudo internacional, multicêntrico, randomizado e controlado de não inferioridade foi conduzido em 17 unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN) na Holanda, Bélgica e Dinamarca, entre dezembro de 2016 e dezembro de 2020. Bebês com PCA confirmada por ecocardiograma (diâmetro, > 1,5 mm, com shunt da esquerda para a direita) e extremamente prematuros ( com idade gestacional inferior a 28 semanas) foram designados, de forma aleatória, para receber conduta expectante (CE) ou tratamento com ibuprofeno precoce (IP).
O desfecho primário composto incluiu ECN (estágio de Bell IIa ou superior), DBP moderada a grave ou óbito em 36 semanas de idade pós-menstrual.
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Resultados
Foram randomizadas 273 crianças. A mediana da idade gestacional foi de 26 semanas e a mediana do peso ao nascer foi de 845 g.
No grupo de IP, o ibuprofeno foi iniciado em uma idade pós-natal mediana de 63 horas em uma dose média de 10 mg/kg, seguido por duas doses subsequentes de 5 mg/kg. As características basais dos bebês e de suas mães foram semelhantes, exceto por uma maior incidência de síndrome HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetas baixas) entre as mães no grupo de CE.
Um evento de desfecho primário ocorreu em 63 de 136 bebês (46,3%) no grupo de CE e em 87 de 137 (63,5%) no grupo de IP (diferença de risco absoluto, -17,2 pontos percentuais; limite superior do intervalo de confiança unilateral de 95% [IC 95%], -7,4; P <0,001 para não inferioridade).
A ECN ocorreu em 24 de 136 bebês (17,6%) no grupo de CE e em 21 de 137 (15,3%) no grupo de IP (diferença de risco absoluto, 2,3 pontos percentuais; IC bilateral de 95%, – 6.5 a 11.1). A DBP ocorreu em 39 de 117 lactentes (33,3%) e em 57 de 112 (50,9%), respectivamente (diferença de risco absoluto, -17,6 pontos percentuais; IC bilateral de 95%, -30,2 a -5,0). O óbito ocorreu em 19 de 136 lactentes (14,0%) e em 25 de 137 (18,2%), respectivamente (diferença de risco absoluto, -4,3 pontos percentuais; IC bilateral de 95%, -13,0 a 4,4). As frequências de outros eventos adversos foram semelhantes nos dois grupos.
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Conclusão
A CE para PCA medindo mais de 1,5 mm de diâmetro não foi inferior ao tratamento precoce com ibuprofeno em relação à ECN, DBP moderada a grave ou óbito, e os resultados sugeriram um menor risco desse resultado no grupo de CE.
Comentários
O ibuprofeno é uma alternativa farmacológica para tratamento da PCA. Deve ser administrado em ciclo de 3 doses, com intervalo de 24h entre elas. Em geral, é prescrito da seguinte forma: 1ª dose: 10 mg/kg; 2ª dose: 5 mg/kg/; 3ª dose: 5 mg/kg. São contraindicações para seu uso: oligúria <1 ml/kg/h ou creatinina > 1,7 (> 48h vida); plaquetopenia; ECN ou sepse grave; hemorragia peri-intraventricular (HPIV) grau III ou IV; malformação gastrintestinal e renal; uso de corticosteroide e hiperbilirrubinemia grave.
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