Na palestra “Gerenciamento de Antimicrobianos na UNCI” realizada no 27° Congresso Brasileiro de Perinatologia (PERINATO 2025), realizado entre os dias 19 e 22 de novembro, no Rio de Janeiro., o palestrante, Dr. Fábio de Araújo Motta (PR), trouxe atualizações relevantes sobre antibioticoterapia na neonatologia.
- Perfil microbiológico
Segundo dados da Anvisa, os seguintes microrganismos foram isolados em 2024 em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN):
- Klebsiella pneumoniae: 1107;
- Escherichia coli: 363;
- Enterobacter spp.: 304;
- Pseudomonas aeruginosa: 255;
- Acinetobacter: 248;
- Serratia spp.: 222;
- Klebsiella spp.: 165.
Ainda conforme a Anvisa, segue o percentual de resistência microbiana em 2024:
- Klebsiella pneumoniae: 25,1%;
- Acinetobacter: 22,04%;
- Enterobacter spp.: 17,46%;
- Pseudomonas aeruginosa: 15,40%;
- Escherichia coli: 12,06%.
2. Antibióticos (ATBs) preferidos para o tratamento de infecção causada por enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (ERC) (fora infecção do trato urinário [ITU]), quando o resultado de carbapenemase for positivo para Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC):
Ceftazidima–avibactam
- Idade gestacional (IG) ≥ 31 semanas, idade pós-natal (IPN) <29 dias: 25 mg/kg/dose (componente ceftazidima) intravenoso (IV) a cada 8 horas, infundido ao longo de 3 horas (Tamma et al., 2024).
Ceftazidima-avibactam e aztreonam
- Ceftazidima-avibactam (mesma dose total em mg/kg/dia descrita acima, dividida a cada 6 horas), infundida simultaneamente por administração em Y com aztreonam 30 mg/kg/dose (dose máxima de 2 g) IV a cada 6 horas, ambos infundidos ao longo de 3 horas.
- Administração simultânea de ceftazidima-avibactam e aztreonam nas mesmas doses totais diárias listadas acima, a cada 8 horas, ambos infundidos ao longo de 3 horas, caso a administração a cada 6 horas não seja viável.
- Infusões de 2 horas são sugeridas para o tratamento de infecções do SNC (Tamma et al., 2024).
3. Qual é o papel das polimixinas no tratamento das infecções causadas por bactérias produtoras de carbapenemase (KPC/ New Delhi metallo-β-lactamase (NDM) /etc.)?
“Dados observacionais e clínicos indicam aumento da mortalidade e excesso de nefrotoxicidade associados a regimes baseados em polimixinas em comparação com agentes de referência. Preocupações com a eficácia clínica das polimixinas e a precisão dos testes de suscetibilidade a essas substâncias levaram o Clinical and Laboratory Standards Institute a eliminar a categoria de suscetibilidade para colistina e polimixina B. O painel sugere que esses agentes sejam evitados no tratamento de infecções por ERC, com exceção da colistina como agente alternativo contra cistite por ERC. A polimixina B não deve ser usada no tratamento da cistite por ERC, devido à sua eliminação predominantemente não renal.” (Tamma et al., 2024).
4. Quais as Enterobacteralis que devem ser consideradas de moderado a alto risco para produção da enzima AmpC clinicamente significativa provocada pelo gene AmpC induzível?
Citrobacter freundii (C. koseri), Enterobacter cloacae complex, Klebsiella aerogenes (CEK e não mais CESP).
5. Quais são os ATB preferidos para o tratamento de infecção causada por P. aeruginosa-DTR (infecção primária da corrente sanguínea – IPCS), quando os resultados de carbapenemase forem positivos?
Ceftolozana-tazobactam
- Cistite: 20 mg/kg/dose do componente ceftolozana (dose máxima 1 g de ceftolozana) IV a cada 8 horas. Infundir ao longo de 1 hora.
- Outras infecções: 40–50 mg/kg/dose do componente ceftolozana (dose máxima 2 g de ceftolozana) IV a cada 8 horas. Infundir ao longo de 3 horas.
- Infecções do SNC: Recomenda-se infusão de 1 hora (Tamma et al., 2024).
Ceftazidima–avibactam: Idade gestacional (IG) ≥ 31 semanas, idade pós-natal < 29 dias: 25 mg/kg/dose (componente ceftazidima) IV a cada 8 horas, infundido ao longo de 3 horas (Tamma et al., 2024).
No Hospital Pequeno Príncipe, onde o Dr. Fábio atua, o protocolo usado é:
- Se sensível à ceftazidime-avibactam = usar em monoterapia ou associado (depende da gravidade, podendo ser polimixina): polimixina, amicacina / tobramicina, aztreonam. Dar preferência para os ATBs sensíveis no antibiograma.
6. Qual a abordagem geral que se deve fazer para tratar Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmico?
Ampicilina-sulbactam
- IPN ≤ 7 dias: 100 mg/kg/dose do componente ampicilina IV a cada 8 h, infundido ao longo de 4 h.
- IPN 8–60 dias: 75 mg/kg/dose do componente ampicilina IV a cada 6 h, infundido ao longo de 4 h (Tamma et al., 2024).
Protocolo no Hospital Pequeno Príncipe:
- Nunca deve faltar ampicilina-sulbactam em altas doses independentemente de estar suscetível no antibiograma (para pediatria = 80 mg/kg/dose de ampicilina de 8/8 h, pode-se considerar chegar à dose de 400 mg de ampicilina).
- Associar mais uma droga que esteja sensível no antibiograma – amicacina/gentamicina.
- Pensando em efeito sinérgico, pode-se associar:
- Ampicilina-sulbactam;
- Polimixina B (se MIC > 2, evidência de menor benefício);
- Meropenem / imipenem (sem necessidade de infusão estendida).
O palestrante finalizou sua apresentação com as seguintes take-home messages:
- ESBL – IPCS – Sepse – Infecção grave = Meropenem;
- ESBL – ITU – Infecção abdominal – paciente estável = Piperacilina-tazobactam, amicacina;
- ERC KPC = Ceftazidima–avibactam;
- ERC NDM = Ceftazidima–avibactam + aztreonam – simultaneamente;
- AmpC = Grupo CEK = Cefepime;
- P. aeruginosa = Ceftolazana-tazobactam / pensar sempre em associar para casos graves – amicacina, polimixina B, ATB sensível;
- Acinetobacter baumannii = Ampicilina-sulbactam (mesmo se resistente) e fazer associação.
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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