Mesmo em dia, as vacinas pneumocócicas não protegem completamente crianças asmáticas do desenvolvimento de doença pneumocócica invasiva, segundo um estudo recente publicado na revista americana Pediatrics, da American Academy of Pediatrics.
A doença pneumocócica invasiva (DPI) e a pneumonia são uma das principais causas de morbimortalidade em todo o mundo, e a asma é a doença crônica mais comum na infância. Para avaliar o risco de DPI ou pneumonia em crianças com asma após a introdução de vacinas pneumocócicas conjugadas (pneumococcal conjugate vaccines – PCV), Castro-Rodriguez e colaboradores (2020) realizaram o estudo Asthma and the Risk of Invasive Pneumococcal Disease: A Meta-analysis.
Foram pesquisadas quatro bases de dados eletrônicas: Medline, Cochrane Collaboration clinical trials register, Latin American and Caribbean Health Sciences Literature, e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, até outubro de 2018.
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Os cientistas selecionaram todas as coortes ou estudos de caso-controle de DPI e pneumonia:
- Em populações que receberam PCV (principalmente vacina conjugada pneumocócica heptavalente), mas não vacina pneumocócica 23-valente (polissacarídica);
- Em que os autores relataram dados de crianças com asma;
- Em que controles saudáveis foram incluídos;
- Sem restrição de idioma.
- Dois pesquisadores revisaram todos os estudos de forma independente. Os desfechos primários foram a ocorrência de DPI e pneumonia. Os desfechos secundários incluíram mortalidade, internações, tempo de internação, internação em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), suporte respiratório, custos e uso adicional de medicamentos.
Os pesquisadores encontraram os seguintes resultados:
- Cinco estudos preencheram os critérios de inclusão. Desses, três coortes retrospectivas (∼26 milhões de pessoas-ano) e um estudo de caso-controle (N = 3294 crianças) foram qualificados para a meta-análise;
Crianças com asma tiveram 90% de chances mais elevadas de DPI do que controles saudáveis (odds ratio = 1,90; Intervalo de confiança de 95% = 1,63-2,11; I2 = 1,7%); - A pneumonia também foi mais frequente em crianças com asma do que entre os controles, e um estudo relatou que os custos associados à pneumonia aumentaram pela gravidade da asma;
- Nenhum dos estudos relatou internações, mortalidade, tempo de internação, internação em UTIP, suporte respiratório invasivo ou uso adicional de medicamentos;
- Um dos estudos descreveu que a gravidade da asma estava significativamente associada ao aumento dos custos de tratamento da DPI por 100.000 pessoas-ano: US$ 72.581 para controles saudáveis, em comparação com US $ 100.020 para crianças com asma leve, US$ 172.002 para asma moderada e US$ 638.452 para asma grave;
- Nenhum dos estudos identificados possuía informações sobre adesão à terapia ou terapia da asma (o que foi considerado uma limitação).
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Com esses resultados, Castro-Rodriguez e colaboradores (2020) concluíram que, apesar da vacinação PCV, crianças com asma continuam a ter um risco maior de DPI do que crianças sem asma. No entanto, os pesquisadores destacam que mais pesquisas são necessárias para avaliar a necessidade de vacinação suplementar com vacina pneumocócica 23-valente (polissacarídica) em crianças com asma, independentemente do uso de esteroides orais.
Referência bibliográfica:
- Castro-Rodriguez JA, Abarca K, Forno E. Asthma and the Risk of Invasive Pneumococcal Disease: A Meta-analysis. Pediatrics. 2020;145(1):e20191200
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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