A doença pulmonar crônica (DPC) após o nascimento prematuro continua sendo uma grande causa de morbidade entre os recém-nascidos (RN) prematuros, particularmente com idade gestacional extremamente baixa (<28 semanas). O termo “displasia broncopulmonar” (DBP), atribuído a essa condição há mais de 50 anos, refletia achados patológicos específicos. Atualmente, como a maioria dos neonatos prematuros agora sobrevive, a nomenclatura se concentra em correlatos clínicos e não patológicos. Infelizmente, morbidades respiratórias, de crescimento e neurodesenvolvimento em longo prazo associadas à DPC continuam a ser um desafio.
Em 2022, a Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics – AAP) publicou, em seu jornal Pediatrics, uma revisão contendo recomendações atualizadas sobre o uso de corticosteroide pós-natal (CPN) para controlar ou prevenir a doença pulmonar crônica após o parto prematuro (anteriormente referido como DBP), incluindo o uso de corticosteroide sistêmico em baixa dose em RN prematuros com ou com alto risco de DPC. A última revisão havia sido realizada em 2010 e, desde então, diversos trabalhos foram publicados sobre o assunto. A seguir, encontram-se os principais pontos que constam na revisão atualizada de 2022.
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Conclusões da AAP consequentes à revisão:
- O CPN, seja para prevenir ou tratar a DPC precoce após o parto prematuro, pode aumentar a taxa de sobrevida sem DPC grave, mas acarreta riscos significativos em curto e em longo prazo;
- O uso precoce de hidrocortisona (idade igual ou inferior a 7 dias) em baixa dose pode prevenir DPC ou óbito em bebês com peso inferior a 1.000 g expostos a corioamnionite;
- Uma baixa dose de dexametasona tardia (>7 e <28 dias de idade) pode melhorar os desfechos para RN prematuros que permanecem com suporte respiratório significativo, mas sem evidências de DPC grave;
- O corticosteroide inalatório não parece oferecer nenhuma vantagem sobre os corticosteroides sistêmicos e pode estar associado a aumento da mortalidade;
- O corticosteroide pode ser mais eficaz quando administrado diretamente no pulmão com surfactante como veículo, mas faltam dados sobre os desfechos em longo prazo;
- Dados de estudos controlados randomizados são baseados na população e podem não se aplicar a pacientes de forma individual;
- São necessários mais dados sobre desfechos em longo prazo em idade escolar para orientar o uso de CPN para prevenir ou tratar DPC em bebês prematuros.
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Recomendações da AAP
- O uso rotineiro de CPN não pode ser recomendado;
- A decisão de usar CPN para prevenir ou tratar DPC deve ser individualizada, feita em conjunto com os pais e as discussões devem ser documentadas no prontuário do paciente;
- Se for tomada a decisão de administrar um CPN, recomenda-se uma dose baixa fornecida por um período curto e predefinido (por exemplo, extubação). Se a criança não apresentar uma resposta clínica ao CPN dentro de 72 horas após o início, o tratamento continuado não é recomendado;
- CPN em altas doses não são recomendados para prevenir ou tratar DPC em RN prematuros.
- A indometacina não deve ser usada concomitantemente com CPN
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