Obstrução de via aérea por corpo estranho (OVACE), que é popularmente chamada de engasgo, é uma importante causa de morte em bebês e crianças. Os principais causadores de OVACE são balões de festa, pequenos objetos e comidas como salsicha, oleaginosas e uvas. As novas diretrizes de Suporte Básico de Vida (SBV), da American Heart Association, publicadas em outubro de 2025, na Circulation, trazem novidades nas manobras de desobstrução de OVACE de vítimas responsivas como: nos bebês (substituir a forma de compressão torácica da técnica dos dois maiores dedos pela técnica de compressão com a base de uma mão), e, nas crianças (acréscimo na manobra de 5 golpes dorsais que alternam com 5 compressões abdominais).
Veja também: Revisão analisa o risco de engasgo conforme as abordagens de introdução alimentar

Divisão das vítimas em SBV
Em SBV, dividimos as vítimas em:
- Bebês, que são os menores de 1 ano de idade;
- Crianças, que são as vítimas a partir de 1 ano de idade até antes de entrada na puberdade, que em SBV é definida por presença de algum desenvolvimento mamário nas meninas (o mamilo deixa de ser plano), e presença de pêlos axilares nos meninos;
- Adultos, que são as vítimas que já entraram na puberdade.
Como proceder diante de OVACE?
1º) Sempre verificar se a cena é segura antes de abordar a vítima.
2º) Diferenciar entre OVACE leve e grave:
- Na OVACE leve, a vítima consegue emitir bem os sons à tem tosse forte, consegue chorar e∕ou falar;
- Na OVACE grave, a vítima não consegue emitir bem os sons à pode ter tosse fraca ou ausente, ser incapaz de chorar, ficar cianótico, sonolento e∕ou ter apneia.
3º) Se for bebê:
- Na OVACE leve, encorajar a vítima a tossir e observar se vai apresentar algum sinal de OVACE grave.
- Se evoluir com OVACE grave:
- Ligar para Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) telefone 192.
- Checar se a vítima responde com estímulo tátil e verbal (batendo no pé do bebê e chamando por ele):
- Se não responder (estiver desacordada): iniciar manobras de Reanimação Cardiopulmonar (RCP) começando pelas compressões torácicas. Antes da ventilação, checar se visualiza corpo estranho na boca da vítima. Se conseguir ver e alcançar , usar manobra de pinça com polegar e indicador para retirá-lo. Se não ver ou não alcançar o corpo estranho, continue RCP.
- Se estiver acordado∕responsivo: idealmente, sentar em uma cadeira, deixar a cabeça do bebê inferior ao tronco (para ajudar com a gravidade), iniciar ciclos de 5 compressões torácicas com a base de uma mão alternando com 5 golpes dorsais entre as escápulas até que o corpo estranho seja expelido ou a equipe do SAMU assuma. Se o objeto for expelido, monitore a vítima até a equipe de saúde avançada assuma. Caso o bebê torne-se irresponsivo, iniciar RCP.
Atenção: NUNCA fazer varredura digital às cegas para tentar buscar corpo estranho se não visualizar, pois isso pode empurrar mais o corpo estranho para baixo!
4º) Se for criança:
- Na OVACE leve, encorajar a vítima a tossir e observar se vai apresentar algum sinal de OVACE grave.
- Se evoluir com OVACE grave:
- Ligar para Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) telefone 192.
- Checar se a vítima responde com estímulo tátil e verbal (chacoalhando os ombros e chamando por ela):
- Se não responder (estiver desacordada): iniciar manobras de Reanimação Cardiopulmonar (RCP) começando pelas compressões torácicas. Antes da ventilação, checar se visualiza corpo estranho na boca da vítima. Se conseguir ver e alcançar , usar manobra de pinça com polegar e indicador para retirá-lo. Se não ver ou não alcançar o corpo estranho, continue RCP.
- Se estiver acordado∕responsivo: iniciar ciclos de 5 golpes dorsais entre as escápulas alternando com compressões abdominais (em região epigástrica, com a mão dominante fechada fazendo movimento de “J” invertido e a outra mão por cima) até que o corpo estranho seja expelido ou a equipe de saúde avançada assuma. Se o objeto for expelido, monitore a vítima até a equipe de saúde avançada assumir. Caso a criança torne-se irresponsiva, iniciar RCP.

Fluxograma 1 . Manejo de Obstrução de Via Aérea por Corpo Estranho (OVACE) em bebê (<1 ano) e criança. Adaptado da American Heart Association (2025)
Autoria

Renata Carneiro da Cruz
Editora médica de Pediatria da Afya ⦁ Mestre em Saúde Materno-Infantil pela UFRJ ⦁ Residência em Pediatria Geral pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Residência em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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