Recente pesquisa brasileira mostrou que houve uma tendência temporal de diminuição da mortalidade por asma em crianças e adolescentes em um período de 20 anos no Brasil, com predomínio de óbitos em crianças com menos de cinco anos de idade. O estudo Asthma mortality in children and adolescents of Brazil over a 20-year period foi publicado no Jornal de Pediatria, obra da Sociedade Brasileira de Pediatria. O objetivo desse estudo foi estimar o número de óbitos e a tendência temporal da taxa de mortalidade por asma em crianças e adolescentes no Brasil.
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Método do estudo
Os pesquisadores realizaram um estudo ecológico de séries temporais. Foram avaliados os óbitos por asma ocorridos no país no período entre 1996 e 2015 em pacientes de até 19 anos de idade. Os dados foram obtidos através do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Além disso, foram coletados dados da Coordenação Geral de Informações e Análises Epidemiológicas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade e dados de projeção populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os óbitos foram identificados por meio da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), 10ª revisão, utilizando-se os códigos J-45 (asma) e J-46 (estado de mal asmático), assinalados como causa básica da morte na declaração de óbito e oferecidos pelo DATASUS a partir de 1996. Com isso, a taxa de mortalidade específica por asma e a sua tendência temporal foram avaliadas.
Os pesquisadores descreveram que houve, nesse período, 5.014 óbitos. A maioria desses óbitos (68,1%) ocorreu em crianças com menos de cinco anos de idade (45% em crianças entre um e quatro anos). Essas mortes predominaram em todas as regiões do país, mas foram significativamente mais numerosas nas regiões Norte e Nordeste. Uma oscilação da taxa de mortalidade específica por asma entre 0,57 e 0,21/100.000 habitantes foi descrita. Isso correspondeu a uma diminuição de 59,8% no período. Em relação ao local dos óbitos, a maioria (79,4%) ocorreu em ambiente hospitalar. Nesta amostra, o adolescente apresentou 1,5 vez mais chance de óbito por asma fora do hospital do que as crianças de até nove anos de idade. Por fim, não foi observada diferença significativa da redução da tendência temporal entre os sexos e dos óbitos fora do ambiente hospitalar.
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Impacto
Os pesquisadores reforçaram que as doenças respiratórias crônicas representam um grande ônus para os serviços de saúde. Globalmente, mais de 80% dos óbitos por asma acontecem em países de baixa renda. Isso sugere subdiagnóstico, subtratamento e obstáculos ao acesso da população aos cuidados necessários. Outros fatores que podem contribuir são: a relutância em se diagnosticar asma em crianças pequenas; o retardo no início do tratamento; a prescrição de fármacos cuja eficácia é controversa; e o baixo nível de escolaridade dos pais (o que pode prejudicar a adesão e à execução correta do tratamento, como o uso de medicamentos inalatórios).
Conclusão
Esse estudo concluiu que, em 20 anos, houve uma tendência temporal de diminuição da mortalidade por asma em crianças e adolescentes no Brasil. As taxas de mortalidade foram variáveis nas diversas regiões geográficas, sendo maiores nas regiões Norte e Nordeste. O predomínio das mortes em crianças com menos de cinco anos de idade pode se associar a maior fragilidade desse grupo de pacientes em países de baixa renda. Em relação aos adolescentes, salientam-se óbitos ocorridos fora do hospital.
A maior mensagem desse estudo é que, embora as taxas de mortalidade no país tenham sido reduzidas nesse período de 20 anos, a mortalidade por asma ainda é elevada e pode ocorrer de forma prematura na infância e na adolescência. Apesar de os óbitos por asma serem raros, as mortes por asma estão em níveis inaceitáveis e, em muitos casos, estão associadas a fatores evitáveis, levando-se em conta o caráter tratável da doença.
Referências bibliográficas:
- Pitchon RR, Alvim CG, Andrade CR, Lasmar LMLBF, Cruz ÁA, Reis APD. Asthma mortality in children and adolescents of Brazil over a 20-year period [published online ahead of print, 2019 Apr 19]. J Pediatr (Rio J). 2019;S0021-7557(18)31028-3
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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