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Pediatria8 março 2021

Manifestações otorrinolaringológicas na MIS-C relacionada à Covid-19 em pediatria

Pesquisadores descobriram as manifestações otorrinolaringológicas mais comuns em uma coorte de crianças com MIS-C associada à Covid-19.

Pesquisadores do Reino Unido concluíram que disfonia, disfagia e anosmia/hiposmia foram as manifestações otorrinolaringológicas mais comuns em uma pequena coorte de crianças com síndrome inflamatória multissistêmica (Pediatric Inflammatory Multisystem Syndrome –  MIS-C) associada temporalmente à Covid-19. O estudo Otolaryngologic Manifestations in Pediatric Inflammatory Multisystem Syndrome Temporally Associated With Covid-19 foi publicado no jornal JAMA Otolaryngology – Head & Neck Surgery.

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Manifestações otorrinolaringológicas na MIS-C relacionada à Covid-19 em pediatria

Características do estudo

Foi realizado um estudo de coorte observacional exploratório unicêntrico com enfoque nas manifestações otorrinolaringológicas de pacientes pediátricos com idade igual ou inferior a 18 anos, entre 1º de abril e 22 de junho de 2020. Os pacientes atendiam à definição de caso para MIS-C, segundo o Royal College of Paediatrics and Child Health, que inclui:

  1. Uma criança apresentando febre persistente, inflamação (neutrofilia, proteína-C-reativa elevada e linfopenia) e evidência de disfunção de um único órgão ou de múltiplos órgãos (choque, distúrbio cardíaco, respiratório, renal, gastrointestinal ou neurológico) com características adicionais. Isso pode incluir crianças que preenchem os critérios completos ou parciais para a doença de Kawasaki;
  2. Exclusão de qualquer outra causa microbiana, incluindo sepse bacteriana, síndromes de choque estafilocócico ou estreptocócico, infecções associadas a miocardite, como enterovírus (aguardar os resultados dessas investigações não deve atrasar a busca de aconselhamento especializado);
  3. O teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) para o vírus SARS-CoV-2 pode ser positivo ou negativo.

Os dados clínicos e demográficos dos pacientes foram recuperados por meio de revisão retrospectiva de prontuários eletrônicos e triagem telefônica de acompanhamento para manifestações otorrinolaringológicas. Este estudo foi limitado por ser um estudo unicêntrico e não multicêntrico.

Foram incluídos 50 pacientes pediátricos que atenderam à definição de caso de MIS-C, cuja idade média era de 10 anos. Destes 50 pacientes, 33 (66%) eram homens e 36 (72%) eram negros, asiáticos ou outra raça/etnia minoritária. O tempo mediano entre a apresentação aguda de MIS-C e a triagem de acompanhamento para manifestações otorrinolaringológicas foi de 60 dias.

Dos 50 pacientes, 12 (24%) tiveram resultados positivos nos testes de PCR para SARS-CoV-2, e 42 (84%) tiveram anticorpos imunoglobulina G positivos contra SARS-CoV-2 no teste sorológico. Além disso, 38 (76%) necessitaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e 18 (36%) evoluíram para ventilação mecânica. No total, 19 dos pacientes (38%) que realizaram rastreamento por telefone para manifestações otorrinolaringológicas necessitaram de um acompanhamento adicional com um otorrinolaringologista. Esses acompanhamentos foram necessários para manifestações otorrinolaringológicas, que foram mais comumente: disfonia, disfagia e anosmia/hiposmia e eram persistentes no momento da triagem de acompanhamento (15 pacientes [30%]) ou estavam significativamente presentes durante a apresentação aguda de MIS-C (4 pacientes [8%]).

Conclusões

Para os pesquisadores, taxas elevadas de manifestações otorrinolaringológicas, como disfonia, disfagia e anosmia/hiposmia, persistindo por mais de 6 semanas, justificam a triagem e a revisão do acompanhamento otorrinolaringológico para todas as crianças em recuperação de MIS-C. Existem várias explicações postuladas para as manifestações otorrinolaringológicas na população adulta com Covid-19 que são possíveis características etiológicas da síndrome. A disfonia, por exemplo, pode ser causada pelo envolvimento laríngeo do processo inflamatório das vias aéreas, levando a edema ou inflamação das pregas vocais. Há propostas de que os sintomas otorrinolaringológicos, como anosmia e disgeusia, são decorrentes de infecção preferencial do SARS-CoV-2 pelo epitélio nasal por meio da expressão da proteína da enzima de conversão da angiotensina-2.

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Segundo o artigo, acredita-se que a disfagia e a disfonia pós-intubação durante a pandemia de Covid-19 resultem de trauma orofaríngeo e laríngeo e fraqueza neuromuscular como consequência da não utilização prolongada de estruturas laríngeas durante a intubação de longo prazo. No entanto, mais estudos são necessários para identificar fatores associados ao paciente e à doença, como raça/etnia ou necessidade de intubação, que podem aumentar o risco de sequelas otorrinolaringológicas persistentes. Os pesquisadores concluem que, como as sequelas em longo prazo dessa doença são desconhecidas, é prudente que crianças com história de MIS-C sejam reavaliadas pela equipe de infectologistas em até 12 meses e encaminhadas à otorrinolaringologia para qualquer sintoma persistente.

Crianças são assintomáticas na maioria dos casos de Covid-19, mas o pediatra deve estar sempre atento à possibilidade de MIS-C, pois ela existe, e esse estudo nos mostra que mais sinais clínicos podem estar presentes também em longo prazo.

Referências bibliográficas:

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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