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Pediatria8 maio 2025

KDIGO publica diretrizes de prática clínica para síndrome nefrótica em crianças

O grupo Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) publicou recentemente uma atualização de suas diretrizes de 2021 sobre o manejo da síndrome nefrótica em crianças

O grupo Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) publicou recentemente uma atualização de suas diretrizes de 2021 sobre o manejo da síndrome nefrótica em crianças. O objetivo é auxiliar os médicos que cuidam de pacientes com síndrome nefrótica, tanto sensíveis quanto resistentes a corticoides. A atualização considera evidências de ensaios clínicos randomizados (ECR) publicados até agosto de 2024. Um resumo das recomendações e os pontos de prática são discutidos a seguir. 

síndrome nefrótica

Características clínicas e definições da síndrome nefrótica em crianças 

  • Proteinúria na faixa nefrótica: Relação proteína/creatinina urinária (uPCR) ≥200 mg/mmol (2 g/g) em urina isolada, ou proteinúria ≥1000 mg/m²/dia em uma amostra de urina de 24 horas, correspondendo a 3+ (300–1000 mg/dl) ou 4+ (≥1000 mg/dl) por tira reagente de urina; 
  • Síndrome nefrótica (SN): Proteinúria na faixa nefrótica e hipoalbuminemia (albumina sérica <30 g/l [3 g/dl]) ou edema quando o nível de albumina não estiver disponível; 
  • Remissão parcial: Primeira urina da manhã ou uPCR de 24 h > 200 mg/g (0,2 g/g), mas < 2 g/g (ou > 20 e < 200 mg/mmol) e, se disponível, albumina sérica ≥ 30 g/l (3 g/dl); 
  • Remissão completa: Primeira urina da manhã ou uPCR de 24 horas ≤200 mg/g (0,2 g/g ou 20 mg/mmol ou negativo ou tira reagente ou <100 mg/m²/dia) em três ou mais dias consecutivos; 
  • Recidiva: Recorrência de proteinúria na faixa nefrótica em uma criança que já havia alcançado remissão completa; 

Saiba mais: Determinantes da LRA em crianças com síndrome nefrótica e traço falciforme

Os resultados típicos da fita reagente são expressos semiquantitativamente da seguinte forma ou conforme indicado pelo fabricante: 

  • Negativo: 0 a < 15 mg/dl; 
  • Traços: 15 a < 30 mg/dl; 
  • 1+: 30 a < 100 mg/dl; 
  • 2+: 100 a < 300 mg/dl; 
  • 3+: 300 a < 1000 mg/dl; 
  • 4+: ≥ 1000 mg/dl. 
  • SN sensível a corticoides (SNSE): Remissão completa em até 4 semanas com prednisona ou prednisolona na dose padrão; 
  • SN recorrente infrequente: <2 recidivas nos 6 meses seguintes à remissão do episódio inicial ou <3 recidivas em qualquer período subsequente de 12 meses; 
  • SN recorrente frequente: a cada 12 meses em qualquer período subsequente de 12 meses; 
  • SN dependente de corticoides (SNDC): apresentação ou recidiva (na dose completa ou durante a redução gradual) ou em até 14 dias após a descontinuação da prednisona ou prednisolona; 
  • SN resistente a corticoides (SNRE): Ausência de remissão completa em até 4 semanas com prednisona ou prednisolona diária na dose padrão; 
  • Período de confirmação: Período entre 4 e 6 semanas após o início da prednisona ou prednisolona durante o qual a resposta ao corticoide via oral (VO) adicional e/ou pulsos de metilprednisolona e inibidor do sistema renina-angiotensina são determinados em pacientes que alcançaram apenas remissão parcial em 4 semanas. Paciente que atinge remissão completa em 6 semanas é definido como respondedor tardio; 
  • Resposta tardia do SNSE: Um paciente com novo início de SN alcançando remissão completa durante o período de confirmação, isto é, entre 4 e 6 semanas de terapia com corticoide VO; 
  • SNSE responsiva a inibidores da calcineurina: Remissão parcial com 6 meses de tratamento e/ou remissão completa com 12 meses de tratamento com um inibidor da calcineurina em doses e/ou níveis adequados; 
  • SNSE resistente a inibidores da calcineurina: Ausência de remissão parcial com, pelo menos, 6 meses de tratamento com um inibidor da calcineurina em doses e/ou níveis adequados; 
  • SNSE multirresistente a medicamentos: Ausência de remissão completa com 12 meses de tratamento com 2 agentes poupadores de glicocorticoides (GC) mecanicamente distintos em doses padrão; 
  • SNSE secundária: Paciente com SNSE no início da doença que, em recidiva subsequente, não atinge remissão em até 4 semanas de terapia com corticoide VO diário em dose padrão. 

Recomendações para o tratamento inicial  

Os GC VO devem ser administrados por 8 semanas (4 semanas de uso diário seguidas por 4 semanas em dias alternados) ou 12 semanas (6 semanas de uso diário seguidas por 6 semanas em dias alternados). O regime de dosagem padrão para o tratamento inicial da SN: 

  • Prednisona/prednisolona VO diária 60 mg/m2/dia ou 2 mg/kg/dia (máximo 60 mg/d) por 4 semanas, seguido por prednisona/prednisolona 40 mg/m2 ou 1,5 mg/kg (máximo 40 mg) em dias alternados por mais 4 semanas; ou  
  • Prednisona/prednisolona 60 mg/m2/dia ou 2 mg/kg/dia (máximo 60 mg/d) por 6 semanas, seguido por prednisona/prednisolona 40 mg/m2 ou 1,5 mg/kg (máximo 40 mg) em dias alternados por mais 6 semanas. 

GC diários não devem ser administrados rotineiramente durante episódios de infecções de vias aéreas superiores (IVAS) ou outras infecções para reduzir o risco de recaída em crianças com SNDC e com recaídas frequentes. 

  • Um tratamento curto com 3 doses extras de prednisona/prednisolona diária em baixa dosagem (0,5 mg/kg/dia) no início de IVAS pode ser considerado em crianças com SN frequentemente recidivante e SNDC que já estejam tomando prednisolona em baixa dosagem em dias alternados e tenham histórico de recaídas repetidas associadas à infecção ou morbidade significativa relacionada à prednisona/prednisolona. 

Recaídas subsequentes da SN – Tratamento e prevenção 

  • Abordagem inicial: prednisona ou prednisolona VO, dose única diária 60 mg/m²/dia ou 2 mg/kg/dia (máximo = 60 mg/dia), até que o paciente atinja remissão completa por 3 ou mais dias consecutivos; 
  • Após atingir a remissão completa na SNSE tratada por recaída, deve-se reduzir a prednisona/prednisolona VO para 40 mg/m² ou 1,5 mg/kg (máximo = 40 mg) em dias alternados por 4 semanas;  
  • SN de recaídas frequentes ou SNDC, sem toxicidade associada aos GC: o mesmo esquema terapêutico pode ser usado nas recaídas subsequentes. Entretanto, em crianças com sinais de toxicidade aos GC, devem ser consideradas estratégias poupadoras de corticosteroides mais robustas e/ou uma redução mais curta; 
  • SN nefrótica de recaídas frequentes, sem efeitos adversos graves relacionados aos GC: pode-se prescrever prednisona/prednisolona VO em baixa dose e em dias alternados (idealmente ≤0,5 mg/kg/dose) para prevenir recaídas; 
  • SN de recaídas frequentes que desenvolvem efeitos adversos graves relacionados aos GC, e para todas as crianças com SNDC: o KDIGO recomenda que sejam prescritos agentes poupadores de GC para a prevenção de recaídas, ao invés de não realizar nenhum tratamento ou continuar apenas com GC; 

Antes de iniciar agentes poupadores de GC (APG), os pacientes devem, idealmente, estar em remissão com o uso de GC. O KDIGO recomenda a coadministração de GC por, pelo menos, duas semanas após o início do tratamento com estes agentes, que incluem: 

  • Inibidores de calcineurina (ICN) VO (ciclosporina e tacrolimus); 
  • Ciclofosfamida; 
  • Levamisol; 
  • Micofenolato de mofetila (MMF); 
  • Rituximabe.  

A escolha do APG mais apropriado exige cautela, devendo ser considerados fatores específicos relacionados ao paciente, como recursos disponíveis, adesão ao tratamento, efeitos adversos e preferências da criança: 

  • SN de recaídas frequentes: ciclofosfamida VO e o levamisol; 
  • SNDC: MMF, rituximabe, ICN e, em menor grau, a ciclofosfamida VO. 

Tratamento da SNRC 

  • Recomenda-se o uso de ciclosporina ou tacrolimus como terapia de segunda linha inicial (1C). 

Situações especiais 

Indicação de biópsia:  

  • Crianças com síndrome nefrótica com ≥ 12 anos;  
  • SNRC ou falha subsequente em responder aos GC em casos previamente sensíveis (SN secundariamente sensível a corticosteroides); 
  • Sintomas sistêmicos sugestivos de hipocomplementemia, vasculite, entre outros; 
  • Insuficiência renal no início, que não seja relacionada à hipovolemia; 
  • Queda da função renal em crianças em uso de ICN ou com exposição prolongada a esses medicamentos (2 a 3 anos). 

Teste genético:  

  • SNRC; 
  • Formas congênita e infantil de SN (em crianças < 1 ano);  
  • SN associada a características sindrômicas; 
  • História familiar de SNRC ou de glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF). 

Cálcio/vitamina D: 

  • SNSC COM níveis normais de vitamina D: não é necessário realizar suplementação; 
  • SN de recaídas frequentes ou SNDC em crianças, ou deficiência conhecida de vitamina D: a suplementação VO com cálcio e vitamina D está indicada (prevenção de redução da massa mineral óssea). 

Proteção gástrica: 

  • SN na ausência de fatores de risco para gastrotoxicidade ou de sintomas gástricos: não há evidências suficientes de benefício para recomendar o uso profilático de inibidores da bomba de prótons (IBP).  

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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