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Pediatria20 outubro 2025

Influência do tempo de clampeamento do cordão umbilical em neonatos com RCIU

Estudo mostrou que clampeamento tardio do cordão em bebês com RCIU aumenta o risco de policitemia, mas sem elevar complicações neonatais graves
Por Amanda Neves

O clampeamento tardio do cordão umbilical melhora os parâmetros hematológicos do embora aumente o risco de policitemia. Esta condição, por sua vez, pode cursar com neonato, os seus estoques de ferro e auxilia na transição cardiovascular ao nascimento, letargia, hipoglicemia, hipocalcemia, icterícia e desconforto respiratório. 

A prática do clampeamento tardio é rotineiramente adotada na assistência ao recém-nascido termo e ao prematuro vigoroso salvo em condições especiais. Contudo, sabe-se que bebês com restrição do crescimento intrauterino (RCIU) são mais suscetíveis a complicações pós-natais como hipoglicemia, hipocalcemia, hipotermia e policitemia. Neste cenário, surgem preocupações quanto à possibilidade do clampeamento tardio do cordão potencializar a ocorrência de policitemia deste grupo e agravar suas complicações. 

Desenho de Estudo 

Neste contexto, foi realizado um estudo prospectivo, randomizado e controlado, com a finalidade de avaliar os efeitos do clampeamento tardio do cordão umbilical em neonatos com restrição do crescimento intrauterino (peso fetal abaixo do percentil 10 para a idade gestacional) diagnosticada durante o  período pré-natal e com idade gestacional ao nascimento igual ou superior a 28 semanas.  

O estudo foi conduzido no  Zekai Tahir Burak Women’s Health Training and Research Hospital na Turquia entre junho de 2017 e junho de 2018. Foram adotados como critérios de exclusão: presença de infecções ou anomalias congênitas, incompatibilidades de grupo sanguíneo, gestação múltipla, diabetes materno, hidropsia fetal, necessidade de reanimação neonatal e anormalidades do cordão umbilical, como nós ou prolapsos. 

Foram incluídos no estudo 100 recém-nascidos, alocados de forma randomizada em dois grupos com 50 participantes cada: grupo de clampeamento precoce do cordão umbilical, (realizado imediatamente após o nascimento) e grupo de clampeamento tardio (efetuado após 60 segundos). 

Os desfechos primários analisados foram os níveis de hematócrito e as taxas de policitemia (definida por hematócrito > 65%). As variáveis secundárias incluíram a ocorrência de: hipoglicemia nos dois primeiros dias de vida, dispneia, necessidade de internação em UTI ou de cuidados especiais, realização de transfusão parcial de troca e indicação de fototerapia (nos primeiros 10 dias de vida). Tais desfechos foram comparados entre os grupos: clampeamento precoce do cordão (CPC) e clampeamento tardio do cordão (CTC). 

Saiba mais: Comparação entre clampeamento tardio e imediato do cordão umbilical em prematuros

Resultados e Discussão 

Os desfechos primários foram analisados em 48 neonatos por grupo, uma vez que dois recém-nascidos de cada grupo necessitaram de reanimação neonatal, sendo, portanto, excluídos da análise estatística. Os grupos mostraram-se comparáveis quanto à idade gestacional, peso ao nascer, escores de Apgar, via de parto e características maternas. 

Observou-se, após 24 horas de vida, nível médio de hematócrito significativamente superior no grupo submetido ao clampeamento tardio (61,27% ± 5,93%) em comparação ao grupo de clampeamento precoce (57,42% ± 7,10%). De forma semelhante, a frequência de policitemia foi mais elevada no grupo CTC (31,3%) em relação ao grupo CPC (12,5%). 

Apesar do aumento da incidência de policitemia no grupo submetido ao clampeamento tardio, não se verificou incremento na necessidade de fototerapia por icterícia neste grupo. Cabe destacar que a restrição de crescimento intrauterino (RCIU) constitui, por si só, fator de risco para policitemia, em virtude do aumento da produção de eritropoetina decorrente da hipóxia intrauterina crônica, o que resulta em maior incidência dessa condição. 

O tempo mediano de clampeamento foi de 3 segundos no grupo CPC e de 60 segundos no grupo CTC. As taxas de dispneia, internação em unidade de terapia intensiva neonatal e ocorrência de hipoglicemia nos dois primeiros dias de vida foram similares entre os grupos. A transfusão parcial de troca foi necessária em um neonato do grupo CTC e em nenhum do grupo CPC. O recém-nascido submetido à transfusão apresentava 39 semanas de idade gestacional, peso ao nascer de 2.200 g e, devido à hipoglicemia, letargia e sucção ineficaz, necessitou de internação em unidade de terapia intensiva. Mesmo após a correção da glicemia, manteve-se letárgico, sendo o quadro atribuído à policitemia sintomática.  

Sabe-se que a policitemia sintomática pode contribuir para desfechos clínicos desfavoráveis e potencializar outras morbidades associadas à RCIU, especialmente no que se refere ao neurodesenvolvimento. Assim, embora o clampeamento tardio do cordão umbilical apresente benefícios reconhecidos, deve ser ponderado com cautela em neonatos com RCIU, dada a maior susceptibilidade desse grupo ao desenvolvimento de policitemia. 

Conclusão 

O estudo demonstrou um aumento no risco de ocorrência de policitemia associado ao clampeamento tardio do cordão umbilical, sem, entretanto, evidenciar incremento na incidência de desfechos clínicos adversos, tais como dispneia, necessidade de internação em unidade de terapia intensiva neonatal ou indicação de fototerapia. Ainda assim, faz-se necessária a realização de estudos adicionais para avaliar, de forma mais abrangente, a segurança e a aplicabilidade dessa conduta em populações consideradas de maior risco. 

Autoria

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Amanda Neves

Editora médica assistente da Afya ⦁ Residência de Pediatria pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ⦁ Graduação em Medicina pela UFPE

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