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Pediatria11 julho 2019

Hemoculturas e pneumonia adquirida na comunidade em pediatria

Em estudo, Fritz e colaboradores (2019), procuraram determinar características de crianças com pneumonia bacteriana, usando dados de hemoculturas.

A pneumonia é uma das causas mais comuns de hospitalização de crianças nos Estados Unidos, seja causada por bactérias, vírus ou simultaneamente por ambos os tipos de patógenos. No caso de pneumonias de etiologia bacteriana, a cultura continua a ser o método mais comum para identificação de patógenos.

As diretrizes nacionais americanas de 2011 para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade (PAC), publicadas pela Pediatric Infectious Diseases Society (PIDS) e pela Infectious Diseases Society of America (IDSA), recomendam a coleta de hemocultura (HMC) em todas as crianças internadas com PAC moderada a grave. Apesar disso, a classificação de doença moderada não foi explicitamente definida.

Os benefícios potenciais de uma hemocultura positiva na PAC incluem a capacidade de descalonamento de antibióticos, previsão de desfechos e avaliação da eficácia de vacinas. Mas o rendimento e o impacto das hemoculturas não foram ainda adequadamente estudados. Em uma meta-análise contendo estudos menores, os resultados da hemocultura foram raramente positivos entre as crianças com PAC. Além disso, o Streptococcus pneumoniae continua a ser o organismo bacteriano mais comum em casos de PAC com hemocultura positiva, e as recomendações para tratamento empírico já objetivam a abordagem deste patógeno.

Mais ainda, a contaminação de hemoculturas é relativamente comum e pode levar à exposição desnecessária da criança a antibióticos de amplo espectro e consequente prolongamento da hospitalização. Estudos anteriores que avaliaram a presença de bacteremia em crianças hospitalizadas com pneumonia são limitados por dados incompletos relacionados a hemoculturas

Prevalence, Risk Factors and Outcomes of Bacteremic Pneumonia in Children

Dessa forma, procurando determinar as características de crianças com pneumonia bacteriana usando dados de um grande estudo prospectivo utilizando hemoculturas, Fritz e colaboradores (2019) coordenaram o estudo Prevalence, Risk Factors, and Outcomes of Bacteremic Pneumonia in Children, publicado na edição de julho da revista Pediatrics

Neste estudo, foram analisados retrospectivamente dados colhidos de forma prospectiva em um estudo de vigilância ativa incluindo pacientes pediátricos com idade <18 anos, hospitalizadas por PAC em três hospitais infantis americanos, no período de 2010 a 2012. Culturas de sangue foram obtidas em 91% das 2358 crianças internadas, a maioria (93%) nas primeiras 24 horas.

Os seguintes resultados foram encontrados: 46 pacientes (2,2%) tiveram hemocultura positiva para um verdadeiro patógeno [os mais comuns foram: Streptococcus pneumoniae (46%), Staphylococcus aureus (13%) e Streptococcus pyogenes (9%)]. Os pacientes que receberam antibióticos antes da coleta de sangue tiveram uma menor prevalência de culturas positivas (0,82% versus 2,6%) e as hemoculturas positivas foram duas vezes mais prevalentes que as hemoculturas negativas em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI). Quase quatro vezes mais prevalentes em pacientes com derrame pleural. Por fim, pacientes com sibilância documentada à admissão tiveram uma menor prevalência de culturas positivas do que negativas, mas nenhuma diferença foi observada entre as crianças com patógenos virais detectados.

Considerações finais sobre o estudo

Conclui-se, neste estudo, que a bacteremia foi raramente detectada nesta grande coorte multicêntrica de crianças hospitalizadas com PAC, mas foi associada à doença grave, sendo o pneumococo o patógeno detectado com maior frequência. A hemocultura foi de baixo rendimento, em geral, mas sua importância pode ser maior em pacientes com derrame parapneumônico e naqueles admitidos em UTI

Embora as diretrizes recomendem que hemoculturas devam ser colhidas em crianças admitidas no hospital com PAC, o rendimento deste exame é baixo. Limitar a coleta de hemoculturas para crianças com derrame pleural, para aquelas admitidas em UTI, e possivelmente, para aquelas sem sibilos, provavelmente aumentarão o rendimento, reduzirão o isolamento de contaminantes e, certamente, reduzirão os custos (Quadro 1).

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que a hemocultura seja colhida em todos os pacientes pediátricos hospitalizados por PAC.

 

Referências: 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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