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Pediatria7 outubro 2025

Estudo compara VSR e metapneumovírus humano em pacientes pediátricos

Estudo compara VSR e metapneumovírus em crianças, revelando diferenças de idade, sazonalidade e risco de internação. Leia o resumo completo.

O vírus sincicial respiratório (VSR) e o metapneumovírus humano (MPVH) são patógenos com proximidade genética e figuram entre os principais responsáveis por infecções respiratórias agudas (IRA) em crianças. Pacientes pediátricos hospitalizados por VSR costumam apresentar idade inferior em comparação àqueles internados por MPVH. Além disso, a circulação do VSR geralmente ocorre antes da disseminação do MPVH. No entanto, pesquisas comparando a gravidade das doenças resultantes dessas duas infecções não têm consenso. Um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado na Pediatrics comparou a sazonalidade, apresentações clínicas e fatores de risco para doenças respiratórias graves associadas a ambos. 

Veja também: Metapneumovírus (hMPV): o que devemos saber?

metapneumovirus

Metodologia 

O estudo consistiu em uma análise por meio de vigilância ativa e prospectiva no período de dezembro de 2016 a março de 2020, em sete hospitais pediátricos e departamentos de emergência pediátrica (DEP) americanos.  

Os pacientes eram elegíveis para o estudo se tivessem uma doença com duração inferior a 14 dias e tivessem pelo menos um sinal ou sintoma de IRA qualificado, evento com risco de vida aparente ou evento inexplicável breve e resolvido. Os pacientes internados deveriam ser incluídos dentro de 48 horas da admissão.  

Os pacientes incluídos tinham menos de 18 anos e o nível mais elevado de atendimento no DEP ou na unidade de internação (UI) e testaram positivo para VSR ou MPVH com um teste molecular de vigilância ou clínico. As crianças podiam ser inscritas nas UI 5 ou mais dias por semana e no DEP 4 ou mais dias por semana, durante 6 ou mais horas por dia. A inscrição para pacientes internados ocorreu durante todo o ano. A elegibilidade por idade e o período de vigilância para inscrição no DEP variaram segundo o local antes de 2020. Foram excluídos pacientes com detecção simultânea de VSR e MPVH, mas outras detecções virais foram incluídas. 

Os dados foram coletados por meio de prontuários e de entrevistas com os pais. Swabs nasais de concha média foram coletados e testados para VSR e MPVH.  

Resultados 

Os pacientes incluídos no estudo foram: 

  • 3.276 crianças com consultas no DEP associadas ao VSR (n = 2.371) ou MPVH (n = 905), com medianas de idade 15 e 22 meses, respectivamente; 
  • 5.329 crianças internadas com VSR (n = 4.398) ou MPVH (n = 931), com medianas de idade 7 e 16 meses, nessa ordem. 

Crianças que foram atendidas no DEP com IRA associada ao VSR apresentaram maior probabilidade de serem hospitalizadas do que crianças com MPVH (odds ratio ajustada [aOR], 1,68; intervalo de confiança de 95% [IC 95%], 1,50-1,87), com as maiores probabilidades em bebês menores de 6 meses (aOR, 3,27; IC 95%, 2,53-4,23). Além disso, os pacientes internados com VSR tiveram probabilidades semelhantes de serem admitidas em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica UTIP (aOR, 1,10; IC de 95%, 0,92–1,33), ou de terem uma duração de internação maior ou igual a 3 dias (aOR, 0,99; IC de 95%, 0,85–1,15) em comparação com aquelas com MPVH. Os pesquisadores não observaram associação entre admissão em UTIP e MPVH. 

As manifestações clínicas de pacientes infectados com apenas um vírus (VSR ou MPVH), em comparação àqueles com coinfecção viral, foi geralmente semelhante, embora crianças internadas com qualquer um dos vírus e coinfecções tivessem menor probabilidade de apresentar saturação de oxigênio inferior a 90% do que aquelas com infecções únicas, e crianças com coinfecções por VSR tinham maior probabilidade de necessitar de ventilação mecânica (VM) do que crianças com VSR somente (3,6% vs 5,1%, P < 0,025). 

Com relação à sazonalidade, as detecções de VSR atingiram o pico em dezembro, variando de novembro a janeiro entre os locais e os anos. As detecções de MPVH tiveram o pico mais frequentemente em março e foram menos pronunciadas e mais variáveis ​​do que para o VSR, tendo picos específicos por local de outubro a junho ao longo dos 4 anos do estudo. O intervalo médio de picos de VSR e MPVH foi de 14 semanas (variando de 11 a 19 semanas) no geral, mas variou consideravelmente por local, de uma média de 3,3 semanas (Kansas City) a 20 semanas (Houston). 

Os pacientes com alguma comorbidade prévia apresentaram maiores chances de serem internados do que os pacientes sem comorbidades (VSR: aOR 2,53; IC 95% 2,18–2,97;MPVH: aOR 3,43; IC 95% 2,71–4,33). Da mesma forma, crianças com menos de 2 anos com histórico de prematuridade, infectadas por qualquer um dos dois vírus, tiveram maior probabilidade de internação em comparação às crianças sem esse histórico (VSR: aOR 1,62; IC 95% 1,37–1,92; MPVH: aOR 1,92; IC 95% 1,41–2,62). Por fim,  tiveram maiores chances de tempo de internação ≥3 dias e de admissão em UTIP em comparação às que não tinham tais condições, os pacientes com VSR ou MPVH e histórico de prematuridade ou de uma das seguintes condições: cardiovascular, gastrointestinal/hepática ou genética/metabólica, pulmonar (exceto asma), neurológica). As condições subjacentes foram o dobro das mais comuns entre bebês hospitalizados com MPVH (26%) do que entre aqueles com VSR (11%). 

Conclusão 

O estudo mostrou que VSR e MPVH são as principais causas de IRA graves em crianças. No entanto, os pesquisadores destacam que, embora a apresentação clínica e a gravidade da doença possam ser semelhantes, ambos os vírus afetam diferentes populações e faixas etárias, tendo tendências sazonais distintas. Dessa forma, à medida que novos produtos de prevenção contra VSR e MPVH se tornam disponíveis, será necessário o monitoramento contínuo da epidemiologia dos dois. 

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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