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Pediatria19 março 2025

Estudo analisa o papel de parques e recreação no tratamento da obesidade infantil

Ensaio clínico avaliou a eficácia do modelo Fit Together de tratamento da obesidade juvenil em comparação com o tratamento de rotina da obesidade na atenção primária

Conforme a diretriz de prática clínica da Academia Americana de Pediatria (AAP) de 2023, uma mudança intensiva de comportamento de saúde e estilo de vida é necessária para o tratamento da obesidade em pacientes pediátricos de 6 a 18 anos. Os parques públicos e centros de recreação (P&R) fornecem acesso gratuito ou de baixo custo para exercícios físicos e são acessíveis a populações diversas. O jornal Pediatrics trouxe um estudo com essa abordagem para avaliar a eficácia de uma parceria entre assistência médica e P&R para fornecer essa mudança. O artigo Using Parks and Recreation Providers to Enhance Obesity Treatment: A Randomized Controlled Trial foi publicado na edição de fevereiro de 2025. 

Metodologia 

O Hearts & Parks foi um ensaio clínico randomizado (ECR), controlado e cruzado, de dois braços, para avaliar a eficácia do modelo Fit Together de tratamento da obesidade juvenil em comparação com o tratamento de rotina da obesidade na atenção primária. De 2018 a 2021, o ECR foi conduzido com jovens obesos de 5 a 17 anos. Os participantes foram recrutados de clínicas de atenção primária de Durham, Carolina do Norte. Foram incluídos: 

  • Jovens de 5 a 17 anos com índice de massa corporal (IMC) de pelo menos o 95º percentil (IMCp95) para idade e sexo no momento do encaminhamento; 
  • Jovens e cuidadores que falassem inglês ou espanhol; 
  • Cuidadores que tivessem um dispositivo capaz de enviar e receber mensagens de texto.  

Os critérios de exclusão incluíam: 

  • Famílias que moram a mais de 32 km do programa comunitário; 
  • Jovens com causas endógenas ou genéticas da obesidade; 
  • Pacientes em uso de medicamentos que causam ganho ou perda de peso; 
  • Participação em um programa de tratamento da obesidade nos últimos 12 meses; ou 
  • Paciente ou cuidador com um problema de saúde significativo que limitaria a participação.  

Os médicos de atenção primária (primary care physician – PCP) eram alertados sobre participantes potencialmente elegíveis por um alerta de melhores práticas (best-practice alert – BPA) no registro eletrônico de saúde, durante as consultas de puericultura. O BPA foi programado especificamente para o estudo e surgia se um paciente atendesse aos critérios de inclusão. Os PCP poderiam optar por encaminhar o paciente para o estudo (com consentimento da família), por não participar (por exemplo, se a criança tivesse obesidade grave que a impedisse de participar ou comorbidades urgentes) ou recusar em nome da família. 

Os participantes foram randomizados para um controle de lista de espera ou para o programa Fit Together, uma intervenção de seis meses que inclui consultas clínicas em uma clínica pediátrica e sessões de estilo de vida em um centro de parques públicos e recreação. 

Desfechos primários, IMCp95 e frequência cardíaca (FC) submáxima foram coletados na linha de base e em seis meses. Foram usados modelos de equações de estimativa generalizadas ​​para avaliar mudanças nos desfechos primários para aqueles afetados e não afetados pelas interrupções do estudo devido à pandemia de covid-19. 

Resultados 

Foram incluídos 255 pacientes com média de idade de 10 anos. Destes 255, 39% eram hispânicos e 8%eram negros não hispânicos. Quase metade dos participantes (47,8%) eram do sexo masculino e mais da metade apresentava obesidade grau I (54,5%) 

Os jovens da intervenção Fit Together que foram não afetados pelas interrupções da pandemia apresentaram uma diminuição significativa no IMCp95 (β = −3,05; intervalo de confiança [IC] de 95%, −5,08 a −1,01) em comparação aos controles. No caso de jovens tanto do grupo controle quanto do grupo intervenção que foram afetados pelo isolamento da pandemia, não houve diferença no IMCp95 (β = −3,25; IC de 95%, −7,98 a 1,48). 

Os participantes da intervenção tiveram uma diminuição significativa no IMCp95 em comparação com os participantes do grupo controle (β = −3,32; IC de 95%, −5,69 a −0,96). A FC submáxima estava disponível apenas para o grupo não interrompido, mas não houve diferença entre os jovens da intervenção e do controle (β = −7,18; IC de 95%, −16,12 a 1,76). 

Conclusão 

O estudo mostrou que uma parceria entre PCP e P&R demonstrou eficácia na melhoria do IMC ao fornecer um programa projetado para proporcionar mudanças de comportamento de saúde e estilo de vida para crianças e adolescentes obesos. Todavia, os pesquisadores enfatizam que pesquisas futuras devem buscar entender melhor a heterogeneidade da resposta ao tratamento com relação à redução do IMC e outros desfechos de saúde relevantes, bem como vias para disseminação e a sustentabilidade dessa estratégia. 

Leia mais: Estudo aponta que 1 a cada 5 crianças do mundo está acima do peso

Comentário 

A obesidade infantil vem crescendo exponencialmente nos últimos anos, sendo um relevante problema de saúde pública global. Muito se deve ao fato de uma alimentação rica em produtos industrializados e um estilo de vida sedentário, evidenciado no século XXI pelo uso frequente de telas. Crianças precisam brincar, gastar energia, ter contato com a natureza. Achei o estudo muito interessante, já que mostra uma associação positiva entre a utilização dos parques e recreações e a redução do IMC. Pensando na prática diária do pediatra, o estudo reforça a ampla dimensão das abordagens multidisciplinares e comunitárias no manejo da obesidade infantil. O pediatra não atua sozinho nesse desafio. Além do atendimento clínico, ele deve encaminhar famílias para programas de educação física e nutricional em suas comunidades, o que pode facilitar a aderência ao tratamento. 

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Referências bibliográficas

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