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Pediatria17 maio 2025

ESPGHAN 2025: Inteligência artificial na histopatologia hepática

Diversas plenárias do ESPGHAN 2025, discutiram os impactos da IA dentro do cenário da histopatologia hepática
Por Jôbert Neves

A inteligência artificial (IA) tem revolucionado várias áreas da saúde, incluindo a patologia. A transição para a patologia digital, iniciada na década de 2010, permitiu transformar lâminas de vidro em imagens digitais de alta resolução, os chamados whole slide images (WSI), viabilizando o uso de IA para interpretar tecidos histológicos com precisão e rapidez. No campo da histopatologia hepática, essa transformação ainda está em fase inicial, mas já demonstra um enorme potencial, especialmente com a ascensão de modelos de deep learning e de fundação (foundation models), como os utilizados em IA generativa. Diversas plenárias do Congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2025) trouxeram impactos da IA dentro do cenário da especialidade.

espghan 2025

Panorama atual e avanços em tumores hepáticos

Embora a maior parte das soluções disponíveis atualmente esteja voltada à oncologia, principalmente mama e próstata, há esforços crescentes para aplicar a IA também na patologia hepática. Um exemplo promissor, apresentado no ESPGHAN 2025, está na predição da recorrência do carcinoma hepatocelular após cirurgia, utilizando modelos que integram dados clínicos, biológicos e histológicos, estes últimos extraídos por IA diretamente das lâminas digitais. Os resultados são encorajadores, com alta performance preditiva mesmo em validações externas, e com potencial de aplicação em ambientes hospitalares.

Veja também: Novas definições da doença hepática esteatótica metabólica e tratamento

IA em doenças hepáticas não-tumorais

Doenças como a esteato-hepatite metabólica (MASH), prevalente em adultos e crianças, são candidatas ideais para aplicação da IA. A biópsia hepática, apesar de ser padrão ouro, apresenta limitações como variabilidade entre observadores e avaliação apenas semi-quantitativa. Neste contexto, plataformas como AIM-NASH e HistoIndex vêm sendo desenvolvidas para uso em pesquisa e ensaios clínicos. Elas utilizam milhares de WSI para treinar modelos que não apenas classificam as lesões, mas também fornecem escores contínuos e mapas de calor, aumentando a acurácia e reprodutibilidade da análise histológica.

Outra abordagem avançada  discutida durante a sessão, inclui o uso de IA multimodal, integrando imagem histológica e transcriptômica para prever progressão da doença e eventos clínicos, como demonstrado em um estudo com pacientes com fibrose F3-F4. Esta estratégia identificou assinaturas gênicas associadas à progressão da MASH e destacou vias moleculares envolvidas.

Aplicações em hepatites e transplante hepático

Embora os estudos em hepatites autoimunes ainda sejam preliminares e com dados limitados, há modelos promissores capazes de identificar lesões histológicas com maior rapidez e consistência. Além disso, no campo do transplante hepático, modelos de aprendizado de máquina vêm sendo aplicados para prever rejeição de enxertos, priorizar alocação de órgãos e avaliar esteatose hepática em doadores com rapidez por meio de IA em lâminas coradas com  hematoxilina e eosina (H&E).

Conclusão

A aplicação da IA na histopatologia hepática está em franco desenvolvimento. Apesar de ainda ser restrita a centros de pesquisa e sem soluções comerciais amplamente disponíveis para fígado, os modelos atuais já demonstram grande potencial em diagnósticos, prognóstico e pesquisa clínica. A integração entre patologia digital, algoritmos robustos e infraestrutura adequada permitirá, no futuro próximo, uma transformação significativa na prática médica. Na prática clínica atual ainda é grande o desafio para realização e interpretação das biópsias hepáticas pediátricas no Brasil, sendo a IA uma potencial promessa de melhores resultados.

Confira os principais destaques do ESPGHAN 2025!

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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