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Pediatria17 maio 2025

ESPGHAN 2025: GLP-1 e novas opções em pediatria

Avanços em farmacoterapia: GLP-1 e novas opções, foi um dos tópicos discutidos durante a sessão de obesidade no ESPGHAN 2025.
Por Jôbert Neves

A obesidade infantil representa um dos maiores desafios de saúde pública. Sendo assim, diante da crescente prevalência global, compreender as estratégias eficazes de tratamento torna-se urgente, especialmente na população pediátrica. Esse tópico foi discutido durante o Congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2025), que está acontecendo na Finlândia.

Avanços em farmacoterapia: GLP-1 e novas opções

Nos últimos anos, medicamentos que atuam em vias centrais e gastrointestinais têm sido testados em faixas etárias pediátricas, com resultados promissores, veja os principais tópicos e evidências discutidas durante a sessão de obesidade no ESPGHAN 2025:

Liraglutida (GLP-1 diário)

  • Estudo publicado no New England Journal of Medicine (2020) avaliou adolescentes de 12 a 17 anos com obesidade.
  • Após 56 semanas, os participantes que utilizaram liraglutida apresentaram redução média do IMC de 4,6%, contra aumento de 0,6% no grupo placebo.
  • 43% dos adolescentes tratados perderam ≥5% do IMC, comparado a 19% no grupo controle.
  • Descontinuação do tratamento levou à recuperação do peso, evidenciando o papel crônico da terapia.

Semaglutida (GLP-1 semanal)

  • Estudo STEP TEENS (2022), randomizado, com adolescentes entre 12 e 18 anos.
  • Dose de 2,4 mg/semana resultou em redução média de 16,1% do IMC após 68 semanas, em comparação a 0,6% de redução com placebo.
  • 73% dos adolescentes tratados perderam ≥5% do IMC, e 45% perderam ≥20%.

Houve melhora significativa em parâmetros metabólicos, incluindo:

    • Redução da HbA1c,
    • Redução de ALT,
    • Melhorias no perfil lipídico (redução de LDL, VLDL, triglicérides e aumento de HDL).

Os principais efeitos adversos foram gastrointestinais (náusea, diarreia, constipação), geralmente leves a moderados.

Veja também: Obesidade infantil e agonistas do receptor GLP-1: um marco na terapia? 

Tratamentos para obesidade monogênica

Para casos de obesidade grave de origem genética (ex.: mutações em LEPR, POMC ou MC4R), novas terapias direcionadas estão sendo usadas com sucesso:

  • Setmelanotida (agonista do receptor de melanocortina 4 – MC4R):
    • Estudos de fase 3 mostraram redução significativa do peso e do apetite em pacientes com POMC e deficiência do receptor de leptina.
    • Melhor controle de comorbidades metabólicas.
    • Tratamento aprovado em algumas agências regulatórias para obesidade monogênica.

Cirurgia bariátrica em adolescentes: Quando e como? Ainda existe espaço?

Embora rara, a cirurgia bariátrica tem sido utilizada em casos de obesidade grave e refratária, especialmente entre adolescentes:

  • Estudos suecos com seguimento de 15 anos demonstram que a cirurgia pode:
    • Reduzir o IMC de forma sustentada,
    • Melhorar ou resolver comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia, esteatose hepática e apneia do sono.
    • A cirurgia mais comum é o sleeve gástrico, embora possa causar refluxo severo e hipoglicemia reativa.
  • Acompanhamento multidisciplinar de longo prazo é essencial, incluindo:
    • Avaliação nutricional,
    • Monitoramento ósseo e muscular,
    • Apoio psicológico.

Conclusão e mensagem prática

Apesar dos desafios, os avanços científicos transformaram o panorama do tratamento da obesidade infantil. Intervenções familiares com foco em mudança do estilo de vida, novas farmacoterapias  especialmente com agonistas de GLP-1  e, em casos selecionados, cirurgia metabólica, oferecem resultados clínicos relevantes e sustentáveis.

Ainda assim, o sucesso depende de uma abordagem individualizada e compassiva, com foco nos quatro pilares fundamentais:

  1. Alimentação saudável, com educação nutricional;
  2. Atividade física regular, adaptada à realidade da criança;
  3. Qualidade do sono, essencial para regulação hormonal;
  4. Saúde emocional e apoio psicológico, fundamentais para adesão e autoestima.

Obesidade não é uma falha de caráter, mas uma condição médica crônica e complexa. Tratar crianças e adolescentes com obesidade é investir na saúde do futuro  com ciência, humanidade e compromisso. No Brasil, ainda existe uma grande barreira de custo para os tratamentos medicamentosos, além dos grandes desafios para o manejo multidisciplinar dos pacientes pediátricos com obesidade.

Confira os principais destaques do ESPGHAN 2025!

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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