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Pediatria19 maio 2025

ESPGHAN 2025: Gastrites autoimune, colagenosa e linfocítica na infância

As gastrites autoimune, colagenosa e linfocítica são doenças inflamatórias gástricas raras em crianças, frequentemente subdiagnosticadas e pouco compreendidas.
Por Jôbert Neves

As gastrites autoimune, colagenosa e linfocítica são entidades inflamatórias gástricas raras na população pediátrica, frequentemente subdiagnosticadas e pouco compreendidas. Tradicionalmente, o foco dos estudos em gastrite esteve centrado na Helicobacter pylori (HP), mas com o avanço das investigações, essas formas menos comuns vêm ganhando atenção, especialmente devido à sua associação com outras doenças autoimunes e ao risco de complicações sérias, como anemia refratária e até neoplasias gástricas. Aspectos relacionados ao diagnóstico e manejo dessas condições foram discutidos durante o Congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2025), veja abaixo de forma objetiva:

espghan 2025

Gastrite autoimune

A gastrite autoimune é caracterizada pela destruição autoimune das células parietais gástricas, levando à atrofia da mucosa do corpo gástrico, acloridria e perda do fator intrínseco, com consequente risco de deficiência de vitamina B12 e desenvolvimento de tumores neuroendócrinos (NETs) e adenocarcinomas.

  • Fisiopatologia: Envolve autoanticorpos contra células parietais, bomba de prótons e fator intrínseco, além de ativação de linfócitos T e alteração da microbiota gástrica;
  • Manifestações clínicas: Incluem anemia ferropriva (frequentemente refratária), deficiência de B12 com possíveis manifestações neurológicas e associação com doenças autoimunes como tireoidite de Hashimoto e diabetes tipo 1;
  • Diagnóstico: Depende da confirmação histológica, não sendo suficiente a positividade sorológica isolada. Níveis de pepsinogênio e gastrina não são específicos;
  • Tratamento e seguimento: Não há terapia específica; a suplementação de micronutrientes é essencial. Inibidores de bomba de prótons (IBPs) devem ser evitados. A vigilância endoscópica é recomendada, mas sem protocolos definidos. Em crianças, os dados são escassos, mas estudos recentes mostram alta prevalência de metaplasia ao longo do tempo, e casos raros de NET.

Gastrite colagenosa

Descrita pela primeira vez em 1989, caracteriza-se por um espessamento da banda subepitelial de colágeno visível à histologia.

  • Epidemiologia: Extremamente rara em crianças. Estudos mostram prevalência muito baixa em grandes bancos de dados, com poucos relatos pediátricos;
  • Manifestações clínicas: Anemia ferropriva persistente é comum; outros sintomas incluem dor abdominal e perda de peso. Ao contrário dos adultos (diarreia associada à colite colagenosa), nas crianças a doença geralmente se restringe ao estômago;
  • Associações: Doença celíaca, linfocitose duodenal e outras doenças autoimunes;
  • Tratamento: Não há diretrizes. O foco é a reposição de ferro e tratamento sintomático. Corticosteroides como budesonida têm sido utilizados, mas sem padronização. Reavaliações endoscópicas mostram persistência da deposição de colágeno, mesmo com melhora clínica.

Gastrite Linfocítica

Marcada pelo aumento de linfócitos intraepiteliais (>25 por 100 células epiteliais), pode estar associada a diversas condições, como doença celíaca, uso de medicamentos (AINEs, antagonistas da angiotensina II), doenças autoimunes e infecção por HP.

  • Manifestações clínicas: Inespecíficas, podendo incluir sintomas gastrointestinais leves ou ausência total de sintomas.
  • Diagnóstico: Requer contagem de linfócitos intraepiteliais na histologia. Pode haver aparência endoscópica normal ou padrão nodular (gastrite varioliforme).
  • Tratamento: Inclui uso de IBPs (se sintomáticos), reposição de ferro, retirada de medicamentos associados e erradicação do HP, quando presente. Em caso de associação com doença celíaca, a dieta isenta de glúten é indicada.
  • Prognóstico: Geralmente benigno, com reversão histológica após tratamento da causa subjacente (por exemplo, erradicação do HP).

Veja também: Fatores associados à resistência antimicrobiana do H. pylori em pediatria

 

Conclusão

Embora raras, as gastrites autoimune, colagenosa e linfocítica têm sido cada vez mais reconhecidas em crianças, especialmente com o avanço das técnicas endoscópicas e maior atenção dos profissionais de saúde. A associação com outras doenças autoimunes, os riscos de deficiência nutricional e as potenciais complicações neoplásicas justificam maior vigilância clínica e a criação de registros multicêntricos. O estudo europeu multicêntrico atualmente em andamento visa justamente preencher essas lacunas de conhecimento.

Mensagens Práticas

  • Suspeite de gastrite autoimune em crianças com anemia ferropriva refratária, especialmente se houver histórico familiar ou pessoal de doenças autoimunes.
  • Evite IBPs em casos confirmados de gastrite autoimune, pois podem agravar alterações epiteliais.
  • Lembre-se da gastrite colagenosa ao investigar anemia persistente com endoscopia mostrando nódulos ou pseudopólipos gástricos.
  • A presença de linfocitose intraepitelial deve levantar a suspeita de gastrite linfocítica, especialmente se associada a doença celíaca ou infecção por HP.

Confira os principais destaques do ESPGHAN 2025!

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