O interesse por dietas à base de plantas tem aumentado significativamente nos últimos anos, impulsionado por motivações éticas, ambientais, culturais e pela percepção de benefícios à saúde. Essa tendência também alcança a população pediátrica, levantando questões importantes sobre a segurança nutricional durante fases críticas do crescimento e desenvolvimento.
Embora a prática de excluir alimentos de origem animal não seja nova, com raízes históricas em culturas como a indiana e tradições como o Jainismo, seu crescimento atual em países ocidentais, como parte de estilos de vida modernos, desafia profissionais de saúde a fornecerem orientações baseadas em evidências. No entanto, ainda existem divergências entre as sociedades pediátricas quanto à adequação das dietas vegetarianas e veganas para crianças. Nesse contexto, durante o Congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, esses tópicos foram discutidos de forma clara e objetiva.
Vale lembrar que as dietas plant-based incluem um amplo espectro, desde o flexitarianismo (com consumo ocasional de carnes) até o veganismo estrito (com exclusão total de produtos de origem animal, como leite, ovos e até mel). A adoção de dietas vegetarianas ou veganas entre crianças é crescente, especialmente na Europa, onde cerca de 3,4% da população se declara vegana.
As motivações das famílias que optam por esse padrão alimentar variam, e pediatra deve compreender essas razões, são elas:
- Éticas: Bem-estar animal e direitos dos seres vivos
- Ambientais: Impacto da agropecuária e mudanças climáticas
- Culturais ou religiosas: Como tradições orientais e espiritualistas
- Percepção de saúde: Associação a menor risco de doenças crônicas
De fato, em adultos, há evidências de que dietas à base de vegetais estão associadas à redução do risco de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer. Os alimentos vegetais são ricos em fibras, vitaminas, minerais, fitoquímicos e têm baixa densidade energética, o que favorece parâmetros metabólicos e inflamatórios.
Contudo, em crianças, ainda não há evidência robusta de benefícios em longo prazo para a saúde. Estudos observacionais sugerem que crianças veganas apresentam um perfil lipídico mais favorável (menor colesterol total e LDL) e uma relação mais equilibrada entre adipocinas pró e anti-inflamatórias. Por outro lado, podem apresentar níveis mais baixos de HDL.
A questão da adequação proteica é frequentemente levantada. Apesar da menor biodisponibilidade das proteínas vegetais, estudos mostram que crianças veganas e vegetarianas atendem às recomendações proteicas, desde que a dieta seja diversificada e bem planejada. Dados do estudo alemão VEggie study (2019) demonstraram que crianças de diferentes padrões alimentares (onívoras, vegetarianas e veganas) apresentavam crescimento dentro dos padrões normais.
A composição do leite materno de mães veganas, por exemplo, pode ter menor concentração proteica, mas isso não tem se traduzido em prejuízo ao crescimento de seus filhos, desde que outros aspectos da dieta sejam bem acompanhados.
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Conclusão
Dietas plant-based bem planejadas podem ser seguras e nutricionalmente adequadas durante a infância. Embora faltem evidências definitivas sobre benefícios a longo prazo em crianças, dados atuais são tranquilizadores quanto à sua segurança. A adoção dessas dietas pode ter implicações positivas não apenas para a saúde individual, mas também para o meio ambiente, contribuindo para a redução da emissão de gases do efeito estufa e da degradação ambiental associada à agropecuária intensiva.
Contudo, crianças não são adultos em miniatura, e suas necessidades nutricionais específicas exigem monitoramento rigoroso, planejamento adequado e, frequentemente, suplementação. O papel dos profissionais de saúde é fundamental nesse processo.
Mensagens práticas:
- Monitoramento do crescimento e desenvolvimento deve ser feito de forma rotineira em todas as crianças, independentemente do padrão alimentar;
- Aconselhamento nutricional com especialistas é altamente recomendado para crianças em dietas vegetarianas ou veganas;
- Ingestão proteica adequada deve ser assegurada, com atenção à diversidade de fontes vegetais de proteína;
- Micronutrientes críticos que requerem atenção e possível suplementação:
- Vitamina B12
- Vitamina D
- Ferro
- Cálcio
- Ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (como DHA)
- Adaptações alimentares conscientes (como uso de alimentos fortificados e combinações nutricionais) podem evitar deficiências nutricionais.
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