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Pediatria20 outubro 2024

EAPS 2024: Tosse crônica em crianças - quando investigar?

Por Jôbert Neves

A tosse crônica em crianças é um problema comum e muitas vezes negligenciado, mas pode ter consequências sérias se não for devidamente diagnosticada e tratada. Durante o 10º Congresso da Academia Europeia de Sociedades Pediátricas (EAPS 2024), a Dra. Angela Zacharjasiewicz explorou como os pediatras devem abordar a tosse crônica, enfatizando a importância da história clínica detalhada, a identificação de sinais de alerta e a compreensão dos mecanismos por trás da tosse para decidir quando investigações adicionais são necessárias. 

Como definir tosse crônica?  

 A tosse crônica é definida como uma tosse que dura mais de quatro semanas em crianças. É diferente de infecções agudas recorrentes, onde a criança pode ter episódios de tosse, mas com períodos de recuperação completa entre eles. Esta distinção é crucial porque a tosse crônica pode indicar um processo patológico em andamento que, se ignorado, pode levar a complicações como danos aos pulmões ou diagnósticos atrasados de condições potencialmente mais sérias como asma, infecções ou anormalidades estruturais nos pulmões. 

Fique atento às consequências da tosse crônica 

  • Impacto físico e emocional: A tosse crônica pode causar problemas significativos tanto para a criança quanto para a família. Frequentemente leva a distúrbios do sono nas crianças, o que, por sua vez, afeta suas atividades diárias, como o desempenho escolar, devido à falta de sono reparador.
  • Estresse familiar: Pais de crianças com tosse crônica podem experimentar ansiedade e estresse, contribuindo para um ambiente familiar tenso. Isso também pode levar a atrasos nos cuidados médicos, já que alguns pais podem hesitar em procurar ajuda se acreditarem que a tosse é apenas “normal”. 
  • Diagnóstico atrasado: Ignorar ou subestimar a tosse crônica pode levar à progressão de condições subjacentes, como infecções crônicas ou doenças pulmonares, tornando a identificação e o tratamento precoces críticos. 

Veja também: Quiz: paciente pediátrico com queixa de tosse produtiva e dispneia. O que será?

Entendendo os mecanismo da tosse 

 A tosse é um reflexo iniciado por receptores especializados localizados nas vias aéreas, principalmente nas partes centrais, como a traqueia e os brônquios maiores. 

  • Tipos de receptores de tosses: 
  • Mecanorreceptores: Esses reagem rapidamente a estímulos mecânicos, como objetos estranhos ou irritantes. 
  • Quimiorreceptores: Esses reagem a estímulos químicos e geralmente respondem mais lentamente. 
  • Os reflexos de tosse são regulados centralmente pelo cérebro, envolvendo tanto o nervo vago quanto os caminhos do sistema nervoso parassimpático. 
  • Perspectiva Clínica: A localização desses receptores explica por que doenças nas vias aéreas centrais tendem a produzir tosse mais pronunciada, enquanto doenças que afetam as áreas pulmonares periféricas podem não desencadear tanta tosse, o que pode atrasar o reconhecimento dessas condições. 

 Como conduzir este paciente? Veja sobre o diagnóstico e Investigação: 

História Clínica Detalhada e Apresentação Clínica:

  • Coletar uma história clínica detalhada é o primeiro e mais importante passo na avaliação da tosse crônica. Os pediatras devem se concentrar em fazer as perguntas certas relacionadas ao início, duração, gatilhos e características da tosse. 
  • Perguntas Chave (Os “3 T’s e 3 S’s”): Tempo, Tendência e Gatilhos (Triggers): Quando a tosse começou? Está piorando? O que desencadeia a tosse (por exemplo, atividade física, alimentação, exposição a alérgenos)? 
  • Som, Sintomas e Sinais: Como é o som da tosse (úmida ou seca)? Há sintomas associados como febre ou chiado? Sinais de falta de desenvolvimento ou perda de peso? 

 Sinais de Alerta: Atenção especial deve ser dada a sinais de alerta, como: 

  •  Tosse começando logo após o nascimento; 
  • Agravamento dos sintomas ao longo do tempo; 
  • Tosse desencadeada pela alimentação (sugerindo broncoaspiração); 
  • Tosse persistente, que pode indicar infecção bacteriana ou doença pulmonar crônica; 
  • Sinais de falta de desenvolvimento ou sintomas sistêmicos como perda de peso, febre ou suor noturno 

Principais Ferramentas Diagnósticas: 

Raio-X de tórax e espirometria: Estes são essenciais na avaliação da tosse crônica e podem ajudar a identificar problemas estruturais subjacentes nos pulmões ou obstruções das vias aéreas. 

Veja quais são os nove grupos principais de pacientes com tosse crônica, cada um com suas características e necessidades de manejo específico: 

  • Bronquite bacteriana prolongada pós-infecciosa: Uma causa comum de tosse crônica em crianças. 
  • Anomalias das vias aéreas: Condições estruturais que podem resultar em tosse persistente. 
  • Inflamação crônica das vias aéreas: Como asma e outras doenças inflamatórias. 
  • Aspiração das vias aéreas: Especialmente comum em crianças com problemas de deglutição ou refluxo. 
  • Infecções de vias aéreas superiores: Embora menos comum em crianças do que em adultos, problemas nas vias aéreas superiores também podem causar tosse. 
  • Síndrome da tosse psicossomática: Tosse que pode ser relacionada a fatores emocionais ou psicológicos. 
  • Efeitos colaterais de medicamentos: Certos medicamentos podem causar tosse. 
  • Doenças pulmonares: Outras condições pulmonares que não se enquadram nas categorias acima. 
  • Bronquiectasias: Apresentadas como tosse úmida crônica e produtiva, essa condição deve ser investigada quando há sinais de infecção persistente. 

Mensagem para casa: 

  • Tosse crônica em crianças é definida como uma tosse que dura mais de quatro semanas; 
  • A abordagem inicial deve focar na redução ou remoção de causas potenciais, avaliando sinais de alerta como falta de resposta a antibióticos ou sintomas de asma que não melhoram; 
  • A avaliação cuidadosa da história clínica é crucial, e o seguimento contínuo é necessário para garantir que o tratamento esteja funcionando e evitar o progresso de doenças graves subjacentes. 

Veja todos os destaques do evento aqui!

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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