A doença meningocócica invasiva (DMI), causada pela bactéria Neisseria meningitidis, é uma infecção grave, caracterizada por evolução rápida e alta letalidade, podendo levar a óbito em 24 a 48 horas após o início dos sintomas. Além disso, sua apresentação inicial costuma ser inespecífica, dificultando o diagnóstico precoce e agravando o risco de mortalidade.1
As complicações associadas são frequentes e graves, incluindo amputações, cicatrizes, déficits neurológicos e perda auditiva. Ademais, os sobreviventes frequentemente apresentam sequelas cognitivas e transtornos psicológicos que comprometem significativamente a qualidade de vida, especialmente em crianças, e podem persistir por anos.1,2
Epidemiologia e riscos
Em 2024, o sorogrupo B foi responsável por 55,9% dos casos de meningite meningocócica no Brasil. Para efeito comparativo, a letalidade da dengue é de 0,05%, enquanto a DMI teve uma letalidade de 22%, o que reforça a gravidade da doença.3,4
Crianças menores de 1 ano são particularmente vulneráveis no país, com o sorogrupo B respondendo por cerca de 73% dos casos nessa faixa etária e uma taxa de letalidade aproximada de 26%. Em surtos recentes, como o ocorrido em Maceió em 2023, a letalidade chegou a 66% entre lactentes, evidenciando ainda mais a severidade da doença nesse grupo.3,5,6
A prevenção primária é essencial
A vacinação representa a estratégia mais eficaz contra a DMI. Atualmente, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece a vacina MenC para crianças menores de 1 ano e a MenACWY para adolescentes. Contudo, as vacinas MenB e MenACWY indicadas para aplicação no primeiro ano de vida permanecem disponíveis apenas na rede privada.7
Nesse contexto, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) prevê para julho a abertura de consulta pública para avaliar a incorporação da vacina meningocócica B no PNI para bebês entre 3 e 12 meses. A iniciativa representa uma oportunidade relevante para ampliar a proteção imunológica dos grupos mais vulneráveis.8
O papel do médico pediatra
O médico pediatra desempenha um papel fundamental na orientação das famílias sobre a gravidade da DMI, na recomendação do esquema vacinal completo — incluindo vacinas disponíveis na rede privada — e no incentivo à participação na consulta pública. Essas ações são essenciais para prevenir complicações graves e proteger vidas.1,9
Autoria

Bárbara Carvalho Santos dos Reis
Mestre e Doutoranda em Saúde Materno-Infantil (IFF/FIOCRUZ) • Residência médica em Pediatria pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ) • Residência médica em Alergia e Imunologia Pediátrica no Instituto Fernandes Figueira (IFF/FIOCRUZ) • Mestre em Saúde Materno-Infantil (IFF/FIOCRUZ) • Graduação em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (UNESA) • Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) • Membro da Rede Nacional de Genômica para Erros Inatos dos Imunidade (RENOMIEII) da FIOCRUZ • Preceptora da residência médica de Alergia e Imunologia Infantil do Instituto Fernandes Figueira (IFF/FIOCRUZ) • Instagram: @barbarareis.pediatra
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