A crescente prevalência de sobrepeso e obesidade entre mulheres em idade fértil tem aumentado a exposição fetal a condições metabólicas adversas, como o diabetes mellitus gestacional (DMG). Essas condições estão associadas a alterações no crescimento infantil e ao risco aumentado de obesidade na infância. Evidências sugerem que a qualidade da dieta materna pode modular esses efeitos, influenciando positivamente o crescimento e a composição corporal da criança. Para melhor avaliar e construir evidências sobre o tema, um estudo publicado no Journal of Pediatric Gastroenterelogy and Nutrition (JPGN) investigou a influência da dieta materna e do DMG sobre o crescimento infantil até os 24 meses de idade.
Para este fim, o estudo utilizou dados de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com 439 gestantes com sobrepeso/obesidade recrutadas na Finlândia. Foram incluídas 378 crianças com pelo menos uma medida de crescimento disponível até os 24 meses. A dieta materna foi avaliada no início (13,9 ± 2,1 semanas) e no final da gestação (35,2 ± 0,98 semanas) por meio de diários alimentares de 3 dias e do Índice de Qualidade da Dieta (IDQ). O potencial inflamatório da dieta foi estimado pelo Dietary Inflammatory Index (DII®). O diagnóstico de DMG foi realizado por teste oral de tolerância à glicose. As medidas de crescimento infantil (peso, altura, circunferência cefálica e composição corporal) foram coletadas em cinco momentos: nascimento, 3, 6, 12 e 24 meses. Dentre os resultados, temos:
- Dieta materna de boa qualidade no início da gestação foi associada a maior estatura infantil em todos os pontos de avaliação (diferença média ajustada: 0,28–0,30 DP; p < 0,05) e maior circunferência cefálica aos 12 e 24 meses (diferença média ajustada: 0,38–0,42 DP; p < 0,05).
- Boa qualidade da dieta no final da gestação foi associada a menor massa gorda aos 24 meses (diferença média ajustada: −0,69 kg; p < 0,05).
- Maior potencial inflamatório da dieta (DII) correlacionou-se com menor estatura e maior peso aos 24 meses.
- DMG foi associada a menor circunferência cefálica ao nascimento e aos 6 meses (diferença média ajustada: −0,22 a −0,43 DP; p < 0,05).
- Não foram observadas associações significativas entre obesidade materna isolada e crescimento infantil.
Conclusão
De fato, este estudo reforça que, uma dieta materna de boa qualidade, especialmente com baixo potencial inflamatório, está associada a um crescimento mais favorável em crianças até os 24 meses, incluindo maior estatura, maior circunferência cefálica e menor adiposidade. Por outro lado, o DMG pode impactar negativamente o desenvolvimento craniano precoce. Esses achados reforçam a importância de intervenções nutricionais precoces em gestantes com sobrepeso ou obesidade como estratégia para promover o crescimento saudável da criança.
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Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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