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Pediatria5 dezembro 2025

Determinantes sociais de saúde e prevalência de delirium em UTIP

Entenda como fatores clínicos e sociais influenciam o delirium em crianças internadas na UTI pediátrica e os impactos desse quadro nos desfechos hospitalares

delirium, uma forma comum de disfunção cerebral aguda em pacientes pediátricos críticos, está associado a piores desfechos, como internações mais prolongadas, maior mortalidade e redução da qualidade de vida após a alta. Os fatores de risco incluem idade mais jovem, gravidade da doença, ventilação mecânica (VM) e exposições iatrogênicas, como sedação profunda e uso de benzodiazepínicos. Evidências emergentes também sugerem que os determinantes sociais da saúde (DSS) influenciam os desfechos em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) e um estudo muito interessante publicado no periódico Pediatric Critical Care Medicine explorou a associação entre determinantes geoespaciais de saúde e prevalência de delirium em pacientes pediátricos sob cuidados intensivos internados em uma única UTIP entre 2014 e 2015.  

Metodologia 

O estudo consistiu em uma análise secundária não pré-especificada de um conjunto de dados do estudo observacional “A Prospective Longitudinal Assessment of Pediatric Delirium, Associated Risk Factors and Short Term Outcomes in Pediatric ICU Patients”, publicado em 2017. Foram incluídas todas as crianças admitidas durante um período de 12 meses entre 2014 e 2015 em uma UTIP de um hospital universitário terciário urbano. Somente a primeira admissão por paciente foi incluída nesta análise. 

Resultados 

Foram contabilizadas 1547 admissões, com 1264 pacientes identificados individualmente, com subgrupos de raça e etnia registrados para 961 (76%), tipo de plano de saúde para 1240 (98%) e idioma para 1227 (97%). Para medidas de fatores sociais, ambientais e relacionados à saúde, os pesquisadores utilizaram o Child Opportunity Index (COI) 2.0, determinado pelo setor censitário de 2010 do paciente e disponível para 1246 (98%).  

Os dados foram agrupados de 1 a 5 (muito baixo a muito alto). O delirium esteve presente em 193 pacientes (15,3%) durante a internação na UTIP. Esses pacientes desenvolveram delirium durante um total de 903 dias na UTIP. A mediana de duração do delirium foi de 2 dias. A frequência do fenótipo foi hipoativo em 406/903 (45%), hiperativo em 79/903 (9%) e mista em 418/903 (46%) dias de delirium. 

As taxas mais elevadas de delirium ocorreram em crianças asiáticas/das ilhas do Pacífico (26/193), negras não hispânicas (29/193) e hispânicas (39/193) em comparação com crianças brancas não hispânicas (n = 45/193; p < 0,001). O delirium foi mais frequente em pacientes com seguro público (113/573 [20%]) em comparação com aqueles com plano privado de saúde (67/583 [12%]) e aqueles com “outras” (8/84 [10%]) formas de suporte (p < 0,001). Os pesquisadores não conseguiram identificar diferenças nas taxas de delirium por preferência de idioma. Uma maior prevalência estava presente entre os pacientes nos grupos de menor COI (1-3) em comparação com os mais altos (4-5; 135/748 [18%] vs. 55/494 [11%]; p = 0,003). 

Por fim, na análise multivariável, o COI foi associado a maiores probabilidades ajustadas de delirium (após ajuste para outros preditores demográficos e clínicos, incluindo idade, atraso de desenvolvimento, gravidade da doença na admissão, necessidade de VM invasiva, profundidade da sedação e exposição a medicamentos), com razão de chances ajustada de 1,55 (intervalo de confiança de 95% [IC 95%], 1,05–2,3; p = 0,028). 

Leia mais: Delirium em UTI Neonatal

Conclusão 

delirium é um desfecho indesejado em UTIP e a prevenção requer conscientização sobre os fatores de risco e comprometimento com estratégias ambientais e de manejo. O presente estudo mostrou que um menor COI está associado a maiores chances de desenvolver delirium, uma relação que pode ser modificável. No entanto, há necessidade de pesquisas adicionais sobre os possíveis mecanismos dessa relação.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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Referências bibliográficas

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