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Pediatria18 outubro 2019

Delirium em uma UTI Pediátrica terciária: fatores de risco e desfechos

O delirium em UTIP está associado a inúmeras complicações, incluindo maior tempo de permanência na unidade e aumento da mortalidade.

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O delirium em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) está associado a inúmeras complicações, incluindo maior tempo de permanência na unidade e aumento da mortalidade. Objetivando determinar quais são os fatores de risco e os desfechos associados em pacientes pediátricos em uma UTIP terciária, Dervan e colaboradores (2019) realizaram um estudo de coorte retrospectivo, intitulado Delirium in a Tertiary PICU: Risk Factors and Outcomes, e recentemente publicado na revista Pediatric Critical Care Medicine.

paciente com delirium na UTIP

Delirium em pacientes pediátricos

O estudo foi realizado em uma UTIP de 32 leitos em um hospital infantil acadêmico de atendimento terciário em Seattle, Estados Unidos. Todas as crianças internadas na unidade no período de 1° de março de 2014 a °1 de outubro de 2016 foram avaliadas pelo menos uma vez utilizando-se a ferramenta Cornell Assessment of Pediatric Delirium (CAP-D) (n = 2.446). Não foram realizadas quaisquer intervenções.

Resultados

A CAP-D foi aplicada duas vezes ao dia como padrão de atendimento. Utilizando a CAP-D, o delirium foi caracterizado como: 

  • Presença de um escore positivo (CAP-D ≥ 9);
  • Número de dias com escore positivo. 

Os autores construíram modelos multivariáveis ​​de regressão logística e linear usando dados de prontuários eletrônicos. 

Os resultados encontrados foram:

  • Muitos pacientes (n = 1.538; 63%) tiveram uma estadia curta (<48 horas) e menos delirium comparados aos pacientes que permaneceram por um período igual ou superior a 48 horas (30% versus 69%; p <0,0001); 
  • Nos 908 pacientes com tempo de permanência maior ou igual a 48 horas, a presença de delirium foi independentemente associada à idade inferior a 2 anos, à presença de disfunção cognitiva, ao diagnóstico primário e à duração da ventilação mecânica; 
  • Os benzodiazepínicos demonstraram um efeito dose-resposta (odds ratio para presença de delirium, 1,8 (p = 0,03), 3,4 (p <0,001) e 9,7 (p = 0,005) para <25º percentil, 25-75º percentil e> 75º da dose total, respectivamente, versus nenhuma exposição);
  • Em termos de desfechos, a presença de delirium foi associada independentemente ao aumento da permanência na UTIP (p <0,001), enquanto os dias de delirium foram associados independentemente ao declínio da função cognitiva desde a admissão na UTIP até a alta (odds ratio 1,06; p <0,001), aumento da permanência na UTIP (p <0,001) e aumento da permanência no hospital (p <0,001). 

Nem a presença e nem o número total de dias com delirium foram independentemente associados à mortalidade.

LEIA TAMBÉM: Desmame de benzodiazepínicos em UTIP – o que precisamos saber

paciente com delirium na UTIP

Conclusão

Este estudo mostra que o delirium é comum em UTIP, principalmente entre pacientes com tempo de permanência maior ou igual a 48 horas. Além disso, é independentemente associado às características do paciente e às exposições na UTIP, incluindo benzodiazepínicos. Contudo, o papel do delirium como um fator causal independente nos desfechos do paciente requer investigações mais aprofundadas.

LEIA TAMBÉM: Perfil de crianças reinternadas em um ano em UTI Pediátrica brasileira

Referências bibliográficos:

  • DERVAN, L. A. et al. Delirium in a Tertiary PICU: Risk Factors and Outcomes. Pediatr Crit Care Med. 2019.

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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