O Comitê Internacional para o Avanço da Sedação Processual (International Committee for the Advancement of Procedural Sedation – ICAPS) é um fórum internacional, independente e multidisciplinar cujo objetivo é facilitar consensos entre especialistas na área de sedação para procedimentos em pediatria. Recentemente, sua comissão definiu as competências mínimas (isto é, atitudes, conhecimento e habilidades) para todos os profissionais que atuam na sedação processual (SP), tanto médicos quanto odontológicos. Ao ponderar que a SP consiste em uma tarefa complexa, o comitê analisou como explorá-la, focando no ponto sobre a quem essa abordagem pode ser confiada com responsabilidade.
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Metodologia
O painel utilizou a estrutura da Educação Médica Baseada em Competências (Competency-Based Medical Education) para definir a prática de SP como uma tarefa profissional complexa que exige integração demonstrável de competências distintas.
Para cada questão, foram sintetizados os resultados de uma revisão bibliográfica em afirmações preliminares, criando-se um consenso final através do método de revisão Delphi iterativo. Por meio de um consenso multidisciplinar, foi definida a competência em SP identificando um conjunto de aptidões essenciais nos domínios de atitudes, conhecimento e habilidades, abrangendo eficácia da segurança física, segurança psicológica e prática deliberada. Por fim, o painel estruturou uma padronização de treinamento e credenciamento baseada em competências de profissionais de SP.
Resultados
Competências clínicas essenciais em sedação procedural (SP)
Segurança física: evitar danos físicos e minimizar os riscos relacionados à sedação (os itens com asterisco [*] representam competências menos relevantes para profissionais que realizam sedação mínima em pacientes de baixo risco).
Os profissionais devem compreender a avaliação pré-sedação, a avaliação de risco, os impactos do procedimento, a fisiologia das vias aéreas, respiratória e cardiovascular, bem como a farmacologia de sedativos e opioides, incluindo eventos adversos (EA) e a recuperação pós-sedação. Devem ser realizadas avaliações de risco estruturadas, monitorar a ventilação e a estabilidade cardiovascular, gerenciar EA comuns, como agitação, náuseas e vômitos e garantir alta segura. Para sedação mínima em pacientes de baixo risco, a monitorização contínua do ritmo cardíaco, a capnografia, a diferenciação entre apneia central e obstrutiva e técnicas avançadas de manejo das vias aéreas (p. ex., dispositivos supraglóticos, ventilação com bolsa-máscara) são menos relevantes. Vigilância, documentação clara dos resultados e EA, comunicação eficaz da equipe e engajamento nos processos de melhoria da qualidade são essenciais.
Eficácia: sucesso do procedimento, conforto do paciente e eficiência de tempo
Os profissionais devem entender como indicar adequadamente a sedação para procedimento (SP), equilibrando seu uso com os riscos do procedimento, e avaliar como o procedimento e as características do paciente impactam as estratégias de SP, as necessidades da equipe e os recursos. Eles também devem compreender os princípios e a aplicação segura da analgesia para procedimentos dolorosos (tópicos, locais, regionais e sistêmicos). As competências incluem a adaptação das estratégias de sedação (regime medicamentoso, profundidade e duração) ao procedimento e às necessidades do paciente, o reconhecimento da sedação inadequada e o manejo eficaz da dor durante o procedimento. Além disso, os profissionais devem demonstrar comprometimento com planos de sedação individualizados que garantam o sucesso do procedimento, o conforto do paciente e a eficiência do tempo, juntamente com comunicação eficaz da equipe, documentação clara da eficácia da sedação e engajamento na melhoria da qualidade por meio de auditorias que abordem os resultados do procedimento, a experiência do paciente e a eficiência do fluxo de trabalho.
Segurança psicológica: bem-estar emocional e psicológico do paciente
Os profissionais devem compreender a importância da participação do paciente nas decisões médicas e o direito de ser tratado com respeito e de acordo com suas preferências pessoais. Devem identificar medos, ansiedade e expectativas pré-procedimento, reconhecer o valor da presença dos pais ou cuidadores para crianças, indivíduos ansiosos e pacientes com necessidades especiais ou condições psiquiátricas, e estabelecer confiança e comunicação eficaz para moldar expectativas positivas. A conscientização sobre EA de curto e longo prazo (por exemplo, agitação, delirium, náusea, vômito, alterações comportamentais, distúrbios do sono) é essencial. As competências incluem respeitar as necessidades emocionais e psicológicas, construir a confiança do paciente, usar medidas de conforto não farmacológicas (por exemplo, distração, linguagem sugestiva) e manter um ambiente calmo. Os profissionais devem demonstrar comprometimento com o bem-estar emocional e psicológico do paciente, garantir uma comunicação eficaz da equipe, documentar o impacto da sedação no bem-estar e se envolver em iniciativas de melhoria da qualidade focadas em resultados emocionais.
Prática deliberada: melhoria contínua de habilidades para desenvolver e manter competência
Os profissionais devem compreender como a prática repetida melhora o desempenho pessoal, o papel da autoavaliação e do feedback dos colegas na aprendizagem e a importância de se manter atualizado sobre novos medicamentos e técnicas. As competências incluem o uso da prática deliberada como parte da educação médica continuada e o engajamento em educação continuada com desempenho observado e feedback dos colegas (presencial ou simulado). Devem demonstrar comprometimento com a melhoria contínua do desempenho individual e da equipe.
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