CBUEP 2024: FPIES, um dos diagnósticos diferenciais de sepse em pediatria
Entre os dias 25 e 27 de Abril, acontece em Brasília o 4º Congresso Brasileiro de Urgências e Emergências Pediátricas (CBUEP 2024). Na sua quarta edição, o congresso aborda os principais temas de dia a dia do pediatra geral, que atua no pronto-socorro e do emergencista pediátrico. No segundo dia do congresso, durante a mesa-redonda sobre armadilhas na emergência pediátrica, a Dra. Eliza de Carvalho, gastroenterologista pediátrica, ministrou uma aula sobre a Síndrome da Enterocolite Induzida por Proteína Alimentar (FPIES), um possível diagnóstico diferencial de sepse, mas que é ainda pouco conhecida e discutida.
Qual a clínica da FPIES?
A FPIES é uma alergia alimentar não IgE mediada, mas que apresenta um comportamento clínico complexo, com manifestações sistêmicas, como hipotensão, vômitos em grande frequência e quantidade, diarreia, letargia, hipotonia e cianose. Esse quadro clínico não é o que predomina nas alergias alimentares não IgE medida, o que torna o diagnóstico difícil.
FPIES: Epidemiologia
Dr. Eliza apresentou dados de aumento da prevalência de FPIES no mundo, revelando que nos Estados Unidos chega-se a cerca de 0,28% de prevalência. Apesar de parecer pouco expressivo, pelo grande impacto na vida do paciente, esse diagnóstico precisa cada vez mais ser lembrado diante de crianças com o quadro clínico supracitado, sem evidência de infecção e quando há um padrão de repetição do episódio.
Diversos são os gatilhos alimentares com leite de vaca, ovo, peixe, trigo, camarão, arroz, banana, soja e amendoim. Até o momento, não há dados brasileiros, porém, na Austrália, cerca de 45% dos casos têm uma relação de gatilho com o arroz.
O mecanismo fisiopatológico não é bem elucidado e mais estudos são necessários para melhor entendimento. A palestrante ainda trouxe uma compreensão clara sobre os fenótipos potencialmente encontrados dentro do espectro da FPIES, com destaque para os quadros agudos de padrão intermitente, alimentos sólidos e neonatal.
Neste primeiro quadro, os pacientes podem chegar à hipotensão nas primeiras duas horas, sendo a desidratação e choque uma consequência. Já o fenótipo gerado por alimentos sólidos tem um início mais tardio, geralmente durante a introdução da dieta complementar, sendo o arroz um importante gatilho, como dito anteriormente.
Vale ressaltar que 1/3 das crianças com FPIES reagem à leite de vaca e/ou soja. Por fim, o perfil neonatal é caracterizado por vômitos, fezes com sangue, distensão abdominal e diarreia, podendo evoluir com icterícia e falha do crescimento. O diagnóstico diferencial com enterocolite necrosante (ECN) deve ser feito e sabe-se que alguns pacientes da neonatologia, que tiveram diagnóstico de ECN, na verdade, eram FPIES.
Mensagens para casa e aprendizados
- Mais do que uma alergia alimentar, a FPIES é uma síndrome clínica com distintos fenótipos, mas grave;
- Criança na emergência com letargia, desidratação, cianose, choque, acidose pode ser FPIES. Pense além da sepse;
- Para esses pacientes não está recomendado o uso de adrenalina;
- O tratamento se baseia na hidratação endovenosa, eliminação do alérgeno, ondasentrona e corticoide podem ser discutidos em casos selecionados.
Essa aula convida o emergencista e o médico que atua no pronto-socorro a ampliar a sua linha de raciocínio para casos que não se enquadram totalmente no contexto clínico de sepse, apesar da apresentação clínica parecida. FPIES precisa ser considerada para tais pacientes.
Fique ligado nos outros destaques do CBUEP 2024
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