Durante o XXVII Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI 2022), o pediatra intensivista Dr. Thallys Alves (Brasília/DF) abordou tópicos importantes referentes a asma na prática diária das Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) na palestra “Asma aguda grave, asma crítica e quase fatal”.
Asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por hiperresponsividade brônquica, mas com reversibilidade quando um tratamento eficaz é instituído precocemente. Suas manifestações clínicas mais relevantes incluem dispneia, sibilância e tosse, pois a doença é responsável por edema, estreitamento e remodelamento de vias aéreas.
Três termos importantes são usados para definir um quadro de descompensação da asma. Confira abaixo.

Termos importantes
| Definição | Características relevantes |
| Asma aguda grave – estado de mal asmático |
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| Asma crítica |
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| Asma quase fatal |
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A maioria das exacerbações agudas de asma responde de forma satisfatória ao tratamento padrão. No entanto, alguns pacientes necessitam de um suporte mais intensivo. O palestrante comentou sobre a importância de escores para a avaliação da gravidade da asma, como o Score Clínico de Wood-Downes adaptado.
| Variável | 0 | 1 | 2 |
| PaO2 (mmHg) | 70 a 100 em ar ambiente | ≤ 70 em ar ambiente | < 70 com FiO2 40% |
| Cianose | – | + em ar ambiente | + em FiO2 40% |
| Murmúrio vesicular | Normal | Assimétrico | Diminuído ou ausente |
| Uso de musculatura acessória | – | Moderado | Máximo |
| Sibilos expiratórios | – | Moderado | Máximo |
| Consciência | Normal | Deprimido/agitado | Coma |
Indicação para UTIP
As indicações de internação em UTIP são:
- Incapacidade de falar;
- Pulso paradoxal / pulso alternante;
- Alteração de nível de consciência;
- Murmúrio vesicular ausente;
- Acidose ou hipóxia grave;
- Aumento progressivo da pCO2;
- Sinais de fadiga;
- Pontuação no escore de Wood-Downes superior a 5.
Conforme destacado pelo Dr. Thallys, o objetivo do tratamento, conforme as diretrizes GINA (Global Initiative for Asthma) é manter um alvo de saturação de 94% a 95% em crianças com menos de 5 anos de idade e uma saturação de 93 a 95% em pacientes com 5 anos de idade ou mais. Para tanto, o oxigênio deve ser administrado por cânulas nasais ou máscara.
No entanto, no caso de exacerbações graves, a oxigenoterapia controlada de baixo fluxo usando oxímetro está associada a melhores resultados fisiológicos do que a oxigenoterapia de alta concentração (100%) (Evidência B). O palestrante mencionou o fato de que, apesar de promissor, o uso do cateter nasal de alto fluxo em crianças (CNAF) apresenta resultados diversos na literatura, necessitando de um monitoramento cuidadoso para detectar não respondedores e possíveis complicações.
Uso de broncodilatadores
Quanto ao uso de broncodilatadores, o Dr. Thallys relatou que o salbutamol ainda é o principal medicamento de escolha, pois possui alta seletividade para receptores β2. A administração por via inalatória por meio de dispositivos pressurizados e dosimetrados possui nível de evidência A. Pacientes graves podem se beneficiar de nebulização com oxigênio contínuo. Além disso, o uso de β2 intravenoso (IV) não deve ser feito de rotina (evidência A). Ao se prescrever o broncodilatador IV, o inalatório não deve ser suspenso. Por fim, o palestrante destacou a relevância da dose se ataque de salbutamol e que seu uso é indicação de monitorização cardíaca, de eletrólitos e de glicemia.
Administração de corticoides
Com relação ao uso de corticoides, esta classe de medicamentos deve ser administrada na primeira hora de atendimento, por via oral (VO) ou IV, devendo-se aguardar um período de quatro horas para serem observados os resultados. Não existe consenso sobre dose. Em geral, menores de cinco anos se beneficiam de metilprednisolona 1,0 mg/kg/dia de 6h em 6h. Ademais, Dr. Thallys citou um estudo (Doymaz e colaboradores, 2021) que demonstrou que o uso de metilprednisolona IV, hidrocortisona e dexametasona têm eficácia equivalente quando usados nas doses adequadas. No que concerne a corticoides inalatórios, destaca-se o fato de que esses fármacos podem ser administrados na crise, reduzindo as necessidades de internação hospitalar (evidência B). Na crise, no entanto, as doses devem ser mais elevadas.
O brometo de ipratrópio possui maior grau de broncodilatação quando associado a um β2. Recomenda-se que seja utilizado três vezes na primeira hora, não havendo benefícios após a internação. Já o sulfato de magnésio não é recomendado para uso rotineiro. Há controvérsias na literatura. Além disso, não deve ser prescrito para crianças com menos de 2 anos de idade. A partir de 2 anos, a posologia recomendada é 50 mg/kg/dose (dose máxima 2 gramas) em 20 minutos. Dependendo da gravidade, uma dose única de 2 gramas em 20 minutos pode ser administrada para maiores de 5 anos.
Uso do VNI
A ventilação não invasiva (VNI) pode ser bem tolerada. No entanto, alguns estudos não mostraram redução da necessidade de ventilação mecânica invasiva (VMI) em crianças com asma grave. Por fim, Dr. Thallys citou o estudo de Shein e colaboradores (2016) que faz as seguintes considerações:
- Pacientes com insuficiência respiratória progressiva se beneficiam de VMI com uma estratégia que emprega volume corrente robusto e hipercapnia permissiva. Alguns pacientes, para atingir essas metas, podem necessitar do emprego de bloqueadores neuromusculares. O mais indicado é o cisatracúrio, devido a uma redução no risco de miopatia;
- O modo de controle de volume regulado por pressão (pressure regulated volume control mode – PRVC) é sugerido;
- Alguns pacientes que não respondem à VMI convencional podem ser considerados para estratégias menos comuns, como inalação de anestésicos, broncoscopia e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO).
Autoria

Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
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