Com o aumento da sobrevida de neonatos pré-termo, também foi observada elevação da incidência de infecções fúngicas em unidades neonatais, sendo Candida albicans e Candida parapsilosis, os agentes etiológicos predominantes. Micafungina, anfotericina B e fluconazol, por sua vez, são os principais esquemas terapêuticos utilizados.
Desenho do estudo
Neste contexto, um estudo do tipo ensaio clínico controlado randomizado prospectivo buscou comparar a eficácia e segurança da micafungina e da anfotericina B no tratamento de infecções fúngicas invasivas em neonatos prematuros após uso de fluconazol.
Para isso, foram analisados recém-nascidos com idade gestacional menor que 36 semanas, internados em unidade de terapia intensiva em hospitais da Universidade Ain-Shams (no Cairo, Egito) no período de setembro de 2022 a setembro de 2023, com quadro clínico de infecção fúngica invasiva comprovado por cultura e que já tinham feito uso de fluconazol por no mínimo uma semana.
Cinquenta e seis pacientes foram selecionados e posteriormente alocados de forma aleatória em dois grupos. Destes, 28 receberam micafungina na dose de 8 mg/kg/dia e os outros 28 recém-nascidos, receberam anfotericina B na dose de 1 mg/kg/dia, ambos no período de 14 dias. A cultura fúngica foi repetida após o término da terapêutica a fim de avaliar a eficácia das medicações. A cura completa foi caracterizada pela ausência de crescimento fúngico; a cura incompleta, em caso de crescimento de fungo diferente da cultura inicial e a falha de tratamento, nas situações em que os resultados evidenciaram persistência do mesmo microrganismo na cultura final.
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Resultados e discussão
No que concerne aos resultados, o grupo de pacientes que recebeu micafungina apresentou maior percentual de cura completa da infecção fúngica após quatorze dias de tratamento quando comparado ao grupo que fez uso da anfotericina: 64,3% versus 35,7%, respectivamente.
Tal achado foi visto tanto para a candidíase invasiva causada pela Candida albicans como pela não albicans. Dos pacientes que fizeram uso da anfotericina B, apenas 40% tiveram erradicação completa da Candida albicans em detrimento de 65,2% daqueles que fizeram uso da micafungina.
Ademais, aqueles que receberam micafungina necessitaram de suporte ventilatório e circulatório por menos tempo que os neonatos do grupo anfotericina B. Comprometimento da função renal foi visto apenas com o uso desta última, sendo evidenciado pela elevação das escórias nitrogenadas. Hipomagnesemia foi um achado comum nos pacientes em uso de micafungina, mas não foi necessária correção e não foi sintomática.
Em relação ao tempo de internamento, este foi menor no grupo micafungina, mas não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos.
Cabe destacar que a eficácia da micafungina também já foi observada em outro estudo, onde a cultura fúngica negativa chegou a ser obtida em 5,5 dias (com variação de 1-11 dias) de tratamento. Contudo, sabe-se que os resultados de cultura para fungos não são prontamente disponíveis em muitas localidades. Neste sentido, o estudo em análise recomenda o tempo mínimo de 14 dias de tratamento com a micafungina com o objetivo de erradicação do fungo em países com poucos recursos.
Conclusão e mensagem prática
Em conclusão, foi observado que a micafungina foi eficaz e segura para o tratamento de infecção fúngica invasiva em recém-nascidos prematuros. Sabe-se que estes, devido à imaturidade do sistema imunológico e exposição a fatores de risco que predispõem à invasão por patógenos como hospitalização prolongada, são mais suscetíveis a infecções.
Contudo, o quadro clínico da candidíase invasiva pode ser inespecífico, exigindo elevado nível de suspeição ao se considerar a morbimortalidade associada.
Ademais, é importante reforçar estratégias preventivas como higienização das mãos, cuidados com dispositivos e considerar o uso de antifúngicos em doses profiláticas para reduzir o risco de colonização fúngica nos neonatos prematuros.
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