A atresia de via biliar (AVB) é uma doença hepática progressiva da infância que, sem tratamento, leva à falência hepática. A cirurgia de Kasai (HPE) é o tratamento inicial, mas os desfechos variam amplamente. Diversos são os desafios para o manejo da AVB, mas dentre eles se destaca o atraso no diagnóstico e a progressão rápida da doença.
A identificação de biomarcadores prognósticos confiáveis é essencial para prever a evolução da doença e orientar decisões clínicas precoces. Para isso, uma revisão integrativa da literatura sobre biomarcadores prognósticos em AVB, incluindo dados clínicos, laboratoriais, moleculares, histológicos, de imagem e modelos computacionais foi realizada. Com destaque para os seguintes resultados:
Saiba mais: Infecções maternas e vínculo com o desenvolvimento de atresia biliar na prole
Parâmetros clínicos e laboratoriais:
- Idade precoce na HPE (<45 dias) e bilirrubina <2 mg/dL aos 3 meses pós-HPE são preditores de melhor prognóstico.
- GGT e índice de razão AST/Plaquetas (APRI) têm valor prognóstico, mas com limitações que precisam ser consideradas.
Biomarcadores séricos emergentes:
- Ácidos biliares, citocinas inflamatórias (IL-8, IL-18, IL-34) e proteínas de fibrose (MMP-7, COMP, CLU, FGF19, M2BPGi) mostram forte correlação com progressão da doença.
Histologia e expressão gênica:
- Fibrose avançada e proliferação biliar intensa indicam pior prognóstico.
- Assinaturas gênicas multivariadas distinguem subtipos inflamatórios e fibróticos com implicações clínicas.
Imagem e modelos computacionais:
- Elastografia hepática fornece medidas objetivas de rigidez hepática associadas à sobrevida.
- Modelos integrativos (ex: BALF score, modelos com dados clínicos + genômicos + imagem) apresentam alta acurácia preditiva.
Organoides derivados de pacientes:
- Organoides com expressão colangiocítica predominante correlacionam-se com melhor sobrevida hepática nativa.
Conclusão
A incorporação de biomarcadores prognósticos no manejo da atresia biliar representa um avanço significativo rumo à medicina personalizada, sendo essa uma grande tendência para os próximos anos. Evidências atuais indicam que parâmetros laboratoriais como bilirrubina, GGT, APRI e ácidos biliares, aliados a marcadores séricos emergentes como MMP-7, IL-8 e FGF19, podem oferecer informações valiosas sobre a progressão da doença.
Veja também: Estratégias de triagem populacional para atresia de vias biliares no recém-nascido
Técnicas de imagem, especialmente a elastografia hepática, permitem avaliação não invasiva da fibrose e ajudam a prever a necessidade de transplante. Na prática, a adoção gradual desses biomarcadores e ferramentas preditivas pode melhorar a tomada de decisão clínica, permitindo intervenções mais precoces, acompanhamento mais direcionado e melhor seleção de pacientes para transplante hepático ou terapias emergentes. No entanto, para que esses avanços se tornem rotina clínica, são necessários estudos multicêntricos com validação externa e padronização de protocolos.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.