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Pediatria16 setembro 2024

Estratégias de triagem populacional para atresia de vias biliares no recém-nascido

O rastreamento neonatal para atresia biliar pode facilitar um diagnóstico e intervenção mais precoce para melhores desfechos clínicos.
Por Jôbert Neves

O diagnóstico da atresia de vias biliares (AVB) em pediatria ainda é realizado de forma tardia, tendo grandes repercussões para evolução clínica do paciente e com impacto relevante na qualidade de vida do paciente e familiares, além de elevar os custos dos sistemas de saúde. Sendo assim, o rastreamento neonatal para atresia biliar pode facilitar um diagnóstico e intervenção mais precoce para melhores desfechos clínicos. 

atresia de vias biliares em recém nascido

Método  

Para melhor elucidar essa hipótese, Gopal e colaboradores realizou uma revisão sistemática seguida de metanálise sobre a precisão das estratégias de rastreamento populacional para atresia biliar (AVB) em recém-nascidos com até 6 semanas de vida, seguindo as diretrizes PRISMA-DTA, com base em estudos de coorte ou transversais. Os testes de rastreamento realizados incluíram o cartão de cor das fezes (CCF), dosagem de ácidos biliares sulfatados na urina (USBA), ácidos biliares séricos, carnitina livre e a dosagem de bilirrubina direta/conjugada (BD/BC). O diagnóstico foi considerado para os pacientes que foram submetidos a colangiografia intraoperatória e/ou histopatologia antes da cirurgia de Kasai. Estudos que não eram de base populacional e aqueles que não abordavam triagem, foram excluídos.  

Resultados 

Foram identificados cerca de  8.926 registros em pesquisas de banco de dados, resultando na inclusão apenas de 15 estudos, dos quais 7 avaliaram o CCF, 5 analisaram o rastreamento com BD/BC e 1 sobre USBA,  outro sobre ácidos biliares séricos e mais um sobre carnitina livre. A maioria dos estudos foi realizada na Ásia, onde a incidência de AVB é mais alta. 

Evidências fortes sugerem que a BD/BC após o nascimento tem uma sensibilidade de 100% (IC 95% 100,100) e especificidade de 98,8% (98,8, 98,9) (5 estudos, 662.141 participantes). Evidências moderadas sugerem que o rastreamento CCF aos um mês de idade teve sensibilidade de 79,6% (IC 95% 70,6, 86,4) e especificidade de 99,9% (IC 95% 99,9, 99,9) (7 estudos, 996.262 participantes). 

Já os testes de rastreamento avaliados apenas em um estudo cada,  relataram as seguintes sensibilidades e especificidades: o USBA teve uma sensibilidade de 100% (IC 95%, 0,03–1,0) e uma especificidade de 96% (IC 95%, 0,95–0,97); os ácidos biliares séricos tiveram uma sensibilidade de 64% (IC 95%, 0,31–0,89) e uma especificidade de 99% (IC 95%, 0,99–0,99) e carnitina livre teve uma sensibilidade de 86% (0,42–1,00) e uma especificidade de 85% (0,85–0,85).  

Conclusão e mensagem prática  

O rastreamento com BD/BC é altamente sensível e específico para detecção de AVB, além de ser facilmente implementado nas maternidades ou consultórios pediátricos. O CCF tem alta especificidade, porém  a sua sensibilidade é moderada. Mas uma vantagem é que ambos são minimamente invasivos. A variável temporal de realização dos testes varia entre os estudos, com BD/BC e ácidos biliares realizados próximas ao nascimento, já o CCF é feito nas primeiras semanas de vida.  

Os resultados deste estudo corroboram a prática clínica hoje realizada no Brasil, que é o rastreio com base na dosagem de BD para crianças com icterícia com característica patológica  e/ou acolia fecal. Além disso, o CCF está presente em toda a caderneta da criança, sendo uma potente ferramenta para orientação às famílias e alerta para o diagnóstico precoce da AVB. 

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Referências bibliográficas

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