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Pediatria21 junho 2025

Avaliação da aptidão física em crianças com Doença Inflamatória Intestinal 

Estudo avaliou a aptidão física em pacientes com Doença Inflamatória Intestinal Pediátrica e o papel dos fatores contribuintes
Por Jôbert Neves

A Doença Inflamatória Intestinal Pediátrica (DIIp), incluindo Doença de Crohn (DC), Retocolite Ulcerativa (RCU) e formas não classificadas (DIIU), é uma condição crônica com início geralmente na infância ou adolescência. Além dos sintomas gastrointestinais, evidências emergentes indicam que a aptidão física pode estar comprometida mesmo na ausência de atividade inflamatória evidente. A aptidão física é um indicador importante de saúde geral e capacidade funcional, com implicações sobre qualidade de vida, risco cardiovascular e prognóstico clínico, especialmente nos pacientes pediátricos.  

Neste contexto, um estudo investigou a aptidão cardiorrespiratória e neuromuscular em crianças e adolescentes com DII, comparando-os com controles saudáveis pareados por idade e sexo. Foi feito um estudo transversal realizado com 73 pacientes pediátricos com DII (31 com DC e 42 com RCU ou DIIU), recrutados de dois centros terciários na Finlândia. Eles foram comparados com 74 controles saudáveis 

Avaliações realizadas

  • Aptidão cardiorrespiratória (CRF): por teste ergométrico com análise de gases respiratórios.
  • Aptidão neuromuscular: por testes de força, agilidade e resistência.
  • Atividade física (AF): autorrelatada, por horas diárias.
  • Parâmetros clínicos e laboratoriais: incluindo índices de atividade (PUCAI, PCDAI –  escores de atividade das doenças), uso de biológicos, IMC, hemoglobina, PCR e calprotectina fecal.  

Dentre os resultados encontrados, temos os seguintes destaques

1. Aptidão cardiorrespiratória

Pacientes com DIIp apresentaram: 

  • VO₂pico/kg: 38,3 mL/kg/min, inferior ao dos controles (46,9 mL/kg/min, p < 0,001)
  • Wmax/kg: 3,01 W/kg vs. 3,29 W/kg nos controles (p = 0,007)
  • Diferenças mais acentuadas foram observadas no grupo com RCU.  

2. Aptidão neuromuscular

Em comparação aos controles, os pacientes com DIIp apresentaram: 

  • Menor força de preensão manual (145 vs. 162 kPa; p = 0,001)
  • Menor desempenho em abdominais (15 vs. 19 repetições), salto em distância (155 vs. 169 cm), e corrida de vai-e-vem (22,9 vs. 21,4 s) — todos com p < 0,01
  • Meninas com DII foram mais afetadas que os meninos em termos de força muscular
  • Equilíbrio foi preservado entre os grupos  

3. Atividade física

  • Pacientes relataram menor AF diária (1,7 h/dia) em relação aos controles (2,2 h/dia; p = 0,013)
  • Diferença mais expressiva em meninos com DIIp  

4. Fatores associados à aptidão

  • Negativamente associados à CRF:
    • IMC elevado (β = −0,48, p < 0,001)
    • Sexo feminino (β = −0,28, p = 0,007)
  • Positivamente associados:
    • Uso de medicamentos biológicos (β = +0,22, p = 0,025)
  • Inflamação sistêmica ou atividade clínica da doença (PCR, calprotectina, PGA) não se correlacionaram com CRF

Tabela 1. Entenda as variáveis de Aptidão Física  

Categoria Variável Descrição 
Aptidão cardiorrespiratória VO₂pico/kg (mL/kg/min) Consumo máximo de oxigênio. Reflete resistência aeróbica. 
 Wmax/kg (W/kg) Carga máxima por kg de peso. Indica esforço físico máximo suportado. 
Aptidão neuromuscular Preensão manual (kPa) Força muscular de membros superiores. 
 Abdominais (30s) Resistência da musculatura abdominal. 
 Salto em distância (cm) Potência dos membros inferiores. 
 Corrida de vai-e-vem (s) Agilidade e velocidade. 
 Equilíbrio Estabilidade postural; não apresentou diferenças significativas no estudo. 

Avaliação da aptidão física em crianças com Doença Inflamatória Intestinal 

Imagem de Pexels

Discussão e conclusão: aptidão física em crianças com Doença Inflamatória Intestinal   

Este estudo fornece forte evidência de que crianças com DIIp, mesmo em remissão clínica, apresentam desempenho físico inferior aos seus pares saudáveis. Isso se aplica tanto à resistência aeróbica quanto à força e coordenação muscular. O fato de marcadores inflamatórios não se correlacionarem com aptidão física sugere que outros fatores, como composição corporal e inatividade prolongada, podem desempenhar papel relevante. Além disso, um ponto importante é o uso de terapias biológicas que foi associado positivamente ao desempenho físico, sugerindo que um melhor controle da doença pode permitir maior preservação da função muscular e cardiovascular. 

Sendo assim, crianças com DII têm aptidão física comprometida, independentemente da atividade inflamatória clínica. Fatores como excesso de peso e sexo feminino foram associados a pior desempenho, enquanto o uso de biológicos foi protetor. A avaliação da aptidão física deve ser incorporada ao seguimento multidisciplinar desses pacientes, com estímulo à atividade física supervisionada desde os primeiros anos de diagnóstico.

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Referências bibliográficas

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