A suplementação de alguns compostos, como vitamina D e ferro, é indicada pela Sociedade Brasileira de Pediatria na primeira infância de forma rotineira para prevenção de doenças como raquitismo e anemia. No entanto, outras suplementações são indicadas pelos pediatras. Entre elas, a suplementação de ácido fólico e vitamina B12. A suplementação de ácido fólico também é realizada rotineiramente em gestantes, de forma a prevenir malformações neurológicas nos fetos.
O ácido fólico e a vitamina B12 são essenciais para o desenvolvimento do sistema nervoso central, e suas deficiências podem ser prejudiciais para a cognição de crianças. Em países com altas taxas de desnutrição, a carência dessas vitaminas podem resultar em comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor.
Suplementação de ácido fólico e vitamina B12
Estudos têm demonstrado o valor da suplementação do ácido fólico e da vitamina B12 no desenvolvimento motor grosseiro em lactentes jovens. Pouco se sabe, no entanto, sobre o valor da reposição desses elementos durante essa fase e as repercussões sobre o desenvolvimento neurológico de crianças maiores.
Um estudo publicado na Pediatrics em março de 2020 explora essa questão. O trabalho foi realizado por pesquisadores noruegueses em crianças indianas, e tem caráter de trial randomizado e duplo-cego.
O estudo foi inicialmente conduzido entre janeiro de 2010 e setembro de 2011, com um total de mil crianças alocadas em algum dos seguintes grupos: placebo, suplementação com ácido fólico, suplementação com vitamina B12 e suplementação com vitamina B12 e ácido fólico. Essa suplementação foi realizada por seis meses enquanto as crianças tinham idades entre seis e 30 meses.
Em setembro de 2016, foram realizadas avaliações do desenvolvimento cognitivo dessas crianças (no total de 791 crianças, devido a perdas), já com idades entre 6 e 9 anos, para determinação de diferenças entre os grupos. Além da avaliação neuropsicológica, os participantes também tiveram dosagem sérica da cobalamina, folato e homocisteína.
Achados
Os pesquisadores não encontraram diferenças estatisticamente significativas no desenvolvimento cognitivo entre os participantes dos grupos com ou sem suplementação da vitamina B12 e/ou do ácido fólico. Embora os pesquisadores tenham encontrado inicialmente uma associação entre baixos níveis de folato e cobalamina séricas e altos níveis de homocisteína com atraso da cognição. Contudo, essa associação se desfez quando ajustados os fatores de confundimento, como fatores socioeconômicos, oportunidades de estímulos e aprendizagem e crescimento da criança.
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Sendo assim, embora exista um benefício de curto prazo no desenvolvimento neurológico de crianças com suplementação de vitamina B12 e ácido fólico, esse benefício não é visto a longo prazo. Melhoras nos biomarcadores relacionados à carência dessas vitaminas também não se traduz em benefícios no neurodesenvolvimento a longo prazo.
Conclusão
Com esses resultados, os pesquisadores questionam a eficácia de medidas públicas para fomentar a suplementação dessas vitaminas na primeira infância para melhora da cognição tardiamente. Esses efeitos, porém, não anulam os benefícios da suplementação desses compostos durante a gestação para a neurogênese dos embriões.
Como medidas de saúde pública visando o neurodesenvolvimento tardio e o funcionamento cognitivo, o investimento na melhora dos níveis socieconômicos e no estímulo e aprendizado das crianças parece ser mais eficaz do que a suplementação desses compostos.
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Referências bibliográficas:
- Kvestad I, Taneja S, Upadhyay RP, et al. Vitamin B12, Folate, and Cognition in 6- to 9-Year-Olds: A Randomized Controlled Trial. Pediatrics. 2020;145(3):e20192316
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