As lesões da raiz posterior dos meniscos estão cada vez mais no radar dos ortopedistas. E não é para menos: elas comprometem diretamente a biomecânica do joelho, podendo acelerar o desgaste articular e levar precocemente à artroplastia total do joelho (ATJ). Mas diante das opções de tratamento – reparo, meniscectomia parcial ou manejo conservador –, qual realmente oferece os melhores resultados?
Uma revisão sistemática recente trouxe evidências valiosas para essa discussão. Com base na análise de 56 estudos e mais de 3.000 pacientes, o estudo comparou diferentes estratégias de manejo dessas lesões, avaliando a radiológica da osteoartrite e os desfechos clínicos relatados pelos pacientes.
O que os números dizem?
Os resultados indicaram que o reparo da raiz meniscal teve um comportamento melhor do que o das outras abordagens. Pacientes submetidos ao reparo apresentaram menor perda de espaço articular, menor extrusão meniscal e menor taxa de progressão para ATJ. Enquanto a meniscectomia foi associada a um estreitamento do espaço articular de até 2,4 mm e a uma taxa de conversão para ATJ de 35% a 60%, os pacientes que realizaram o reparo tiveram uma perda articular muito menor (0,9 mm no máximo) e uma taxa de conversão bem mais baixa (0% a 22%).
O tratamento não cirúrgico, embora menos agressivo, também não apresentou um prognóstico animador. Cerca de 31% dos pacientes tratados conservadoramente precisaram de uma ATJ em média 30 meses após o diagnóstico da lesão.
Saiba mais: Reparo da raiz posterior vs. reparo de outras lesões do menisco medial
Mais do que exames complementares, como os pacientes se sentem?
Além das evidências radiológicas, o estudo avaliou a percepção dos pacientes sobre dor, função e qualidade de vida. Os escores do International Knee Documentation Committee (IKDC) e do Lysholm, por exemplo, apresentaram melhorias mais expressivas no grupo de reparo em comparação com os demais. Pacientes submetidos ao reparo também relataram melhores resultados nos subescores de dor, atividades esportivas e qualidade de vida do Knee Injury and Osteoarthritis Outcome Score (KOOS).
Esses achados reforçam a importância de priorizar o reparo sempre que possível, especialmente em pacientes mais jovens e com bom potencial de cicatrização.
A decisão é sempre tão simples?
O sucesso do reparo depende de fatores como a idade do paciente, qualidade do tecido meniscal e presença de comorbidades articulares. Além disso, a literatura ainda apresenta certa heterogeneidade nos estudos, tornando fundamental a individualização da conduta.
Por outro lado, a meniscectomia parcial pode ser uma opção para pacientes com lesões irreparáveis ou em estágios avançados de osteoartrite. Já o tratamento conservador pode ser considerado para aqueles com pouca demanda funcional ou que apresentam contraindicações cirúrgicas.
O que essa revisão muda na prática clínica?
Este estudo reforça o que muitos especialistas já suspeitavam: preservar a raiz meniscal deve ser prioridade. A reabilitação também tem um papel essencial nesse cenário, garantindo que o reparo cicatrize adequadamente e que o paciente recupere sua função articular.
O caminho para um consenso absoluto sobre o melhor tratamento das lesões da raiz ainda pode ser longo, mas uma coisa é certa: entender a importância dessas lesões e tratá-las corretamente pode ser a chave para evitar a osteoartrite precoce do joelho.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.