As fraturas do olécrano representam cerca de 10 a 18% das fraturas do antebraço e o tratamento instituído geralmente é o cirúrgico. A técnica mais antiga é a banda de tensão utilizando fios de Kirschner e cerclagem sendo de baixo custo e efetiva, porém com maior risco de complicações como irritação pelo implante, afrouxamento do fio e aumento das taxas de intervenções cirúrgicas secundárias. O uso de placas surgiu como uma alternativa com maior estabilidade biomecânica (apesar do maior risco de rigidez) e o uso de haste intramedular por ser uma técnica minimamente invasiva.
Com os avanços contínuos nas técnicas de fixação de fraturas, novas estratégias surgiram para o manejo de fraturas do olécrano. Essas estratégias incluem fixação com banda de tensão com fios de sutura, haste intramedular com bloqueio cruzado e fixação com âncora, cada uma projetada para mitigar as complicações tradicionais, mantendo a estabilização adequada da fratura.
Diante disso, foi publicado no “Journal of Orthopaedic Surgery and Research” um estudo com o objetivo de fornecer evidências definitivas comparando técnicas de fixação modernas com as tradicionais bandas de tensão para fraturas do olécrano.
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Metodologia
Foram pesquisadas as bases de dados Pubmed/MEDLINE, Embase, Cochrane e Web of Science entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2025 sendo incluídos pacientes adultos com fraturas agudas de olecrano classificadas como Mayo tipo 2. Os estudos deveriam ser ensaios clínicos randomizados ou coorte com seguimento mínimo de 6 meses comparando pelo menos duas das seguintes técnicas: banda de tensão tradicional, fixação com placa, parafuso intramedular com fio de cerclagem (Cable-Pin), haste de bloqueio cruzado e banda de tensão com fios de sutura.
Os desfechos primários estudados foram o Mayo Elbow Performance Score (MEPS), DASH (Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand) score, arco de movimento com 6 semanas, 3 meses, 6 meses e 1 ano de pós-operatório e tempo de consolidação. Os desfechos secundários estudados foram falha ou migração do implante, infecção e taxa de reoperação.
Resultados
Nove estudos envolvendo 472 pacientes preencheram os critérios de inclusão. Técnicas modernas de fixação demonstraram resultados funcionais superiores em comparação com a banda de tensão tradicional, com o Sistema Cable-pin apresentando pontuações MEPS significativamente maiores (diferença média = 13,03 pontos; IC de 95% [10,89, 15,17]; p < 0,001). O Sistema Cable-pin pareceu alcançar o tempo de cicatrização mais rápido (8,90 semanas; IC de 95% [7,53, 10,27]), significativamente menor do que o tradicional (12,60 semanas; IC de 95% [12,08, 13,12]).
Técnicas modernas pareceram apresentar taxas de complicações substancialmente menores (RR = 0,11; IC de 95% [0,00, 0,34]; p < 0,001), particularmente em complicações relacionadas ao implante. A análise temporal indicou que a redução de risco com técnicas modernas aumenta progressivamente durante o acompanhamento, com sobrevida livre de complicações relacionadas ao implante em 24 meses de 94,2% para o Sistema Cable-pin versus 58,4% para o tradicional. A idade do paciente surgiu como um preditor significativo de complicações pós-operatórias, com cada ano adicional aumentando o risco de complicações em 1,19%.
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Mensagem prática
O artigo conclui que técnicas modernas de fixação podem oferecer resultados funcionais superiores, cicatrização mais rápida e menos complicações do que a fixação tradicional com banda de tensão para fraturas do olécrano. Entretanto, vale lembrar que em muitos momentos na nossa prática não possuímos tais materiais disponíveis, além do custo para realização da banda de tensão tradicional ser baixíssimo em relação aos materiais mais modernos.
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