A epidemia de Covid-19 afeta a forma de funcionamento das unidades hospitalares. Apesar dos riscos associados, procedimentos cirúrgicos para tratamento de lesões traumáticas, infecções e condições tumorais não podem ser evitadas.
Um artigo científico descreve o protocolo instituído em um centro de tratamento em Portugal na cidade do Porto.
Cirurgias durante Covid-19
Na instituição em questão existe mais de um complexo cirúrgico. Um dos complexos foi separado para cirurgias de pacientes infectados, neste caso a unidade conta com três salas cirúrgicas, cada qual com uma ante sala que normalmente é utilizada para indução anestésica e com uma porta da sala cirúrgica para um corredor externo que é utilizado como área suja para transporte de lixo, material cirúrgico ou biológico. Neste protocolo a antessala é usada como sala de lavagem e o corredor como saída após as cirurgias.
Se disponível o uso de sistema de pressão negativa na sala de cirurgia está indicado. Caso não seja possível adotar o fluxo de ar com pressão negativa, o uso de sistemas portáteis de filtração do ar com capacidade de executar trocas de ar de alta frequência pode ajudar a reduzir a carga viral na sala de cirurgia.
Para esse cenário o protocolo divide a área em cinco zonas:
- Vestiário: local no qual a paramentação incluindo os EPI são vestidos.
- Antessala: local no qual a escovação e paramentação cirúrgica é realizada
- Sala cirúrgica: sala reservada para pacientes com Covid-19 nessa unidade cirúrgica separada das demais
- Corredor de saída: local no qual a equipe cirúrgica sai da sala e remove os equipamentos de paramentação e proteção
- Vestiário de saída: local no qual a equipe toma banho antes de sair da unidade.
Todo o setor deve ser sinalizado como sendo destinado a pacientes infectados com Covid-19 e apenas pessoas indispensáveis devem frequentar a unidade nas situações necessárias.
Zonas
Na zona 1 o profissional que entrará na unidade veste roupa cirúrgica descartável, avental impermeável, bota ou sapatos cirúrgicos, bota impermeável ou propé, e realiza lavagem das mãos com água e clorexidina. Em sequência deve-se posicionar e ajustar o respirador N95 ou PFF2, depois óculos de proteção ou face shield e em sequência o capuz cirúrgico.
Na zona 2 o profissional se paramentará de maneira diferente em caso de procedimentos estéreis ou não. Primeiramente o profissional veste capotes e colar de chumbo para proteção radiológica se indicada. Adiciona-se máscara com viseira (neste caso dispensando os face shields que a instituição não possui) e toca cirúrgica por cima do capuz. No caso de procedimentos estéreis o cirurgião/instrumentador realiza degermação das mãos, veste luva cirúrgica, capote estéril, outra luva cirúrgica e protetores de mangas. Em caso de procedimentos não estéreis o profissional veste capotes e luva não estéril além dos aparatos descritos anteriormente.
O profissional entra na zona 3 (sala cirúrgica) com o paciente já anestesiado e realiza o procedimento minimizando o uso de dispositivos que dispersem agentes contaminantes como serras, perfuradores e os regulando em parâmetros menos agressivos, também devem ser aspiradas secreções/fumaça do eletrocautério.
Leia também: Covid-19 e prática cirúrgica: como um paciente manifesta a doença no pós-operatório?
Ainda na zona 3 o cirurgião deve remover o segundo (ou terceiro, ao usar) par de luvas, os protetores de manga e o capote e desinfetar o primeiro par de luvas com álcool antes de remover a máscara cirúrgica com o escudo e a touca de cabelo. Finalmente, o cirurgião deve remover o primeiro par de luvas e desinfetar as mãos com álcool e sair da sala vestindo o mesmo EPI básico usado para entrar na zona 2.
A equipe sai da sala através de uma porta que se conecta a uma sala de saída (Zona 4) na qual estarão cestas de lixo com designações apropriadas, para que o EPI possa ser removido sequencialmente. A remoção de EPI é realizada em 4 etapas:
- O vestuário de chumbo e o capote impermeável o avental são removidos e as mãos desinfectadas
- O capuz é removido e as mãos são novamente desinfetadas;
- Os óculos de proteção são removidos, seguidos pelas proteções dos sapatos e as mãos são desinfetadas;
- Por último o respirados PFF2 ou N95 é removido e as mãos são novamente desinfetadas antes de sair para a Zona 5
A zona 5 consiste em um vestiário limpo com chuveiros nos quais os funcionários devem remover a roupa cirúrgica e tomar banho.
Resultado esperado
Com o uso deste protocolo é esperada maior proteção e menor chance de transmissão da infecção para os profissionais de saúde que devem executar os procedimentos cirúrgicos em questão.
Referências bibliográficas:
- APA Rodrigues-Pinto, Ricardo MD, PhD, FEBOT1,2,a; Sousa, Ricardo MD, PhD1,2; Oliveira, António MD, PhD1,2 Preparing to Perform Trauma and Orthopaedic Surgery on Patients with Covid-19, The Journal of Bone and Joint Surgery: April 10, 2020 – Volume Latest Articles – Issue – doi: 10.2106/JBJS.20.00454
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