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Ortopedia16 maio 2025

Bloqueio do canal dos adutores faz diferença antes ou depois da ATJ?

Estudo comparou os efeitos do BCA realizado antes versus depois da artroplastia total de joelho (ATJ), avaliando dor, estresse fisiológico e recuperação funcional
Por Rafael Erthal

A artroplastia total do joelho (ATJ) é um dos procedimentos ortopédicos mais realizados no mundo e tem um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Entretanto, o controle da dor no pós-operatório ainda representa um grande desafio.  

Nesse contexto, a anestesia incluindo o bloqueio do canal dos adutores (BCA) tem sido amplamente estudada como uma alternativa eficaz para analgesia regional, reduzindo a necessidade de opioides e promovendo uma recuperação mais confortável para os pacientes. Mas será que o momento da aplicação desse bloqueio faz diferença nos desfechos clínicos? 

Um estudo recente do comparou os efeitos do BCA realizado antes versus depois da ATJ, avaliando dor, estresse fisiológico e recuperação funcional. Trata-se de um ensaio clínico randomizado incluindo uma amostra de 100 participantes.  

Leia mais: Reabilitação pré-cirurgia de artroplastia total de joelho é eficaz para melhorar resultados pós-operatórios?

ATJ

Métodos 

Os pesquisadores dividiram os pacientes em dois grupos: um recebendo o bloqueio pré-operatório 30 minutos antes da cirurgia e o outro no pós-operatório. Todos os pacientes receberam infiltração periarticular durante a cirurgia e anestesia geral. 

O estudo comparou o consumo pós-operatório de morfina como analgesia de resgate. Também foram avaliados outros fatores, como o tempo até a primeira dose adicional de analgésico ou alta hospitalar, estresse cirúrgico, dor pós-operatória, recuperação funcional, incidência de dor crônica e possíveis complicações.  

Resultados 

Os resultados mostraram que os pacientes que receberam o bloqueio antes da cirurgia relataram menos dor nas primeiras 24 horas pós-operatórias. Isso sugere que o BCA pré-operatório pode ter um efeito preventivo, reduzindo a sensibilização da dor e melhorando o conforto do paciente logo nas primeiras horas após a cirurgia. 

Além disso, o estudo avaliou marcadores fisiológicos de estresse, como níveis de cortisol e frequência cardíaca. O grupo que recebeu o bloqueio pré-operatório apresentou níveis mais baixos de estresse em comparação ao grupo que recebeu o bloqueio apenas após a cirurgia. Essa redução no estresse fisiológico pode contribuir para uma recuperação mais tranquila, com menor ativação da resposta inflamatória e menor impacto sobre o sistema cardiovascular. 

Já na avaliação funcional, ambos os grupos apresentaram recuperação semelhante em médio e longo prazo, mas o grupo que recebeu o bloqueio antes da cirurgia teve uma mobilização inicial mais precoce. Isso pode ser um fator importante para reduzir complicações associadas à imobilidade, como trombose venosa profunda e rigidez articular. 

Esses achados reforçam a importância da abordagem multimodal para analgesia na ATJ e indicam que o momento da aplicação do BCA pode influenciar o conforto inicial do paciente e sua resposta ao estresse cirúrgico. Para os cirurgiões ortopédicos e anestesiologistas, essa informação pode ajudar a otimizar protocolos de analgesia, garantindo não apenas menos dor, mas também uma recuperação mais tranquila e segura.  

Veja também: Há diferença nos resultados das artroplastias de joelho com e sem torniquete?

O que podemos levar para casa? 

Apesar dos benefícios observados, é fundamental considerar fatores individuais de cada paciente, como comorbidades e tolerância à dor, na escolha do melhor momento para realizar o bloqueio. Outro ponto a se destacar é que nesse estudo todos os pacientes receberam anestesia geral e esses resultados podem não se aplicar àqueles submetidos à anestesia espinhal.  

Estudos futuros poderão aprofundar ainda mais essa discussão, explorando variações na dosagem e associação com outras técnicas analgésicas. 

O BCA pré-operatório se mostrou uma estratégia promissora para melhorar o conforto e reduzir o estresse dos pacientes submetidos à ATJ. Esta estratégia resultou em um menor consumo de opioides durante a internação, redução das respostas ao estresse intraoperatório e pós-operatório, melhor controle da dor no período hospitalar e menor incidência de dor crônica após 3 meses da cirurgia. Com mais pesquisas e a incorporação desses achados na prática clínica, podemos caminhar para um cenário de recuperação pós-operatória cada vez mais eficiente. 

 

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Referências bibliográficas

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