A artroplastia total do joelho (ATJ) é um dos procedimentos ortopédicos mais realizados no mundo e tem um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Entretanto, o controle da dor no pós-operatório ainda representa um grande desafio.
Nesse contexto, a anestesia incluindo o bloqueio do canal dos adutores (BCA) tem sido amplamente estudada como uma alternativa eficaz para analgesia regional, reduzindo a necessidade de opioides e promovendo uma recuperação mais confortável para os pacientes. Mas será que o momento da aplicação desse bloqueio faz diferença nos desfechos clínicos?
Um estudo recente do comparou os efeitos do BCA realizado antes versus depois da ATJ, avaliando dor, estresse fisiológico e recuperação funcional. Trata-se de um ensaio clínico randomizado incluindo uma amostra de 100 participantes.
Métodos
Os pesquisadores dividiram os pacientes em dois grupos: um recebendo o bloqueio pré-operatório 30 minutos antes da cirurgia e o outro no pós-operatório. Todos os pacientes receberam infiltração periarticular durante a cirurgia e anestesia geral.
O estudo comparou o consumo pós-operatório de morfina como analgesia de resgate. Também foram avaliados outros fatores, como o tempo até a primeira dose adicional de analgésico ou alta hospitalar, estresse cirúrgico, dor pós-operatória, recuperação funcional, incidência de dor crônica e possíveis complicações.
Resultados
Os resultados mostraram que os pacientes que receberam o bloqueio antes da cirurgia relataram menos dor nas primeiras 24 horas pós-operatórias. Isso sugere que o BCA pré-operatório pode ter um efeito preventivo, reduzindo a sensibilização da dor e melhorando o conforto do paciente logo nas primeiras horas após a cirurgia.
Além disso, o estudo avaliou marcadores fisiológicos de estresse, como níveis de cortisol e frequência cardíaca. O grupo que recebeu o bloqueio pré-operatório apresentou níveis mais baixos de estresse em comparação ao grupo que recebeu o bloqueio apenas após a cirurgia. Essa redução no estresse fisiológico pode contribuir para uma recuperação mais tranquila, com menor ativação da resposta inflamatória e menor impacto sobre o sistema cardiovascular.
Já na avaliação funcional, ambos os grupos apresentaram recuperação semelhante em médio e longo prazo, mas o grupo que recebeu o bloqueio antes da cirurgia teve uma mobilização inicial mais precoce. Isso pode ser um fator importante para reduzir complicações associadas à imobilidade, como trombose venosa profunda e rigidez articular.
Esses achados reforçam a importância da abordagem multimodal para analgesia na ATJ e indicam que o momento da aplicação do BCA pode influenciar o conforto inicial do paciente e sua resposta ao estresse cirúrgico. Para os cirurgiões ortopédicos e anestesiologistas, essa informação pode ajudar a otimizar protocolos de analgesia, garantindo não apenas menos dor, mas também uma recuperação mais tranquila e segura.
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O que podemos levar para casa?
Apesar dos benefícios observados, é fundamental considerar fatores individuais de cada paciente, como comorbidades e tolerância à dor, na escolha do melhor momento para realizar o bloqueio. Outro ponto a se destacar é que nesse estudo todos os pacientes receberam anestesia geral e esses resultados podem não se aplicar àqueles submetidos à anestesia espinhal.
Estudos futuros poderão aprofundar ainda mais essa discussão, explorando variações na dosagem e associação com outras técnicas analgésicas.
O BCA pré-operatório se mostrou uma estratégia promissora para melhorar o conforto e reduzir o estresse dos pacientes submetidos à ATJ. Esta estratégia resultou em um menor consumo de opioides durante a internação, redução das respostas ao estresse intraoperatório e pós-operatório, melhor controle da dor no período hospitalar e menor incidência de dor crônica após 3 meses da cirurgia. Com mais pesquisas e a incorporação desses achados na prática clínica, podemos caminhar para um cenário de recuperação pós-operatória cada vez mais eficiente.
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