Para a realização da artroplastia total de joelho (ATJ), geralmente o torniquete é utilizado com o objetivo de melhorar a visualização do campo cirúrgico contribuindo para melhora da cimentação e redução do tempo operatório. Entretanto, o uso do dispositivo também está associado a algumas complicações como aumento de edema pós-operatório, fraqueza do quadríceps, dor e redução do arco de movimento.
Apesar de tradicionalmente se acreditar que há uma menor perda sanguínea com o uso de torniquete na ATJ, estudos recentes sugerem que o uso do manguito pneumático pode gerar uma perda sanguínea igual ou até maior que nas cirurgias realizadas sem a isquemia. Diante disso, foi publicado recentemente no “Journal of Orthopaedic Surgery and Research” um estudo com o objetivo de examinar as evidências clínicas que apoiam a tendência de realizar ATJ sem o uso de torniquete.
O estudo
O estudo foi um ensaio clínico randomizado controlado, duplo-cego realizado em um hospital norueguês entre junho de 2019 e setembro de 2020. Foram incluídos pacientes com osteoartrite de joelho candidatos à ATJ e excluídos pacientes menores de 18 anos, com coagulopatia, artrite reumatoide, doença vascular periférica, malignidade, infecção em andamento, gonartrose contralateral que precisa de tratamento e incapacidade de entender informações verbais e escritas em norueguês.
Os pacientes foram randomizados 1:1 nos grupos com e sem torniquete e o desfecho primário avaliado foi o Forgotten Joint Score (FJS-12) oito semanas após a cirurgia. Os desfechos secundários foram repetição máxima (1RM) de leg press, 1RM de extensão de joelho, amplitude de movimento ativo (AROM), teste de subida de escada (SCT), escala numérica de classificação de dor (NPRS), volume de perda de sangue, queda de hemoglobina (Hb), circunferência do joelho, equivalentes de miligrama de morfina (MME) e duração da internação hospitalar (LOS). As avaliações para os resultados secundários foram realizadas pré-operatórios, no dia um e em oito semanas e um ano pós-operatório.
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Resultados
Nenhuma diferença significativa nas pontuações FJS-12 foi encontrada entre os dois grupos com oito semanas de pós-operatório. No entanto, o grupo do torniquete mostrou força de extensão do joelho estatisticamente significativa melhor em oito semanas (p = 0,045). Não houve diferenças em outros resultados, exceto por uma maior diminuição nos níveis de hemoglobina (p = 0,02) e maior perda sanguínea perioperatória estimada (p < 0,001) no grupo sem torniquete do que no grupo com torniquete.
Conclusões
O estudo sugeriu que o uso de torniquete durante ATJ não causa diferenças significativas no FJS-12 em oito semanas, reduz significativamente o sangramento e a perda de Hb pós-operatória e melhora a força do quadríceps em oito semanas.
Na prática, talvez a principal diferença para o cirurgião seja a possibilidade de manter um campo mais limpo e com maior visibilidade com o uso do torniquete, além de reduzir o tempo cirúrgico.
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