A artroplastia total de quadril (ATQ) é reconhecida como uma das cirurgias ortopédicas mais eficazes, devolvendo mobilidade e qualidade de vida a milhões de pacientes. No entanto, como qualquer procedimento invasivo, ela não está isenta de riscos, sendo o sangramento uma das principais preocupações. Felizmente, avanços como o uso rotineiro do ácido tranexâmico (ATX) transformaram a forma como lidamos com essas complicações.
Apesar de as transfusões de sangue serem menos comuns hoje em dia, ainda existem pacientes que precisam delas, especialmente aqueles com hemoglobina (Hb) pré-operatória baixa ou fatores de risco específicos. Mas será que ainda é necessário realizar exames de tipagem e prova cruzada em todos os casos? Um estudo recente trouxe respostas valiosas sobre este questionamento.
Metodologia e Resultados
O estudo analisou 6.405 pacientes submetidos a ATQ primária entre 2014 e 2023. Com o uso de ATX, as taxas gerais de transfusão foram surpreendentemente baixas: apenas 3,4% dos pacientes precisaram de transfusões, sendo 1,0% no intraoperatório e 2,7% no pós-operatório.
No entanto, o risco de transfusão variou drasticamente com base nos níveis de Hb. Pacientes com Hb pré-operatória acima de 12 g/dL raramente precisaram de transfusão (1,7%), enquanto aqueles com níveis entre 11 e 12 g/dL apresentaram um risco moderado (14,3%), e aqueles com Hb abaixo de 11 g/dL tiveram um risco alarmante de 27,5%.
Além da Hb, outros fatores influenciaram o risco de transfusão. Idade avançada, sexo feminino, maior tempo cirúrgico e classificação ASA > II foram associados a uma maior probabilidade de transfusão. Mulheres, por exemplo, tendem a ter níveis de Hb naturalmente mais baixos, o que as torna mais vulneráveis à anemia pós-operatória.
Curiosamente, o índice de massa corporal (IMC) teve uma relação bimodal com o risco de transfusão: IMCs entre 30 e 34,9 pareciam oferecer uma proteção relativa, enquanto IMCs acima de 35 estavam associados a um aumento no risco.
Veja também: Influência da dominância manual do cirurgião na artroplastia total do quadril
Com taxas tão baixas de transfusão em pacientes com Hgb acima de 12 g/dL, o estudo questiona a necessidade de exames universais de tipagem e prova cruzada para ATQ. Para pacientes com Hb acima desse limiar, esses exames podem ser dispensáveis, reduzindo custos e inconvenientes para o paciente.
Por outro lado, em pacientes com Hg abaixo de 11 g/dL, o benefício de otimizar a anemia antes da cirurgia é evidente. Caso isso não seja possível, a realização de tipagem e prova cruzada pré-operatórios continua sendo altamente recomendada.
Para níveis entre 11 e 12 g/dL, a decisão é mais complexa e deve considerar fatores individuais como idade, sexo, classificação ASA e tempo cirúrgico estimado. Para cirurgias que excedam 120 minutos, mesmo pacientes com riscos moderados podem se beneficiar de exames adicionais.
Perspectivas futuras
Este estudo reforça a importância de um manejo personalizado e baseado em evidências. À medida que avançamos em técnicas cirúrgicas e protocolos de gestão de sangue, a prática médica se torna mais eficiente e centrada no paciente.
Com isso, a mensagem é clara: nem todos os pacientes precisam de exames universais de tipagem e prova cruzada. Identificar aqueles que realmente se beneficiam é a chave para um cuidado mais seguro, econômico e eficaz.
Exclusividade médicaPrescreva medicação aos seus pacientes de forma gratuita e ilimitada
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.