Logotipo Afya
Anúncio
Oncologia15 dezembro 2025

ETER100: Estudo avalia terapia de primeira linha com benmelstobart + anlotinibe

Estudo ETER100 avalia benmelstobart + anlotinibe na 1ª linha do CCR avançado e mostra ganho expressivo de SLP. Confira!

O tratamento do carcinoma de células renais avançado (CCR) mudou muito na última década, com combinações de imunoterapia e inibidores de tirosina-quinase (TKIs) substituindo o antigo padrão com sunitinibe isolado. Ainda assim, nem todo paciente responde, e toxicidade, custo e acesso seguem como desafios. Por isso, comparar novas duplas de imunoterapia-TKI com um comparador de referência segue sendo relevante para orientar políticas públicas e a prática na ponta. O estudo ETER100 avaliou uma combinação pouco explorada fora da China, o anticorpo anti-PD-L1 benmelstobart somado ao TKI multialvo anlotinibe, contra sunitinibe em primeira linha de CCR avançado. A pergunta clínica é simples e muito prática: essa dupla controla melhor a doença, sem piorar a segurança, a ponto de disputar espaço com esquemas já consolidados? 

Veja também: Eventos cardíacos e vasculares com EGFR-TKI no câncer de pulmão

benmelstobart anlotinibe câncer renal

Desenho metodológico 

O ETER100 é um ensaio multicêntrico, randomizado, aberto, fase 3, com alocação 1:1 entre a combinação benmelstobart + anlotinibe e sunitinibe. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada por comitê independente e cego (BIRC), um critério robusto para reduzir viés de um desenho aberto. Entre os secundários, destacaram-se SLP analisada pelo investigador, sobrevida global (SG) e taxa de resposta objetiva (TRO) por BIRC e por investigador. A escolha de SLP por BIRC como primário é coerente com o padrão atual em CCR, pois capta benefício clínico de controle tumoral com menor influência de cruzamentos e terapias subsequentes. O regime experimental empregou benmelstobart 1200 mg IV no dia 1 a cada 3 semanas mais anlotinibe 12 mg VO por 14 dias em ciclos de 21 dias; o controle recebeu sunitinibe 50 mg/dia no esquema 4/2 em ciclos de 6 semanas. O corte de análise intermediária ocorreu com mediana de seguimento de 22,8 meses. 

População envolvida 

Foram incluídos adultos (18-80 anos) com CCR avançado de subtipo de células claras, sem tratamento sistêmico prévio para doença avançada, em centros chineses. No total, 264 pacientes receberam benmelstobart + anlotinibe e 263 receberam sunitinibe. O perfil basal foi equilibrado: idade mediana 60 vs 59 anos, maioria sexo masculino (77% vs 75%), ECOG 1 (73% vs 74%) e risco IMDC intermediário (71% vs 72%). CPS de PD-L1 < 1 foi predominante (73% vs 72%), e metástases pulmonares eram frequentes (63% vs 61%). Esse retrato lembra o paciente padrão do dia a dia: doença sintomática, risco IMDC intermediário e necessidade de um regime com boa taxa de resposta inicial. 

Dois pontos de interpretação: 1) a coorte é exclusivamente chinesa, o que pede cautela ao extrapolar para populações diversas; 2) a proporção elevada de CPS < 1 permite testar a combinação mesmo em tumores com baixa expressão de PD-L1, cenário comum na rotina 

Resultados  

  • Eficácia.Na análise por intenção de tratar com avaliação por BIRC, a SLP mediana foi de 19,0 meses com a combinação e 9,8 meses com sunitinibe, HR 0,53 (IC95% 0,42-0,67; p < 0,0001). Em análise per-protocol, a SLP mediana foi 19,0vs 11,0 meses, HR 0,55 (IC95% 0,43-0,70), confirmando consistência. As curvas de Kaplan-Meier mostraram SLP em 12 meses de 65% vs 44% e, em análise pós-hoc, SLP em 24 meses de 42% vs 26%, sempre favorecendo a dupla. A TRO por BIRC também foi superior: 72% (IC95% 66-77) com benmelstobart + anlotinibe versus 25% (20-31) com sunitinibe; a duração de resposta mediana foi 17,9 vs 16,3 meses. Em resumo, a combinação responde mais e sustenta a resposta por mais tempo. A SG estava imatura no corte, com 24% vs 30% de óbitos, a maioria por progressão, não permitindo ainda concluir impacto definitivo em mortalidade. Subgrupos de risco IMDC intermediário/pobre e CPS < 1 tenderam a favorecer a combinação. 
  • Segurança e manejo de toxicidade.O perfil foi o esperado para TKI + imuno: hipertensão mais comum na combinação (34%vs 21%), enquanto trombocitopenia (23%), neutropenia (16%), leucopenia (11%) e anemia (9%) foram mais frequentes com sunitinibe. Houve 3 óbitos relacionados ao tratamento no braço da combinação (parada cardiorrespiratória, insuficiência renal e causa indeterminada). Quanto à qualidade de vida, o índice específico de rim (FACT-Kidney Cancer Symptom Index-15) sugeriu resultados mais favoráveis com a dupla ao longo do tempo. Em termos práticos, a intensidade global de eventos graves foi semelhante, com diferenças no tipo da toxicidade: mais pressão alta e ajustes de dose do TKI no braço experimental versus mais citopenias no controle. 
  • Exposição ao tratamento.A duração mediana foi maior com a combinação: 20 ciclos parabenmelstobart e 20 ciclos para anlotinibe, contra 6 ciclos de sunitinibe; o tempo até a primeira interrupção/redução foi de 19-20 semanas com a dupla e 7 semanas com sunitinibe, um sinal indireto de maior sustentação do tratamento quando a doença é mais bem controlada. 

Considerações clínicas e implicações para a prática 

 1) Eficácia convincente em SLP e TRO. Benmelstobart + anlotinibe prolongou SLP (mediana 19,0 vs 9,8 meses; HR 0,53) e triplicou a TRO (72% vs 25%) versus sunitinibe. Para a prática, isso significa maior probabilidade de controle sintomático e manutenção da terapia por mais tempo, dois ganhos muito valorizados no consultório. A SG ainda é imatura; portanto, é cedo para falar em benefício definitivo de sobrevida. 

2) Segurança manejável, com toxicidades distintass. A taxa de eventos graves foi parecida entre os braços, mas a hipertensão ocorreu mais no braço experimental, enquanto citopenias pesaram mais com sunitinibe. Na vida real, é crucial monitorar PA de perto e ajustar o TKI precocemente para preservar adesão e qualidade de vida. 

3) Quem mais se beneficia? Os subgrupos sugerem vantagem mesmo em IMDC intermediário/pobre e CPS < 1, perfis comuns no dia a dia. Ou seja, não parece ser uma combinação restrita a tumores com alta expressão de PD-L1. 

4) Limitações que importam na tomada de decisão. É um estudo aberto, exclusivamente chinês, comparando com sunitinibe, que é um controle válido, mas abaixo do que muitos de nós já usamos como padrão em vários países (duplas de imunoterapia-TKI aprovadas). A generalização para outras populações e sistemas de saúde deve considerar diferenças étnicas, de acesso e de preço. Além disso, sem SG madura, a hierarquia final entre opções de primeira linha segue em construção. 

5) Onde a combinação pode caber hoje? Se benmelstobart e anlotinibe estiverem disponíveis e com preço competitivo, a dupla entra no radar como alternativa de alto controle tumoral na primeira linha do CCR de células claras. Em locais onde não há acesso a duplas já consagrados, os dados do ETER100 dão suporte clínico para a adoção. Onde já há várias opções, a decisão deve pesar na experiência do serviço, perfil de toxicidade preferido, comorbidades (ex.: hipertensão difícil), e logística de monitorização. 

Em resumo: benmelstobart + anlotinibe entrega ganho robusto de SLP e TRO sobre sunitinibe, com toxicidades já conhecidas e com qualidade de vida aparentemente melhor. É uma combinação clinicamente atraente para controle rápido e sustentado do CCR avançado, com a ressalva de aguardarmos dados maduros de SG e avaliarmos aplicabilidade local (acesso e custo). Para quem atende pacientes com grande carga tumoral e precisa de resposta cedo, esses resultados são bastante persuasivos. 

Autoria

Foto de Gabriel Madeira Werberich

Gabriel Madeira Werberich

Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2009). Residência de Clínica Médica pela UERJ/Hospital Universitário Pedro Ernesto(HUPE)/Policlínica Piquet Carneiro(PPC). Residência Medica em Oncologia Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Fellowship (R4) de Oncologia Clínica no Hospital Sírio Libanês (2016). Concluiu a residência médica de Radiologia e Diagnóstico por Imagem no HUCFF-UFRJ e R4 de Radiologia do Centro de Imagem do Copa Dor, com ênfase em Ressonância Magnética de Medicina Interna, e mestrado em Medicina na UFRJ concluído em 2023. Tem experiência na área de Clínica Médica, Oncologia Clínica e Diagnóstico por Imagem em Tórax, Medicina Interna e Radiologia Oncologica. Pos-Graduação em curso de Inteligencia Artificial aplicada a Saúde.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Oncologia