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Oftalmologia6 agosto 2025

Terapia com agulha de pressão em glaucoma com PIO controlada - efeitos e segurança

O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo que leva a degeneração progressiva das células ganglionares da retina (CGR) e do nervo óptico. O foco do tratamento do glaucoma é a proteção ao nervo óptico via controle da pressão intraocular (PIO).  

Alteração do fluxo sanguíneo ocular é uma causa potencial para a deterioração do campo visual em pacientes com glaucoma. Com isso, opções terapêuticas que visem à melhora do fluxo sanguíneo ocular têm ganhado atenção crescente. Nesse sentido, a acupuntura pode otimizar o fluxo sanguíneo ocular, melhorar o fluxo na artéria central retiniana e proteger o nervo óptico.  

A acupuntura com agulha de pressão é um tipo de acupuntura que tem uma duração mais longa e é um procedimento mais simples, com menos dor. A terapia com agulha de pressão tem sido amplamente utilizada no tratamento do glaucoma com pressão intraocular controlada (GPIC), contudo é escasso o número de trabalhos científicos adequados e robustos que permitam a popularização dessa prática.  

Dessa forma, foi publicado um protocolo de ensaio randomizado na JMIR Research Protocols em 2025 que busca observar a eficácia clínica e melhora da função visual da terapia com agulhas de pressão em pacientes com GPIC.  

Leia mais: Glaucoma em Foco: Pressão intraocular e taxa de progressão funcional e estrutural

Métodos

Objetivos 

Observar a eficácia clínica da terapia com agulhas de pressão em pacientes com GPIC e investigar se essa terapia melhora a função visual desses pacientes.  

Desenho do estudo 

Trata-se de um ensaio clínico, multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo (sham), realizado em três hospitais da China. O protocolo do ensaio foi aprovado pelos comitês de ética locais.  

Participantes 

Serão recrutados 192 participantes com idades entre 18 e 75 anos. Os critérios de inclusão são: 

  • Diagnóstico de glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) com PIO controlada (abaixo de 18mmHg por, pelo menos, 3 meses após cirurgia antiglaucomatosa); 
  • Acuidade visual com melhor correção (BCVA) melhor ou igual a 0,3; 
  • Apresentar padrão de síndrome da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) de “deficiência renal e estase sanguínea”; 
  • Não ter utilizado agentes neuroprotetores (com exceção da metilcobalamina) nos últimos 2 meses.  

Os critérios de exclusão são: 

  • Outras doenças que afetem o campo visual (como Degeneração macular relacionada à idade ou retinopatia diabética); 
  • Outros tipos de glaucoma; 
  • Gravidez ou lactação; 
  • Doenças sistêmicas graves não controladas. 

Randomização e cegamento 

De acordo com o defeito perimétrico, os participantes serão estratificados com base na gravidade do glaucoma (inicial, moderado, avançado). Para cada estrato, haverá randomização na proporção 1:1 (grupo experimental vs. grupo controle). A alocação será feita de forma sigilosa via envelopes selados e os participantes, avaliadores e estatísticos permanecerão cegos à alocação dos grupos.  

Intervenções 

  • Grupo experimental: Receberá a terapia com agulhas de pressão estéreis e descartáveis que serão aplicadas em acupontos específicos ao redor dos olhos e em outras partes do corpo. As agulhas permanecerão no local por 2 dias e os participantes serão instruídos a pressioná-las de 3 a 4 vezes ao dia para estimular a sensação de deqi (peso, dormência, dor). O tratamento durará 4 semanas.  
  • Grupo controle: Receberá um tratamento placebo (sham) semelhante em aparência e procedimento, porém o dispositivo não penetra a pele.  

Desfechos  

Serão mensurados antes do tratamento e após 4 semanas do tratamento: 

Desfechos primários: 

  • Função visual: BVCA, parâmetros da campimetria (MD – Mean Deviation, PSD – Pattern Standard Deviation); 
  • Anatomia e vascularização retiniana (OCTa): Densidade de vasos em toda imagem (wiVD) na região peripapilar (RPCVD), na mácula superficial (smVD), e espessura da camada de fibras nervosas da retina (pRNFL) e do complexo de células ganglionares da mácula (mGCC).  
  • Circulação retrobulbar: Velocidade de fluxo sanguíneo na artéria oftálmica (OA), artéria central da retina (CRA) e artérias ciliares curtas posteriores (SPCA).  

Desfechos secundários: 

  • PIO; 
  • Escala de pontuação de sintomas da MTC (Ex: olho seco, visão turva, etc.).  

Segurança 

Serão monitorados e acompanhados todos possíveis afeitos adversos (infecção, dor severa, hematoma) e realizados exames de sangue (função hepática e renal), urina e fezes antes do tratamento e após 4 semanas da intervenção.  

Resultados

O artigo em questão é um protocolo de estudo e descreve como a pesquisa será e está sendo conduzida, portanto, ainda não possui os resultados clínicos finais. O recrutamento iniciou em fevereiro de 2023 e, até 2024, 220 participantes haviam sido recrutados. A análise final dos dados e os resultados estão previstos para setembro/outubro de 2025.  

Discussão 

O estudo ressalta a acupuntura como possível terapia na proteção do nervo óptico ao otimizar o fluxo sanguíneo ocular. A terapia com agulhas de pressão é evidenciada como alternativa mais prática e com maior potencial de adesão pelo paciente em relação à acupuntura tradicional. Será o primeiro estudo a fazer a análise da circulação sanguínea como via de ação da terapia com agulhas de pressão no GPIC com robustez metodológica.  

Limitações

O protocolo de estudo elenca algumas limitações durante sua aplicação como a dificuldade de eliminar o viés de gênero durante a fase de randomização e a necessidade de um tamanho maior da amostra para otimizar a confiabilidade dos dados. 

Veja também: Metanálise sobre associação entre glaucoma e risco de doença de Alzheimer

Mensagem prática

 Esse protocolo de pesquisa é de grande valia para a prática oftalmológica visto que aborda uma condição que intriga muitos oftalmologistas: o paciente com glaucoma de pressão intraocular controlada e que continua a piorar nos exames funcionais (como a campimetria). Nesse sentido, tem-se investigado terapias neuroprotetoras que possam intervir nesse processo. Com isso, a terapia com agulhas de pressão pode se tornar parte do arsenal terapêutico nesses casos ao otimizar a circulação sanguínea ocular e, possivelmente, desacelerar a progressão do dano glaucomatoso.  

É importante, contudo, frisar que esse trabalho é, por hora, um protocolo de ensaio clínico e ainda não apresenta os seus resultados.  Logo, sugere-se acompanhar os desfechos do trabalho previstos para setembro/outubro de 2025.   

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Referências bibliográficas

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