Quais os impactos na saúde de populações expostas a múltiplos desastres naturais?
São necessários esforços em conjunto para adequar a atenção à saúde a populações expostas a múltiplos desastres naturais.
Para abordar o tema de desastres naturais e efeitos na saúde, hoje vamos revisitar uma publicação de 2022 da The Lancet, em que pesquisadores realizaram uma revisão de escopo com 150 estudos.
Os estudos abordaram populações expostas a furacões, como o Katrina, nos EUA; terremotos, como no Haiti; deslizamentos, como em comunidades no Rio de Janeiro; e outros, como os ataques de 11 de setembro de 2001, também nos EUA.
Foram, então, analisados os impactos diretos (relacionados à saúde) e indiretos (relacionados a questões sociais) na população com esse tipo de exposição, bem como as recomendações para seu enfrentamento. Os impactos diretos na saúde pública causados por múltiplos desastres são os relacionados a: saúde mental; saúde física; bem-estar e resiliência. Focaremos aqui nos dois primeiros.
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Saúde mental durante desastres naturais
Numerosos artigos observaram altas taxas de transtornos psiquiátricos nessas comunidades, como reação aguda ao estresse, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, transtorno do pânico, e aumento do risco de suicídio. Alguns estudos demonstraram um maior risco de desenvolver esse tipo de transtorno entre aqueles expostos a mais de um desastre natural, quando comparado àqueles expostos a apenas um.
Não houve evidências de que a experiência de ter passado por um primeiro desastre natural “prepare melhor” o indivíduo para passar pelo próximo; pelo contrário: os impactos parecem ser maiores no segundo. Também aumentam as chances de retorno de sintomas de TEPT experimentados durante um episódio de desastre anterior.
Como recomendações diante de pacientes expostos a múltiplos desastres, o estudo aponta: pesquisar história de outros desastres em pacientes vítimas atuais, bem como de TEPT; prover ativamente e fortalecer serviços de saúde mental em comunidades expostas a múltiplos desastres; e pesquisar transtornos mentais comuns, uso de álcool, tabaco e drogas, transtorno obsessivo compulsivo e avaliar risco de suicídio.
Saúde física da população atingida
De acordo com a revisão, estudos apontam que a cada nova exposição a desastres, a população parece passar a ter mais risco de desenvolver doenças como asma, diabetes, obesidade e hipertensão arterial e a ter uma pior autopercepção de saúde. O “efeito cumulativo”, em que sintomas físicos decorrentes de um segundo desastre são piores do que do primeiro, chamou a atenção em alguns estudos — embora não em todos —, assim como no caso da saúde mental.
Por sua vez, a própria saúde mental aparece como possível propiciadora de sintomas físicos, com o aumento de fraturas relacionado a TEPT e à insônia, por exemplo. Também foi percebida uma piora dos sintomas físicos entre aqueles que deixam seu local de moradia, quando comparados àqueles que permanecem. Nesse sentido, é essencial que os médicos estejam cientes desses maiores riscos de desenvolver doenças apresentados por essa população. É importante pesquisar a possibilidade de o paciente ter experimentado episódios prévios de desastres naturais.
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São necessários esforços em conjunto, entre profissionais de saúde, poder público e comunidade, para adequar a atenção à saúde e os serviços de atendimento a populações expostas a múltiplos desastres naturais. É essencial lembrar que os indivíduos com as piores condições socioeconômicas são aqueles que mais necessitarão de apoio e devem ser a prioridade em um sistema de saúde baseado na equidade.
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