A miopia é um erro refracional que aumenta, junto ao alongamento axial do globo ocular, geralmente até o período da idade escolar. A maioria dos adultos jovens apresenta estabilidade da miopia aos 18 anos. No entanto, uma minoria continua a progredir além desta idade.
Há relatos da taxa de progressão da miopia cerca de 0,50 D por ano em crianças dos EUA durante a pré-adolescência e adolescência. Há duas décadas, estudos relataram que o alongamento axial e a progressão da miopia podem ser reduzidos através de tratamento farmacológico ou óptico juntamente a mudanças comportamentais (maior exposições a áreas livres e menor uso de telas). O entendimento dos pacientes com maior chance de progressão pode direcionar as estratégias de controle da progressão da miopia.
Portanto, com o objetivo de identificar fatores associados à maior progressão da miopia e alongamento axial, ao longo de 30 meses, um estudo randomizado com crianças de 5 a 13 anos diagnosticadas com miopia leve a moderada submetidas ao tratamento com colírio de atropina a 0,01% ou placebo por 24 meses foi realizado.
Métodos
Os participantes foram tratados por 24 meses e seguidos com uma avaliação final no trigésimo mês após a randomização entre tratados com colírio de atropina 0,01% e não tratados.
Resultados
175 crianças completaram os 30 meses de acompanhamento. A interpretação dos resultados foi dividida em menores ou maiores de 10 anos de idade e miopia menor ou maior que 2,75 D de equivalente esférico (EE). Nos mais jovens e naqueles com EE maior a porcentagem de participantes que progrediram 0,50 D por ano ou mais (ou seja, ≥1,25 D ao longo de 30 meses) foi significativamente maior. Porém, ao comparar os grupos de tratados e placebo não houve diferença significativa na progressão.
Discussão
Na coorte estudada, o que mais influenciou o aumento da progressão da miopia em EE e no alongamento axial foi a idade mais jovem e a miopia mais alta. Outros estudos similares, como o COMET, taxas de progressão mais lentas foram identificadas em crianças afro-americanas (que mais comumente têm íris escuras) e taxas mais rápidas nos asiático-americanos (que também mais comumente têm íris escuras), o que sugere que a cor da íris tem menos influência na progressão da miopia do que a etnia, resultados que não foram observados no presente estudo.
Além disso, ter um ou ambos os pais com miopia não foi associado à progressão em comparação com não ter pais míopes. O pequeno número de crianças sem histórico familiar de miopia pode ter afetado a análise, já que outros estudos como o COMET revelaram associação positiva entre progressão da miopia e história familiar em um ou ambos os pais. Também não foi observado diferença de progressão entre os gêneros. Estudos mostram que o histórico do aumento da miopia não prevê progressões futuras e, portanto, não pode ser usado como único fator para a indicação de tratamento.
Saiba mais: Conscientização da miopia: O que sabemos sobre prevalências de miopia no Brasil?
Mensagem prática
Para concluir, o presente estudo demonstra a importância de identificar qual é a população alvo, sendo os mais jovens e com EE míopes altos candidatos, para a indicação correta dos tratamentos propostos para reduzir a progressão da miopia.
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