Após três anos de pandemia, os indivíduos acometidos pelo SARS-CoV-2 tem reportado desde então uma persistência ou surgimento de sintomas novos após o contexto agudo infeccioso. A partir disso, o termo “síndrome pós-covid-19” tem sido cunhado para representar esses sintomas e sinais que persistem ou surgem semanas ou até meses após a infecção.
Como a covid-19 é doença relativamente recente, as perspectivas de longo prazo das manifestações após essa condição pertencem a um território ainda indefinido. Nesse cenário, diversos estudos de seguimento de sobreviventes dessa infecção têm sido publicados com objetivo de trazer informações aos médicos e aos pacientes sobre o prognóstico da síndrome pós-covid-19.
Neste ano, a Lancet Regional Health-Europe publicou um estudo de coorte prospectiva do grupo LinCoS na Suécia em que analisou sintomas relacionados à síndrome pós-covid-19 dois anos após a infecção aguda do SARS-CoV-2.
Publicação inicial do grupo LinCoS após infecção aguda
Na literatura, já havia sido publicado estudo com mesma coorte na E Clinical Medicine em 2021, mas a avaliação desta época era em contexto após quatro meses da infecção aguda pelo SARS-CoV-2. Nesse estudo inicial, foram coletados, entre março e maio de 2020, casos confirmados de covid-19 admitidos em rede hospitalar ou registrados em cuidados de saúde domiciliar.
Foram recrutados 734 participantes, em que 149 foram excluídos e 125 progrediram a óbito. Entre os 460 sobreviventes após quatro meses da infecção aguda, 433 foram submetidos a entrevista telefônica estruturada.
Nessa publicação, foi demonstrado que 40% da amostra, isto é, 185 participantes, apresentaram limitações em atividades de vida diária e necessitaram de reabilitação multiprofissional.
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Métodos
O estudo publicado na Lancet Regional Health demonstrou desfechos após dois anos na mesma coorte do grupo LinCoS.
Os 185 participantes que apresentaram efeitos significativos de atividades diárias de vida após quatro meses de follow-up foram considerados elegíveis para esse novo estudo. Dessa amostra, quatro evoluíram a óbito nesse interim e 165, dos 181 sobreviventes, aceitaram participar dessa nova pesquisa.
Sendo assim, 165 participantes foram submetidos à entrevista estruturada telefônica, idêntica àquela realizada após quatro meses. A entrevista telefônica era composta por sete domínios acerca das atividades diárias: sintomas visuais, sintomas sensitivo-motores, sintomas cognitivos, sintomas comportamentais, disfagia, anormalidades na fala ou na linguagem, fadiga e outros.
Resultados
Um total de 84.2% (139/165) da amostra reportou pelo menos um sintoma residual com impacto moderado nas atividades diárias de vida após dois anos da fase aguda da infecção.
Sintomas como fadiga em quatro membros, dificuldade em manter-se fisicamente ativo, necessidade de aumento de sono, fadiga mental e dificuldade para manejo profissional apresentaram melhora significativa na funcionalidade dos participantes após dois anos, considerando ainda os subgrupos com histórico ou não de internação em terapia intensiva.
Comparando com a entrevista realizada no período após quatro meses de follow up, houve melhora significativa nos domínios sensitivo-motores, sintomas comportamentais e fadiga mental nesse estudo. Por outro lado, sintomas como fadiga, queixas cognitivas, sintomas sensitivo-motores foram os domínios que apresentaram maior persistência e impacto na funcionalidade após dois anos.
Considerações
De acordo com os autores, esse foi o primeiro estudo prospectivo com avaliação de desfechos após dois anos em pacientes com síndrome pós-covid-19 previamente hospitalizados em país europeu.
Um dado interessante é que, se considerarmos a coorte inicial, de 460 sobreviventes por covid-19, pelo menos 30% (139/460) experimentam persistência dos sintomas com impacto nas atividades diárias de vida após dois anos.
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Conclusão e mensagem prática
Em estudo europeu, foi observado que houve persistência de sintomas de síndrome pós-covid-19 após dois anos em pacientes que haviam sido hospitalizados. Nessa avaliação, importante destacar que os sintomas cognitivos, sintomas sensitivo-motores e fadiga apresentaram impacto moderado na funcionalidade desses indivíduos.
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